A universalização do Ensino – desafios e propostas.

Os desafios que vivemos na escola – principalmente as de ensino público, talvez não menos as de ensino particular – são inúmeros. Dentre os quais podemos elencar:

• a descontinuidade dos estudos, verificado pelos índices de defasagem idade/série;
• o grande número de alunos por sala de aula;
• a mera instrumentalização da tecnologia e da cultura sem intencionalidade pedagógica;
• as novas configurações de ordem familiar que apresentam desafios na compreensão das relações sociais;
• as contingências do mercado de trabalho que afetam tanto as relações familiares quanto às exigências para o jovem ingressante no mercado;
• a falta de aplicação séria e criteriosa dos investimentos públicos na educação;
• a carência de uma política de continuidade nas ações relacionadas a um possível sistema de educação que tenha duração e reflexão criteriosa independente de governo e/ou partido político;
• o pouco apoio das instâncias governamentais, induzindo a um trabalho compartimentado; cada segmento atua de modo independente, gerando fracassos.
• a necessidade de interação mais humana entre professores e educandos;
• a alta taxa de abandono e/ou desistência,
• o baixo rendimento escolar;
• a dificuldade de estabelecermos trocas de informações pedagógicas no cotidiano da escola entre pares;
• a descontinuidade no processo formativo dos professores;
• o desestímulo institucional para o ensino e o aperfeiçoamento tanto dos estudantes como dos professores;
• as condições estruturais de trabalho do professor na escola;
• o empobrecimento dos Currículos Escolares, que não levam em conta conteúdos diferenciados voltados para as necessidades e interesses do aluno do ensino médio;
• a necessidade de pensar novas metodologias de acordo com as contingências de cada turma;
• a dificuldade na relação colaborativa entre família e escola, essencial para conseguir bons resultados na educação;

Infelizmente, o que deveria ser fonte de formação humana integral, como se coloca na LDBEM/1996, em que se previa que o ensino médio deveria ser “ofertado de forma adequada às necessidades e disponibilidades da população de jovens e adultos, de forma a possibilitar condições de acesso e permanência na escola (art. 4ª, item VII)”, ainda é um processo que não foi colocado integralmente na prática.
No entanto, o direito à universalização ainda não ocorreu na forma integral para o trabalhador brasileiro e é ainda hoje uma necessidade.
Historicamente, desde o tempo do Império, o ensino no Brasil foi posicionado, governo após governo, de tal forma que se tornou elitista e excludente entre as classes sociais. Depois de muitas lutas, só recentemente este processo está se revertendo.
O caminho a novos desafios está aberto, a fim de que outras possibilidades de acessibilidade e metodologias possam surgir e, enfim, em futuro próximo possamos ver índices mais favoráveis na educação de jovens e adultos no ensino médio brasileiro.
Um dos grandes desafios para o Ensino Médio é despertar a consciência do estudante para a importância de cursar efetivamente essa etapa escolar. Para tanto, é essencial que o Ensino Médio tenha real significado para a formação do cidadão.
O educando não se reconhece dentro dessa estrutura educacional, porém não pode continuar como mero espectador. Deve, portanto, assumir seu papel de agente nesse processo. É necessário que o Ensino Médio não se limite a passar conteúdos de disciplinas, mas que torne esses conhecimentos significativos, orientando e apresentando o leque de possibilidades que nossos alunos sequer sabem da existência.
A opção de muitos estudantes pelo mercado de trabalho em detrimento dos estudos está vinculada à falta de perspectiva em relação ao Ensino Médio. Metodologias ineficientes e ultrapassadas - haja vista que a formação/qualificação do professor não tem acompanhado a evolução dos tempos - e a dificuldade em criar vínculo entre professor/aluno/família, são fatores que vêm desgastar essa relação.
A maioria desses desafios resultam de motivos relacionados com a necessidade de se conseguir resultados a curto prazo; assim sendo, não há tempo de preparar o profissional de educação para lidar com inovações e necessidades diversificadas. Cada professor faz o trabalho conforme o que acha ser o melhor; cada segmento tenta fazer a sua parte, à sua maneira; pais precisam trabalhar e muitas vezes não acompanham a vida escolar de seus filhos. Atitudes essas que geralmente não trazem resultados satisfatórios.
Diante disso, para que se possa caminhar em direção à universalização e humanização do ensino público precisamos:
 estimular uma formação continuada e significativa do professor;
 investir nos processos de formação inicial das licenciaturas;
 proporcionar humanização na relação professor-aluno;
 provocar o envolvimento das famílias;
 efetivar a participação dos órgãos colegiados (Grêmio, APMF, Conselho escolar) nos processos decisórios da escola, favorecendo a gestão democrática;
 repensar o papel do professor na escola como agente de cidadania, não apenas repassador de conteúdos;
 refletir a utilização das tecnologias;
 favorecer ambiente de troca de experiências entre professores no dia-a-dia da escola;
 rever a mera formalidade nos relatórios e documentação escolar, provocando periodicamente a reescrita dos documentos, democraticamente, para que se diminua a distância entre teoria e prática;
 institucionalizar o PIBID;
 ofertar monitorias remuneradas para o Ensino Médio;
 sistematizar o Ensino Médio integral, com formação profissional, artística e esportiva;
 progredir no vínculo entre escolas públicas e universidades;
 repensar e fortalecer o ensino de jovens e adultos;
 realizar um trabalho pautado na reflexão sobre a função social da escola respeitando as condições histórico-culturais da comunidade, visando a unidade entre teoria e prática;
 garantir na organização do tempo e espaço pedagógicos o desenvolvimento de estratégias que possam contribuir para a necessária parceria com os órgãos de atendimento ao adolescente (Conselho Tutelar, CEDECA, COMTIBA, Unidades de Saúde, dentre outros)

A questão da melhoria da qualidade na educação não se reduz a salários e questões de ordem física. A humanização do ensino passa, antes de tudo, por uma mudança de pensamento e de visão, seja por parte dos governos, quanto pelas famílias, professores, educadores e estudantes.

Curitiba, agosto de 2014.

AUTORES:
ANA DULCE AMARAL ROSA
CÁTIA DE FÁTIMA MATYAK
DENISE MARIA DALARMI
ELIZANGELA CRISTINA BOZZA
ELSON DIAS DE FRANCA
FABIANO FELIPE CORREA SALLES
FRANCIELY DE OLIVEIRA PEREIRA
GILBERTO HARDER
KARYN ROSANE DE OLIVEIRA GABARDO
LEZIR PELLANDA HOLATEN
MARIA ELIANE ANTONIUK BONATO
PAULA IRENE DOS SANTOS
ROSEMERI ELIDIO PELLOZI GAI
SIMONE CRISTINA INCOTE
STELLA MARIS GABARDO DOS SANTOS
THEO DE SOUZA NASCIMENTO

(Texto produzido coletivamente por um grupo de professores do Colégio Estadual Padre Cláudio Morelli, a partir de discussões realizadas no curso Pacto pelo fortalecimento do Ensino Médio.)