Minha Vida de Estudante - RJ

Proposta: 
Conversa Gravada
Escolas: 
CIEP 246 - Professora Adalgisa Cabral de Faria

O CIEP 246 é daquelas escolas que surpreendem do lugar de onde menos esperamos. Podemos dizer que a apresentação que antecede a oficina foi bastante caótica. Encontramos alunos e alunas muito jovens que, segundo a direção, estão pouco acostumados com atividades como  a que estávamos propondo. O número de inscrição na oficina foi pequeno e a algazarra foi grande, mas ainda assim, fomos procurados ao final da apresentação por alguns alunos e alunas que se identificaram com a proposta.

Quando chegamos para a oficina, na semana seguinte, tínhamos apenas seis participantes na sala. Diante do baixo número de participantes, o grupo decidiu trabalhar junto e optou por uma única atividade: a produção de vídeo.

Em um certo sentido o baixo interesse entre os alunos da escola na oficina nos trouxe um certo desânimo… será que estávamos fazendo a coisa certa? Onde estaria a nossa falha? Mas o grupo de seis que encontramos naquela sala de aula vazada e barulhenta pela arquitetura do CIEP nos fez mudar de ideia imediatamente. Eles eram poucos, mas tinham a potência de muitos e estavam muito interessados em nos conhecer, trouxeram muitas histórias, chegaram inteiros e isso nos permitiu – talvez e justamente por aquilo que em princípio nos pareceu uma falta – desenvolver com aquele grupo uma relação de afeto que em nenhuma outra oficina foi possível realizar.

Desse modo, a roda de histórias sobre as passagens vividas na escola foram francas, afetivas, sinceras, com conhecimento explícito sobre a importância e a existência do ‘outro’, da formação de si, dos medos, desejos e delicias vividos por cada um.

Depois de contarmos várias histórias, inclusive aquelas vividas por nós, da equipe EMdiálogo, idealizamos facilmente o personagem central (fictício) que seria o narrador do vídeo: um aluno no último dia do ensino médio. Ele estaria deixando a escola e faria uma reflexão sobre sua vida de estudante.

Embora estivéssemos construindo uma história contada por um único personagem, um aluno/aluna mítico, constituído da história de todos que ali estavam (cabe notar que na narrativa desenvolvida optamos por não incluir as experiências vividas pela equipe, permanecendo somente as histórias dos seis estudantes) o grupo decidiu que a fala não seria de uma única pessoa, ou gênero, mas, sim, dividida entre todos, não necessariamente com alguma corresponderia entre a história contada e o dono da voz, mas aleatoriamente, alternando vozes masculinas e femininas que dariam corpo a um único ser.

A imagem de cobertura da narração também foi decidida em grupo. Faríamos um plano sequência, com uma câmera subjetiva (câmera que representa o olhar do personagem que narra a história), que mostraria uma caminhada que iria do portão do CIEP até o pátio de entrada, ou seja, o nosso personagem mítico, estaria entrando na escola, olhando para as coisas e pessoas que nela estão e ao mesmo tempo refletindo sobre a sua trajetória na vida escolar. Ao longo do percurso percorrido pelo personagem, estariam visíveis os próprios autores das histórias narradas, os seis estudantes do grupo, sentados na escada, conversando em grupos, dispersos no pátio. Para que isso pudesse acontecer, a câmera foi operada por mim, um dos monitores da atividade (veja o vídeo no portal).

Quando assistimos ao vídeo, ali mesmo, na escola, no fim das quatro horas de oficina, após uma breve edição feita por uma das monitoras da equipe EMdiálogo, tivemos a certeza de que aquela escola nos guardava um tesouro. O vídeo seguiu a sua trajetória e acabou sendo premiado como melhor vídeo de oficinas pelo juri oficial do I festival de vídeos do portal, o IMAGENS EMdiálogo.

Com esta escola retomamos uma premissa fundamental do trabalho no portal EMdiálogo. Não estamos estamos em busca de quantidade, mas, sim, de qualidade. Qualidade esta que não se refere somente aos trabalhos produzidos, sejam eles texto, imagem, foto, áudio, mas também qualidade nas relações, nas reflexões e formas que aos poucos vão trazendo outros contornos para a ideia de escola. O fato é que este pequeno grupo de seis vai delegar agora dois representantes para ir a Brasília receber o prêmio conquistado no festival em evento programado pelo MEC. Assim, dois alunos do CIEP 246 vão sair de São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro, pegar uma avião, se hospedar em um hotel, conhecer a capital federal e sua arquitetura bastante particular, conhecer os outros estudantes premiados no festival, que virão do norte e do sul do país, trazendo portanto outros hábitos, outras culturas e outras experiências de escola, enfim… e ao final disso tudo eles retornarão as suas escolas com toda essa história para contar. E tudo isso porque, entre outras coisas, se interessaram e escolheram participar de uma oficina que trazia uma prática diferenciada para os seus cotidianos escolares… diante de tudo isso, a pergunta que fica é: será que a experiência vivida por esse ‘pequeno’ grupo terá algum efeito sobre os demais estudantes, professores, coordenação e direção do CIEP 246?

Acesse aqui o vídeo da oficina que participou do I Festival Imagens EMdiálogo. 

Geraldo Pereira