Curso aposta na formação de professores para a realidade das escolas públicas

Os estudantes Silvana de Sá (20), Carlo Giovani (20) e Gustavo Ribeiro (28) pretendem ser professores de Educação Física em escolas públicas. Os três são alunos do 6º período da licenciatura em Educação Física da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Como explicam os futuros professores, a graduação em Educação Física da UFF tem uma proposta bastante clara: formar docentes para as escolas públicas. Os estudantes, ainda que tenham ingressado no curso com outras expectativas, acabaram por se sentir motivados pela proposta.

100_7217.JPG“O curso tem um cunho marxista, com a proposta de trabalhar com os filhos da classe trabalhadora, de potencializar nos seus alunos uma visão critica de trabalho, de sociedade, de lazer. Minha intenção é intervir nesse sentido, em prol de uma mudança de sociedade, e acredito que a escola e as aulas de educação física são espaços muito propícios, você está em troca de conhecimentos o tempo todo”, fala Silvana.

 Nas aulas de Educação Física que os futuros professores pretendem coordenar há espaço para várias atividades, desde o jogo com regras criadas pelos próprios alunos até discussões de gênero e sexualidade, por exemplo. Os estudantes explicam que eles trabalham com o conceito de Cultura Corporal do Movimento – onde cabem danças, lutas, esportes, capoeira, jogos, brincadeiras e também temas transversais que podem ser levados às aulas para a reflexão.

Os estudantes comentam que muitos alunos ingressam na graduação em Educação Física imaginando que vão aprender apenas conhecimentos relativos à prática esportiva, mas que depois, alguns percebem que a Educação Física vai muito além disso, outros acabam se frustrando um pouco.

“Depois que entrei no curso fui pensar que não fazia sentido estudar quatro anos só esporte, que o esporte não pode ser o único elemento. No primeiro período temos disciplinas que discutem a relação com a sociedade em geral, a atuação pedagógica, a corporeidade. Essas disciplinas faziam a gente refletir sobre como trabalhar outras questões na Educação Física. E existe uma coisa tão forte incentivando para que você faça do mesmo modo, só repetir o quadrado mágico [prática de futebol, voleibol, basquetebol e handbol], e aí vem um curso totalmente diferente, com uma proposta mais ousada, isso me incentivou mais do que os motivos que eu tinha antes de entrar no curso”, diz Carlo.    Quando o assunto é as Olimpíadas de 2016, que serão realizadas no Brasil, e a relação da escola com a formação de atletas, os três estudantes são enfáticos na opinião de que o Brasil não deveria sediar os jogos e que a Educação Física na escola sofrerá conseqüências muito ruins. Silvana conta que sua avó a telefonou toda animada dizendo: “Você viu que o Rio vai sediar as Olimpiadas, vai ser bom para você!”. “Bom, nada, vó, esse é um dos dias mais tristes da minha vida. A educação e a saúde estão ruins e a gente vai bancar um gasto bizarro com as olimpíadas”, respondeu a futura professora. Carlo e Gustavo compartilham da mesma ideia.    “Vão colocar a culpa dos maus resultados nas aulas de Educação Física. Vão dizer: ‘ah, os professores não tem se dedicado a formar atletas’. Mesmo se os professores quisessem formar um celeiro de atletas, a escola não oferece condições para isso. Mas a função da escola é dar um trato pedagógico para qualquer tipo de atividade, seja o esporte ou a dança. Se não, todo mundo teria a função de revelar seus mega gênios, o cara da matemática, revelar o grande matemático, e a educação física vai fazer o quê?Vai ter que revelar o grande dançarino, o grande ator, o grande esportista, tudo”, questiona Carlo.   Gustavo completa:   “Temos que pensar o quanto se vai gastar, enquanto um professor aqui no Rio de Janeiro, ganha 500 reais por mês. A gente tem tanta necessidade de ter uma olimpíada e não tem a necessidade da educação?”, reflete.   Os estudantes já estão fazendo estágio em escolas públicas e ressaltam o quanto é interessante se verem agora na posição de professor e não mais de aluno. Percebem que muito pouca coisa mudou do tempo que cursavam o Ensino Médio até hoje. Silvana, Carlo e Gustavo acreditam que o melhor é que todos os profissionais de Educação Física se formem em licenciaturas, ressaltam, inclusive, que essa é uma das bandeiras do movimento estudantil de Educação Física.   “O cara que trabalha na academia ou na escolinha de futebol também tem uma atuação pedagógica, por isso defendemos a licenciatura ampliada, que se trabalhe com a prática pedagógica como enfoque. Em nosso curso, um terço das disciplinas são oferecidas pela faculdade de educação. Não tem essa diferença, escola e não escola”, explica Carlo.   Os futuros professores demonstram ter consciência das dificuldades que enfrentarão na futura profissão. No estágio que fazem nas escolas, os estudantes dizem que não vão com a intenção de julgar os professores e entendem que é difícil, com a profissão tão desvalorizada como é, fazer um trabalho diferenciado.   “O professor que recebe um salário 600 reais e trabalha em três escolas, acaba que a prática dele não corresponde aos objetivos pedagógicos”, reflete Gustavo.
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