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- COLÉGIO ESTADUAL PROFESSOR VICTÓRIO EMANUEL ABROZINO - SUJEITOS DO ENSINO MÉDIO E OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Adriana Aparecida Biancato
O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, é formado por uma diversidade de jovens, com suas respectivas histórias e culturas próprias, e, portanto, com objetivos particulares. Nesse sentido, a escola e seus educadores tem o desafio de compreender o “ser jovem” no contexto das transformações sociais contemporâneas e da multiplicidade dos caminhos existentes para a vivência do tempo de juventude.
Nós educadores devemos nos aproximar de forma parcial, pois esses jovens sentem necessidade de serem percebidos como sujeitos de direito e cultura e não apenas como “objetos” de nossas intenções educativas, precisam ser vistos a partir de suas identidades culturais, seus gostos e valores. Eles também encontram desafios, pois além dos conflitos da própria idade, lhe são exigidos domínio de conhecimentos específicos com maior complexidade, embora a veiculação de informações seja instantânea no universo digital, estes ainda necessitam do papel formador do docente para organizar essas “informações” elaborando o conhecimento científico dinâmico e transformador da realidade destes jovens.
Já para a escola o desafio está no currículo, ao garantir que este consiga formar esses jovens para que continuem os estudos, buscando o Ensino Superior, além de prepará-los para o mundo do trabalho, reconhecendo neste, uma forma de sua própria emancipação. Nessa ótica, nos remete à Marx (1979) quando este destaca a relação entre o trabalho e a educação, no qual se afirma o caráter formativo do trabalho e da educação como ação humanizadora por meio do desenvolvimento de todas as potencialidades do ser humano.
Ao se pensar em Currículo pressupõe-se pensar em conhecimento. Essa afirmativa já nos remete a considerar que o principal elemento a compor os currículos escolares trata-se dos conhecimentos científicos, que por meio das transposições didáticas, tornam-se conhecimentos escolares – derivados das ciências de referência – e que são responsáveis pelo desenvolvimento cognitivo e formação ética, estética, política e econômica do estudante.
Há que se considerar também elementos que proporcionem a autonomia intelectual do aluno, a fim de que ele possa analisar, interpretar e propor alternativas diante de questões políticas, sociais, econômicas e culturais, o elemento que dá conta disso pode ser representado pela pesquisa, que é tido como princípio educativo nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio.
O grande desafio na elaboração de um currículo é a pretensão de se considerar as especificidades e fragilidades locais em detrimento dos conteúdos da base nacional comum. O que se pretende, tanto nas DCNEM quanto nas DCEs é um currículo que contemple conteúdos de um núcleo de conhecimento e integre-se a atividades que permitam relação entre os fenômenos aprendidos e a realidade na qual se inserem, ou seja, conceitos precisam ser aprofundados por meio da organização de disciplinas, mas é necessário que haja contextos problematizadores que mobilizem esses conceitos.
E aliado a tudo isso, o que se ensina precisa ser significativo e despertar o gosto pela aprendizagem ao aluno. Sem dúvida, há desafios, a pluralidade de sujeitos que compõe o Ensino Médio é muito grande e ainda temos muitas lacunas em nossa formação inicial e continuada. Mas também é possível fazermos um trabalho de professor com profissionalismo, atentando a questões de formação e comprometimento com o trabalho realizado.
Nesse contexto, se partirmos por esse viés do trabalho como princípio educativo, serão necessárias algumas posturas que garantam essa possibilidade, podendo ser adotadas algumas estratégias metodológicas para que se efetive, tais como atividades em grupo, jogos teatrais com conteúdo do currículo, intercâmbios com outros estabelecimentos e instituições buscando campos de pesquisa, além de proporcionar palestras e congressos com temas correspondentes a faixa etária dos estudantes, visitas em instituições de Ensino Superior e estágios em empresas.
Vale ressaltar que também se faz necessário investir em laboratórios de ciências, informática, sala de artes, lazer e biblioteca, cujos investimentos e manutenção sejam feitos pela mantenedora, com menor número de alunos em sala de aula para assegurar um ambiente propício ao ensino e à aprendizagem.
Além disso, é preciso incentivar uma relação aberta entre escola e família, pois os jovens precisam desse contato para se sentirem valorizados, além de perceberem que o processo educativo não é feito de forma amadora, mas com contribuições dos dois lados, além de destacar valores humanos que devem ser estimulados no contexto escolar, como a tolerância, a solidariedade, o respeito às diversidades, sejam elas culturais, pessoais ou sociais.
Para assegurar que tais ações possam ser efetivadas há de se pensar na organização da escola, bem como na sua organização curricular. Do ponto de vista organizacional, essa relação deve integrar em um mesmo currículo a formação plena do educando, possibilitando construções intelectuais elevadas, e a apropriação de conceitos necessários para a intervenção consciente na realidade e para a compreensão do processo histórico de construção do conhecimento.
Considerando a velocidade com que ocorrem mudanças na área do conhecimento, a escola busca formar integralmente os educandos, e nesse sentido, os professores devem entender que o currículo deve integrar as dimensões da própria vida social apontando como eixos o trabalho, ciência, tecnologia e cultura e assim superar uma formação que reduz o treinamento para o trabalho e a fragmentação dos conteúdos.
Necessita-se que educadores e educandos estabeleçam redes de convivência que resultem além do ensino aprendizagem de determinados saberes, a preocupação e aceitação de outras tantas maneiras de saber e viver, por meio de uma ação coesa com objetivos determinados, nos quais tenhamos a clareza de que o conhecimento científico deve ser domínio dos estudantes e os mesmos devem ser contextualizados a fim de propiciar uma visão crítica histórica, social e econômica da realidade vivida.
O currículo é um instrumento de função socializador, um elemento imprescindível à prática pedagógica, pois ele está estritamente ligado às avaliações dos conteúdos, a sociedade e a profissionalização dos docentes. A educação tem poder ímpar na sociedade, através dela o conhecimento é distribuído e o currículo passa ser considerado como um veículo de interesses sociais que concordam com valores e crenças dos grupos dominantes.
A falta de consciência dessa interferência resulta em falta de consciência do poder de participação que tem; disso decorrem resultados negativos para a organização e para as próprias pessoas que constituem o ambiente escolar. Faltas, omissões, descuidos, incompetências são fatores que exercem esses pontos negativos. Por outro lado, a participação em sentido pleno é caracterizada por mobilização efetiva dos esforços individuais para superar atitudes de acomodação, alienação, marginalidade, comportamentos individualistas e estimular a construção do espírito de equipe.
Essa ação participativa deve ser realizada a partir do respeito a valores substanciais, como a ética representada mediante ação orientada pelo respeito ao ser humano e as instituições sociais; a solidariedade manifestada pelo reconhecimento do valor de cada pessoa e o sentido de que os seres humanos se desenvolvem em condições de troca e reciprocidade; a equidade representa o reconhecimento de que as pessoas e grupos em situações desfavoráveis necessitam de atenção e condições especiais, para igualar-se a seus semelhantes no processo de desenvolvimento; o compromisso se traduz na ação dos envolvidos no processo pedagógico, focada e identificada com objetivos, valores, princípios e estratégias de desenvolvimento. Pressupõe o entendimento pleno dessas questões e o empenho pela sua realização traduzida em melhor aprendizagem aos educandos.
A intenção da gestão democrática é que haja diálogo, reflexão e trabalho coletivo em busca de melhorias para o ambiente escolar e significa uma descentralização do poder por meio da participação geral e da também da autonomia. Nesse sentido, é possível perceber que, em nosso ambiente escolar, ainda estamos em processo de construção da gestão democrática, devido à falta de comprometimento de todas as instâncias colegiadas (Associação de Pais, Mestres e Funcionários - APMF, Conselho Escolar, Grêmio Estudantil, Conselho de Classe e outras formas de representação).
Também se verifica a falta de tempo para tais atividades devido ao acúmulo de funções, uma vez que seria necessário o acompanhamento direto da direção, equipe pedagógica e do grupo de professores, orientando as ações dos estudantes.
Logo, deve-se promover a participação desta comunidade na gestão da escola, por meio das instâncias colegiadas, de modo a melhorar a integração das famílias com a escola, pois um problema comum nas escolas é a falta de comunicação com os pais, por isso deve-se buscar uma sintonia dos mesmos com a instituição e com os professores.
Nesse sentido, vale ressaltar que as famílias se envolvem com a educação dos filhos a partir do momento em que a escola abre espaço para isso, através de discussões acerca de seu Projeto Político Pedagógico, a fim de compartilhar as informações que cabem aos pais, sobre o processo educativo, tais como os projetos que serão trabalhados ao longo do semestre ou ano letivo, a participação da escola nas avaliações externas, de modo a valorizar a participação de todos na vida escolar.
Permeando essa ótica, Machado (2004) define a avaliação externa como “todo processo avaliativo de desempenho das escolas desencadeado e operacionalizado por sujeitos alheios ao cotidiano escolar”. Assim, apontamos como principais problemas deste processo, a demora com relação aos resultados destas avaliações externas, dificultando as realizações cabíveis para cada situação particular, não sendo possíveis as intervenções pedagógicas para esse grupo de alunos avaliados e nem a resolução de problemas a serem superados.
A questão de medir o valor da avaliação externa mostra uma classificação, momento estanque, não levando em conta o processo educacional de uma avaliação contínua e diagnóstica expressa no Projeto Político Pedagógico da escola (capacidade de refletir). Torna-se evidente, ao observar as características dos tipos de avaliações praticados na escola, na insistência da função da avaliação educacional que envolve questões mais amplas, associadas ao objetivo do avaliador, podendo ser utilizada a serviço da aprendizagem ou ser usada apenas como uma engrenagem de seleção, orientação e controle do avaliador.
Nesse contexto, fica evidente a necessidade de qualificação e formação continuada diante das dificuldades pedagógicas enfrentadas e que aborde o que realmente está interferindo nos resultados ainda negativos, renovando práticas e posturas e que esta ocorra a serviço da superação das necessidades educacionais de todos os estudantes e não somente como mera medição ou julgamento.
As avaliações só podem ser válidas se analisarmos os resultados e a partir destes forem tomadas as atitudes necessárias para superar as fragilidades, não só quanto ao trabalho docente, mas também com toda infraestrutura necessária da escola, como diminuição do número de alunos em sala, para que possam ser alcançadas melhorias.
O uso dos resultados das avaliações externas precisa ser pensado considerando as práticas pedagógicas em sala de aula detectando os avanços e os limites dos alunos.
Portanto, compreendendo a importância da avaliação externa não como substitutiva das avaliações internas que ocorrem no ambiente escolar
nas diversas disciplinas e na própria avaliação do Projeto Político Pedagógico, recorremos ao educador Nevo (1997), que afirma a necessidade de alimentar um diálogo entre a avaliação externa e interna, que permita as redes e escolas reunir condições para avançar seus projetos pedagógicos. Desta forma, a avaliação tornar-se-á uma ferramenta que contribuirá para este processo dialógico e de permanente retomada das ações.
REFERÊNCIAS
MACHADO, N. J. Educação: projetos e valores. São Paulo: Escrituras, 2004.
MARX, E. A ideologia alemã (Feurbach). São Paulo: Ciências Humanas, 1979.
NEVO, D. Evaluación basada en el centro: un diálogo para la mejora educativa. Traducción de María Serrano Bericat. Bilbao: Mensajero, 1997.
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