Para não fechar as portas, escola estadual no Pará vende garrafas PET

 Luiz Guilherme FernandesA falta de investimento do governo estadual do Pará obrigou a Escola Estadual de Ensino Médio Álvaro Adolfo da Silveira, no município de Santarém, a vender garrafas PET para não fechar as portas para os 5262 alunos matriculados.

A Escola Álvaro Adolfo surgiu em 1962 e hoje se apresenta como uma das mais tradicionais de Santarém. Localizada no centro da cidade, é uma das principais opções dos estudantes que não têm uma condição financeira favorável e querem ter uma boa formação no ensino médio. A instituição tem cerca de 2126 alunos matriculados no ensino regular e atende mais 43 comunidades com o ensino modular.

A escola se divide em três prédios principais cada um com sete salas, são os chamados “pavilhões”. A falta de conservação dos prédios é percebida de longe. A pintura está desgastada e rachaduras pelos corredores e salas evidenciam as infiltrações que são freqüentes em época de chuva. Segundo os alunos, as goteiras no interior das salas atrapalham a aula. Luiz Guilherme Fernandes   Outro problema apontado pela administração da escola é a rede elétrica que está danificada, que junto com as infiltrações recorrentes tornam alta a possibilidade de um curto circuito na instalação.   De acordo com a diretora da escola, a professora Joana Cunha Bernardo, a última verba que chegou para a instituição foi em setembro de 2008.   “Eu não tenho lâmpada para colocar na escola, porque até hoje não entrou dinheiro. Nós arrecadamos verba com a venda de garrafas PET e investimos no necessário, como na compra de ventiladores para as salas de aula, pois o calor é insuportável”, diz a diretora.   A região Norte do país se caracteriza pelas altas temperaturas. Nesta época do ano os termômetros dificilmente estão abaixo dos 35 graus. O calor é tanto que as aulas de Educação Física são realizadas no turno da manhã, quando o sol está mais baixo. Porém, é no interior das salas de aula onde os estudantes e professores mais sofrem. O calor na classe fez com que os alunos a apelidassem de “inferninho”. A situação é pior no pavilhão dois, que por estar localizado entre dois prédios possui menor circulação de ar. Luiz Guilherme Fernandes   No mês de agosto, na tentativa de chamar a atenção do poder público para a necessidade de reformas urgentes na escola, as aulas do turno da manhã e da tarde do segundo pavilhão foram ministradas embaixo das mangueiras que ficam no pátio. O episódio foi organizado por professores como protesto a falta de climatização no interior das salas. A escola foi notícia em rede nacional e chamou a atenção de alguns órgãos públicos.   O Ministério Público já visitou a escola e constatou as inúmeras infiltrações, danos na rede elétrica e a necessidade de climatizar as salas. Uma ação já foi proferida para que ocorra a reforma. No entanto, até agora nada ainda foi feito para melhorar as condições das aulas.   Para o estudante Jonatha Joseph Pereira da Solidade, 18 anos, o descaso do governo é o que mais o incomoda.    Luiz Guilherme Fernandes“É humilhante para nós esta situação de termos que assistir aula embaixo da mangueira para conseguirmos chamar a atenção de alguma autoridade.”   Falta de técnicos educacionais   Segundo a diretora, outro problema é a necessidade de orientadores educacionais, pedagógicos e supervisores. No turno da noite a escola não possui nenhum técnico educacional para acompanhar o andamento da instituição. Joana ressalta que desde o início do ano a escola aguarda que a Secretaria de Educação encaminhe um professor de Matemática, duas turmas estão sem aula da disciplina desde o primeiro semestre.   A diretora reconhece a dificuldade da Secretaria de Educação em administrar escolas em um estado do tamanho do Pará, porém não concorda com a negligência do órgão.   “Em 2001 ganhamos uma licitação de 100 mil para cobrir a nossa quadra, construir auditório e climatizar a sala de aula. Até hoje a Seduc não nos repassou este dinheiro,” reivindica a diretora.    A equipe do EMdiálogo entrou em contato diversas vezes com a Seduc ao longo de duas semanas para esclarecer os problemas apontados pela diretora Joana Cunha Bernardo, porém não obteve resposta.   A Seduc possui uma unidade regional em Santarém que na teoria deveria diminuir a burocracia e agilizar o andamento de pedidos feitos pelas escolas, mas na prática a situação é bem diferente. Segundo a diretora, a unidade não tem autonomia para liberar verba e projetos para as instituições do município.   A movimentação dos alunos e educadores produzindo festas, rifas e vendendo garrafas PET para a manutenção mostra a vontade de aprender e ensinar, mesmo sem o apoio do Estado.   “Com a situação em que estamos hoje eu digo que não me sinto trabalhando para o Estado, mas para uma comunidade escolar”, conclui a diretora.

 Luiz Guilherme Fernandes

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