TRANSPONDO O MURO: NOVAS ABORDAGENS NO TRABALHO DOCENTE COM CIÊNCIAS DA NATUREZA

COLEGIO ESTADUAL ALMIRANTE TAMANDARE – FOZ DO IGUAÇU - PR
Reflexões sobre a Organização do Trabalho Pedagógico no Ensino Médio –
Orientadora de Estudos: Lenice Maria Galina Francisco
Professores Participantes:
Josiane Pereira Silva
Marcia Regina Gonçalves Lemos
Marlene Mendes Lopez Porfirio
Mary Claudinete Bastianello da Silva
Vilma Diniz Costa

Transpondo o Muro: Novas Abordagens no Trabalho Docente com as Ciências da Natureza

        A hora é de mudanças. É visível a falta de motivação de nossos alunos nas aulas, em maior ou menor grau - dependendo da área do conhecimento; em Física e Química percebe-se grande desinteresse pelos conteúdos. Isso nos leva à necessidade de buscar alternativas que envolvam os alunos e os façam aprender de forma natural e prazerosa.
Repensando e redefinindo caminhos para o ensino das Ciências da Natureza, assim como das demais Ciências, é fato que o processo de ensino aprendizagem deve estar mais voltado à realidade dos alunos, propiciando a construção do conhecimento.
        As novas propostas do trabalho docente em disciplinas de Física, Química e Biologia sugerem que se inicie por um trabalho de observação em experimentos científicos e a aprendizagem a partir da pesquisa investigativa; essa conduta prioriza o conhecimento construído a partir dos questionamentos do aluno num processo reflexivo de olhar o mundo e o que o cerca. Portanto, é essencial que o aluno aprenda a observar, a relatar resultados de experimentos, para tornar efetiva a aprendizagem, principalmente  partindo de situações reais.
       A metodologia proposta nesse tipo de condução vem ao encontro dos objetivos da Educação, tornando o aluno um indivíduo autônomo, capaz de refletir e compreender. Essa prática também propicia prazer na aprendizagem, colocando o aluno como elemento central do processo, passando a ser ator e não mero espectador. O conhecimento adquirido passa a ter, assim, relevância para o aluno.
Aprendemos, então, que é possível trabalhar, a partir de uma temática, habilidades em disciplinas diversas; por exemplo, em Português o relato nos processos investigativos e experimentos trabalha a comunicação escrita, ampliando essa habilidade; a escrita torna-se um processo prazeroso porque tem significado real, terá uma finalidade concreta para o aprendiz.
       Um exemplo de proposta didática eficaz, voltada à construção do conhecimento,  pode ser encontrado no livro “Ensino de Ciências e Cidadania”, em que as autoras têm como proposta promover um aprendizado que possa estar efetivamente relacionado à realidade dos alunos, considerando a aprendizagem como um processo “aberto”, que permite levar o objeto dessa aprendizagem a aplicações práticas do dia a dia dos alunos.
       Tem-se comumente, no ensino de Ciências, adoção de livros didáticos que não promovem a investigação, não aguçam a curiosidade científica dos alunos. A obra em questão, entretanto, coloca a relevância da motivação na aprendizagem de Ciências, propondo uma abordagem de forma que os conteúdos estudados adquiram significado para os alunos e, assim, haja motivação para essa aprendizagem.
       Geralmente, o estudo das Ciências da Natureza não traz interesse aos aprendizes porque eles não são conduzidos para ver que aquilo que aprendem traz respostas à curiosidade de tudo o que os cerca, de toda a matéria formadora do Mundo e dos elementos que o compõem.
       A dificuldade nessa concepção de trabalho inicia pela necessidade de “desconstruir” uma prática corrente na escola, que privilegia atividades sem ligação com a realidade dos alunos.
Importa também citar a necessidade de desconstruir a concepção da “verdade imutável”, o que não se aplica às Ciências da Natureza. Novas descobertas surgem, a partir de novos experimentos, o que nos leva a entender a relevância do processo investigativo no trabalho proposto, sendo este um processo dinâmico e que está em constante mutação.
Uma interessante atividade desenvolvida pelo grupo de estudos do Colégio Almirante Tamandaré pode se configurar num claro exemplo da necessidade de mudanças na sala de aula, com novas técnicas e abordagens, que inicie por um tema relevante aos alunos no sentido que aguce a curiosidade e envolva a comunidade.
      Para desenvolver essa atividade, estabelecemos o “uso do celular” como a questão temática a ser abordada, com vários enfoques e abordagens; a escolha da temática seguiu vários critérios, mas o do interesse foi o que mais peso teve para a definição.luno a conhecer mais sobre esse instrumento, como se chegou à criação de um aparelho de comunicação de tão elevada tecnologia, que aproxima o mundo, torna a globalização uma realidade ainda mais perceptível.
      Também é matéria que aguça a curiosidade dos nossos alunos, o que o definiu como eixo para o trabalho interdisciplinar. O trabalho envolveu várias disciplinas com o desenvolvimento de atividades variadas nas diferentes áreas; em Filosofia, por exemplo, o professor abordou o uso do celular em sala de aula com enfoque na legislação (Lei 18.118) e no regimento escolar. Esse enfoque estabeleceu-se pela diferença entre o uso e o porte do celular em sala de aula com base na ética, moral e condutas de educação. O objetivo foi desenvolver consciência no aluno, por meio do conhecimento, orientando para condutas justas e de princípios.
      Já na aula de Física, inicialmente foi sondado o que os alunos sabiam a respeito das radiações eletromagnéticas emitidas por telefones celulares e por antenas de telefonia móvel, por conversa informal. A partir daí, foi proposto aos alunos que fizessem uma pesquisa em revistas e principalmente na internet a respeito do tema, levando em consideração as fontes seguras de informações. Feita esta pesquisa e com a leitura complementar do artigo “Telefone celular é risco para a saúde pública”, baseado na Tese de doutorado de Adilza Condessa Dodi, defendida no Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, 2010), que analisa a taxa de mortalidade por neoplasia causada pelas radiações eletromagnéticas emitidas pelas antenas de telefonia móvel em Belo Horizonte, iniciou-se um debate entre os alunos com a mediação da professora de Física sobre as informações que eles haviam coletado e com a leitura do artigo citado, com a intenção de subsidiar informações para a confecção de um texto de autoria.
      Pelos resultados obtidos, percebeu-se que em todas as redações produzidas pelos alunos mencionava-se o uso “desenfreado” do celular como prejudicial, tanto para a vida do indivíduo em sociedade, quanto para a sua saúde física e mental. O relato dos alunos a respeito da metodologia aplicada pelos professores neste trabalho ratificou o sucesso da proposta e suscitou pedidos de mais aulas integradas e mais atividades como a relatada.
      Entretanto, o que vale a pena ressaltar é a proposta de trabalho subsequente, a partir da temática “uso do celular”, em que os alunos deverão levar as informações que coletaram à comunidade, “transpondo o muro” da escola e atingindo as pessoas com quem convivem, toda a comunidade em que estão inseridos, numa campanha de conscientização e de propagação do conhecimento, sendo, os próprios alunos, os protagonistas dessa ação intervencionista para que se conheça, de fato, os benefícios e malefícios do celular e passemos, todos, a ser mais reflexivos, conscientes e agentes diante daquilo que faz parte do nosso mundo.