Estudo feito pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) com as informações dos alunos que fizeram Enade, revela que apesar de formarem 50,7% da população brasileira, os autodeclarados negros ainda são minoria entre os formados no ensino superior.
Mesmo depois da política de cotas, apenas 6,13% dos estudantes que estão concluindo seus cursos se auto-declaram pretos ou pardos. Os números são ainda menores em carreiras como medicina, no qual o percentual é de 2,66%.
Em 2010, somente 16.418 estudantes concluintes que prestaram o Enade se declararam negros, de um total de 267.823 universitários. No ano de 2009, foram 35.958 alunos concluintes negros entre 663.943 estudantes que prestaram o exame.
A pequena presença de estudantes negros no ensino superior é o resultado de diferentes gargalos, que vão da exclusão material, passam pela baixa qualidade do ensino público e chegam à autoexclusão.
O percentual de estudantes negros que terminam o ensino médio é muito aquém do índice de brancos. A exclusão vem muito antes do ensino superior", comenta o antropólogo Jocélio Teles, professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
Para ele, não pode ser também descartado o processo de introjeção da exclusão que leva o aluno a não ver a universidade como uma trilha possível para ele. "Chega ao ponto de possíveis estudantes nem se inscreverem no vestibular", pontua.
Segundo Teles, um estudo feito nos anos 2000 mostrava que a maioria dos estudantes de cursos prestigiados, como medicina ou odontologia, em universidades públicas tinham pais com ensino superior incompleto ou completo.
Desempenho
Quando analisado o desempenho dos estudantes no exame nacional, os estudantes negros têm nota 1,7% menor do que os alunos não negros. "O desempenho é muito próximo, mostrando que eles superam as dificuldades que tiveram no ensino básico com muita dedicação", considera Luiz Cláudio.
De acordo com o presidente do Inep, a diferença entre alunos negros e não negros é maior na educação básica, mas tem diminuído. "Isso se explica por uma série de razões. Há uma grande correlação entre alunos negros e escola pública. Às vezes a educação é de baixa qualidade, existe a defasagem idade série, muitas vezes esse estudante tem que trabalhar e estudar", lista o presidente do Inep.
No caso das universidades públicas que adotam cotas, o antropólogo Jocélio Teles salienta que é preciso um trabalho paralelo da instituição para que o estudante possa superar completamente as diferenças em relação a alunos de boas escolas particulares.
O que as universidades precisam pensar, e parece que poucas pensaram, é o que se chamou de permanência dos estudantes. É preciso que eles tenham cursos de línguas, que haja programa de monitoria e de tutoria para esses estudantes", afirma Teles.
Para o antropólogo, a Lei de Cotas não resolve o problema de acesso dos negros no ensino superior, apenas democratiza o ingresso em universidades públicas. "Ainda estamos falando de selecionar uma pequena parte dos estudantes que têm condições de ingressar na universidade. Há muito mais alunos na escola pública do que essas vagas disponíveis."
Vamos entrar nesse debate? O que você pensa sobre a política de cotas? É a favor ou contra? Queremos saber a sua opinião! Vamos dialogar?!
Comments
Alunos negros são apenas 6,13% entre os formandos no ensino supe
Gostei deste artigo enviado pela senhorita Camila por me identificar com ele. Como graduando da maior Universidade Pública de Belo Horizonte sinto pessoalmente a grande dificuldade que é conseguir entrar, permanecer e conseguir sair da Universidade aprendendo ao máximo os conteúdos do curso. Para entrar nesta Universidade foi necessário um Pre-Vestibular porque só com o conteúdo do ensino médio da escola pública seria quase impossível. Após entrar foi inevitável ter que procurar as assistências estudantis ali existentes.Há também o desafio do tempo extenso para se concluir o curso, cerca de 4 anos e meio, o que pode fazer com que quem ainda não tentou prefira estudar para concurso público para conseguir um resultado mais imediato. E, como o curso superior ja não é mais garantia de sucesso como antigamente, muitos negros desanimam e preferem tentar melhorar de vida de outras maneiras , como poupar, montar um comércio ou fazer um curso técnico de menor duração.