AS VICISSITUDES DA AVALIAÇÃO NO ENSINO MÉDIO

AS VICISSITUDES DA AVALIAÇÃO NO ENSINO MÉDIO

Denise Santos
Edileia de Aquino Ramalho
Eliana Gomes Santana
Eliane de Souza
Elismery Ferreira Macarios
Elizabeth Vidolin Alpendre
Fernanda Caldas Fuchs
Noely Maria Lesnau
Simone Vosne Portela

Profissionais da educação e estudantes são sujeitos históricos e de direitos. A participação ativa e protagonista nas atividades educacionais é fundamental para o andamento democrático da gestão escolar. Sendo assim, o estudo e reflexão do tema do Caderno VI, da Etapa I, “Avaliação no ensino médio”, expõe as vicissitudes de se buscar articular a avaliação como instrumento de aprendizagem, como instrumento avaliativo externo colaborar e, ainda, como instrumento avaliativo institucional.
A Resolução n° 2, de 2012 (BRASIL, 2012), explicita que a avaliação pode ser “entendida como processo de caráter formativo, permanente e cumulativo”. Nesse sentido, pode-se entendê-la, também, como fonte de contribuição ao bom andamento escolar, quando aponta dificuldades a serem superadas, identifica obstáculos individuais e coletivos dentro da instituição e potencializa aspectos positivos dos profissionais da educação, nos estudantes e na instituição, perfazendo toda a comunidade escolar.
Todavia, compreende-se que o campo da avaliação educacional é desafiador quando sua missão consiste em identificar, em cada aluno, o seu verdadeiro potencial gerando, assim, uma vida autônoma de direito e, principalmente desafiador, quando propõe seguir padrões avaliativos que mensuram conhecimentos acadêmicos historicamente construídos, porém com propósitos definidos politicamente.
O tema avaliação constitui instrumento necessário dentro da organização escolar, no qual alguns elementos são necessários para que se efetive tal processo contínuo. Nesse sentido, a avaliação enquanto processo exige definições claras, objetivas e próximas da comunidade escolar em que a instituição educativa está inserida, pois cada setor da educação possui suas características e, por consequência disso, deve apresentar especificidades de cada segmento da educação e da comunidade escolar. Para tanto, o Projeto Político Pedagógico (P.P.P.), precisa contemplar, explicitar e orientar os profissionais da educação, pois sendo produzido coletivamente, constitui elemento relevante no que se refere às avaliações internas e externas.
Essa observação é expressiva para o processo de aprendizagem quando contemplam-se no P.P.P. os instrumentos, as estratégias e os valores para que a recuperação ocorra concomitantemente às aulas. Acredita-se ainda, que sendo a recuperação simultânea, tanto trabalhos, quanto avaliações serão melhor aproveitados e, se preciso for, os conteúdos poderão ser retomados de maneira diferenciada, propiciando-se até mesmo aos demais um novo olhar sobre determinados conteúdos, ou seja, a apropriação dos conteúdos poderá ser apresentada de várias maneiras, utilizando-se outros materiais e/ou através de experiências novas. 
As avaliações externas, realizadas nos últimos tempos, não contempla escolas com estudantes com necessidades especiais, ou seja, encaminham para as instituições educacionais provas iguais a todos os estudantes matriculados, apresentem eles necessidades especiais ou não. Sendo assim, registra-se aqui a indignação e a contravenção quando se fala dos direitos com relação ao descaso ao estudante com necessidades especiais. Digamos não à homogeneização. Sim ao respeito às diferenças.
Exemplo de desrespeito condiz com o caso de um estudante surdo diante de uma avaliação interna ou externa, cujas questões subjetivas não são corrigidas contemplando-se a Língua Portuguesa como segunda língua. É importante considerar nesse aspecto que os surdos utilizam a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS nas suas comunicações, sendo a Língua Portuguesa a segunda língua utilizada.
Para Zanardini (2011) avaliar pode ser considerado um ato no qual coleta, análise e síntese de dados são aspectos que acrescidos de valor ou qualidade auxiliam na tomada de decisão. Para o autor o “diferencial que caracteriza um ato avaliativo ou de mera verificação é percebido pelo seu resultado na práxis, evidenciando uma mudança qualitativa, no primeiro caso, ou a manutenção, no segundo” (ZANARDINI,2011, p.101). Além disso, Zanardini (2011) contempla a avaliação como ato que ocorre de homem para homem, isto é, processo em que a hominização se faz cada vez mais presente através da prática social da humanidade.
Os conhecimentos prévios dos discentes devem ser valorizados, a partir dos conteúdos abordados, ou seja, deve-se partir da prática social do estudante para daí, em consonância com esses conhecimentos, somar-se os conhecimentos historicamente construídos pela humanidade, através do uso de multimeios, aulas expositivas, pesquisas, relatórios, seminários, confecção de materiais, transformando os conhecimentos antes baseados no senso comum, em conhecimentos científicos. Nesse processo educativo o estudante interage com as informações recebidas pelos professores, transformando-as em conhecimento conforme seu entendimento, favorecendo assim um ensino de qualidade, que é a função da escola, formando cidadãos conscientes no exercício de sua cidadania.
A escola enquanto responsável pelo desenvolvimento cognitivo dos discentes, deve ir cumprindo seu papel quando possibilita a apropriação dos conhecimentos culturais e científicos aos estudantes, socializando o saber sistematizado e desenvolvendo capacidades para atuar na sociedade, pelos direitos e conquista da cidadania. Na prática, trata-se de o professor estabelecer objetivos e expectativas de desempenho a partir de possibilidades reais de desenvolvimento e aproveitamento escolar dos alunos.
A avaliação entendida nesse contexto manifesta-se diagnóstica, processual, permanente e cumulativa, subsidiando o docente com elementos para uma reflexão contínua sobre sua prática, possibilitando a criação de novas estratégias de trabalho e a retomada de aspectos que necessitam ser revistos ou ajustados para efetivação do processo de aprendizagem individual ou de grupo. É importante salientar que a avaliação inclui observação dos avanços e da qualidade da aprendizagem alcançada pelos discentes ao final de um período de trabalho, seja este determinado pelo fim de um bimestre, semestre ou ano, seja pelo encerramento de uma determinada etapa. Dessa forma, a avaliação se distancia da função classificatória e passa a assumir a função emancipadora, orientando todo o processo de ensino aprendizagem.
Entretanto, relevante se faz questionar acerca da avaliação como instrumento de hierarquização. Precisa-se promovê-la como parte integrante do processo de ensino/aprendizagem, cujas funções caracterizem-se através de diagnóstico, de formação e de soma. Além disso, precisa-se compreender que a recuperação de estudos necessita ser realizada concomitantemente ao trabalho docente, constituindo-se item fundamental no processo de ensino e aprendizagem. Para tanto, entender a recuperação como processo e entendendo-se processo como caminho, não constitui momento estanque ou específico no qual por meio de um só instrumento é determinado o êxito ou o fracasso da aprendizagem do estudante. Entende-se a recuperação dos conteúdos após a avaliação como direito do corpo estudantil, independentemente do nível de apropriação dos conhecimentos básicos. Então a recuperação de estudos deverá ocorrer de forma permanente e concomitante ao processo ensino e aprendizagem, organizada com atividades significativas, por meio de procedimentos didático-metodológicos diversificados.
A avaliação da aprendizagem necessita ter os registros de notas expressas, sejam através de escala de 0 (zero) a 10,0 (dez vírgula zero), ou através de conceitos A, B, C, D, etc. A prática avaliativa da aprendizagem poderá ser apresentada bimestralmente, trimestralmente ou semestralmente. Conforme o regimento interno da instituição escolar. Desse modo, a nota ou conceito identificarão o que o estudante adquiriu do conhecimento científico apresentado em função dos critérios estabelecidos para cada conteúdo / nível de escolaridade.
Como, por exemplo, na atribuição de nota bimestral deve-se considerar a somatória das notas obtidas pelos estudantes em pelo menos três momentos avaliativos, somando dez pontos no decorrer do bimestre. Os momentos avaliativos poderão ser assim distribuídos: 4,0 pontos para atividades avaliativas com consulta (relatórios, resumos, sínteses, artigos, entrevistas, pesquisa bibliográfica, interpretação de textos, listas de exercícios e outros) em língua portuguesa; 3,0 pontos para a prova bimestral em Língua Portuguesa, sem consulta; 3,0 pontos para atividades avaliativas em Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, sem consulta; e, a recuperação de conteúdos deverá ser concomitante ao processo de ensino e aprendizagem no decorrer do bimestre. As reavaliações deverão ser oportunizadas concomitantemente para todos os alunos em pelo menos dois momentos nos quais a Língua Portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS concorram juntas para a verificação do entendimento ou apropriação dos conteúdos.
Ainda, como exemplo, a avaliação Bimestral deverá contemplar diferentes tipos de questões, com perguntas objetivas (marque Certo ou Errado, Múltipla Escolha, Complete, Relacione...) e discursivas, envolvendo não apenas memorização, mas também situações de análise, síntese, relações com a realidade. No Ciclo Básico de Alfabetização, os Registros Bimestrais poderão aparecer sob o aspecto de Parecer Descritivo com relatório Semestral do desempenho do aluno.
No entanto, somente um Projeto Político Pedagógico (P.P.P.) cuidadoso e sistematicamente revisado não será capaz de promover um processo avaliativo que privilegie de forma justa o bom rendimento dos educandos, mas todo um cuidado individual e especial da comunidade escolar em fazer efetivar-se a formação humana integral.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério de Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n° 2/2012: Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: CNE, 30 jan.2012.

ZANARDINI, João Batista. A ontologia do ato de avaliar. In.: Perspectiva, Florianópolis, v.29. n.1, 97-125, jan./jun.2011. Disponível em <http://www.educacao.pr.gov.br/arquivos/File/det/2013/joao_zanardini_ontologia_ato_avaliar.pdf> . Acesso em: 12 dez/2014.