TEXTO SOBRE O CADERNO 2 - PROFESSORES DO COLÉGIO ESTADUAL SÃO PEDRO APÓSTOLO - COORDENADORES: ADAIR MARIA ROCHA E ADRIANO SCHEIK
REFLEXÕES E AÇÕES – CADERNO II
Costumeiramente, deparamo-nos com dificuldades em sala de aula ou a escola se depara com alguns problemas referentes ao pouco interesse dos alunos pelos estudos. Também, costumeiramente, percebemos que nossos alunos parecem entediados, sem vontade de participar, vivendo em devaneios, isso quando não desistem de estudar ou passam a ser faltantes. Acabamos chamando a atenção deles, sem nos atentarmos aos motivos pelos quais isso está acontecendo, porém é preciso parar alguns minutos a nossa vida agitada, refletir sobre como são nossas aulas e o que elas propiciam aos alunos, e agir para, pelo menos no começo, tentar amenizar a falta de atenção, pois é óbvio que não se consegue mudar tudo de forma imediata, nem o nosso comportamento e muito menos o dos alunos.
Antes de tudo, vamos refletir sobre a formação do professor. O curso superior pode ter nos dado condições e sabedoria do conteúdo para podermos atuar, mas, infelizmente, na didática e na prática educacional, a maioria de nós não sai preparado para enfrentar uma sala de aula de forma integral, sem se fixar somente aos conteúdos ministrados de forma tradicional. Infelizmente, essa formação nos deixa à mercê de uma série de problemas, entre eles a pouca troca de saberes professor/aluno, aluno/professor, pois, como diz Paulo Freire: “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”, complementando que ensinar não é somente transferir conhecimentos, mas criar possibilidades para sua produção ou construção. Porém, se houve falha na formação acadêmica, devemos estar abertos a melhorar nossa qualidade como bons profissionais que somos.
Defrontarmo-nos com nosso “estilo” de dar aulas, pode nos causar certa revolta ou angústia, uma vez que nossa forma de trabalhar, apesar das aulas muito bem explicadas, não está surtindo o efeito de contagiar os alunos, mas precisamos fazer essa reflexão, usar o bom senso e tentar mudar nossos métodos e estratégias em benefício, não só dos alunos, mas de nós mesmos. Com certeza, além de nosso fortalecimento como profissionais, as aulas terão maior qualidade e farão com que os alunos tenham vontade de participar delas, desenvolvendo-se de forma integral.
Não vamos generalizar e dizer que o pouco interesse acontece por nossa culpa ou porque temos alunos das mais diferentes classes, interesses e limites. Então, precisamos pensar que a escola deve, inicialmente, ser um ponto de encontro para, a partir daí, transformar-se em um local de desenvolvimento, de participação, de troca de conhecimentos, de integração.
Novamente, utilizaremos palavras de Paulo Freire: “Considerando que a prática educativa é reflexiva e dialógica, e que o ato pedagógico é um ato político, acredita-se na força de transformação social do ato de educar”. Esse comentário sugere que o diálogo esteja presente para que percebamos o que deverá ser melhorado ou modificado. Queremos conceber o conhecimento não mais em uma perspectiva tradicional, mas que ele nasça do movimento, da dúvida, da incerteza, da necessidade, da busca de novas alternativas, do debate, da troca, da integração, da realidade dos alunos, com um projeto político pedagógico que contemple propostas que atendam essa realidade.
As inovações estão presentes diariamente em nossa vida, o que não é diferente na vida dos alunos. As mais emergentes estão relacionadas à tecnologia e percebemos que nossos alunos as incorporam ao cotidiano com uma grande facilidade, chegando ao ponto de não conseguirem viver sem ela. E nós não podemos combate-la! Se fizermos isso, nós seremos os combatidos, com certeza! Ao invés de a combatermos, vamos aprender a utilizá-la.
As tecnologias digitais estão cada vez mais presentes nas práticas cotidianas e até as operações bastante corriqueiras têm uma intensa presença das tecnologias. Dentre elas, está o acesso à internet que serve como exemplo para medir a dependência dos indivíduos no mundo digital. Os jovens, em sua grande maioria, estão imersos na internet e ligados em seus celulares, portanto estes se tornam expressivos indicadores da importância da tecnologia no cotidiano das ações.
A juventude está tão envolvida nas tecnologias de informação que, por vezes, parece crer que a vida no passado seria impossível sem as facilidades tecnológicas do presente. As redes sociais digitais são um capítulo especial nesse cenário e parecem ocupar boa parte das práticas sociais contemporâneas, formando um misto de máquina e organismo, um novo ser humano cuja existência é mediada pela tecnologia digital e, a íntima relação com ela, tem transformado as habilidades, desejos, formas de pensamento, estruturas cognitivas, temporalidade e localização espacial, tornando a juventude um ícone nesse processo, pois interage com as tecnologias e, assim, produz, orienta seu comportamento e conduz a própria existência.
As tecnologias digitais são importante elemento constitutivo da cultura juvenil e existem múltiplas possibilidades de orientação da vida e o uso das tecnologias influenciando nas ações, pois os símbolos compartilhados geram significados e referenciam atitudes e posturas das pessoas.
Como já comentamos, a grande familiaridade tecnológica que os alunos possuem têm inquietado os professores e alguns parecem não compreender as novas formas juvenis de conduzir a própria existência, produzidas pela intensa conexão com as tecnologias digitais, dando a sensação de que a escola e os conhecimentos curriculares estão perdendo terreno nessa disputa. De um modo geral, os jovens possuem maior familiaridade com as tecnologias do que seus professores, o que coloca em xeque a relação de poder e as hierarquias do saber na sala de aula. É como se houvesse ameaça à autoridade do professor enquanto detentor do conhecimento.
As manifestações culturais juvenis, principalmente aquelas tão comentadas pelas mídias eletrônicas, podem e devem ser utilizadas como ferramentas que facilitem a interlocução e o diálogo entre jovens, professores e escola, contribuindo para o desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras e que superem as tradicionais hierarquias de práticas e saberes.
O celular parece ser um grande vilão, mas, também, pode servir de aliado, e as escolas devem aproveitar-se desse grande “vilão” para incentivar a participação e o interesse para as atividades curriculares, uma vez que a internet, algo complicado ou não, é espaço e tempo com grandes possibilidades de interações humanas, ou seja, necessitamos de estratégicas para a realização de estudos que aprofundem conhecimentos, utilizando-nos das mais variadas situações e das vias de interação presentes na sociedade tecnológica.
A convivência é uma aprendizagem, é a capacidade que as pessoas têm de viver com outras através do respeito mútuo e da solidariedade recíproca. Isso implica aceitar a diversidade, a capacidade das pessoas de se entenderem, de valorizarem e aceitarem as diferenças e os pontos de vista dos outros. Pensando dessa forma, precisaremos rever nossa prática pedagógica com a pretensão de adaptá-las às necessidades das propostas pedagógicas, plano de trabalho docente e projeto político e pedagógico, sempre voltados para a realidade dos alunos, projetos estes que os tornem reflexivos e críticos.
Os alunos do ensino médio estão bem próximos de ter definições na vida: só estudar, estudar e trabalhar, ou só trabalhar, deixando de estudar. Além da preocupação com o trabalho, existe, para muitos deles, a intenção de fazer vestibular em uma universidade ou faculdade pública, buscando a aprovação. Essa é uma realidade complicada. Uma realidade que está diante de nós e que nos impele a buscar caminhos que possam possibilitar que todos eles permaneçam na escola, motivados para a vida, para a busca de melhor qualidade de vida, ou pela necessidade de conseguir um trabalho que lhes assegure uma melhor remuneração, a possibilidade de sair do mercado informal, na busca por uma ascensão econômica e social.
É necessário que deixemos de organizar os conteúdos com a finalidade última de preparar os alunos para avaliações de final de curso, tais como os vestibulares de acesso ao ensino superior ou as avaliações oficiais. Isso não está de acordo com o interesse do ensino de forma integral, nem mesmo em relação à ética e a cidadania que os fará buscar um futuro de acordo com seus anseios.
Como educadores, devemos agir de modo mais concreto com nossos alunos porque são pessoas em busca de saberes educacionais, compreendendo qual o significado de ensinar, qual o melhor método e o que o aluno deve aprender. Sendo assim, temos que ser críticos, interessados e propiciar saberes da realidade social, levando o educando a pensar sobre suas ações, sendo uma pessoa mais consciente do que deve ser feito, inclusive com um vocabulário mais adequado e simples. Se enxergarmos a realidade, poderemos torna-la menos complicada e mais interessante.
Klein argumenta que devemos ter o cuidado de, ao se constatar os limites e dificuldades dos alunos, não promovermos a subordinação do processo pedagógico às suas limitações, reduzindo o tempo de estudo e os conteúdos a serem trabalhados, ou limitando o estudo a discussões pautadas no senso comum, negando ao educando o domínio do conhecimento científico.
Devemos seguir em frente com o desenvolvimento de projetos com metodologias de organização e de ensino que propiciem a integração curricular, a interdisciplinaridade e o trabalho coletivo, excluindo a prática pedagógica voltada para a fragmentação e inconsistência, distante dos elementos históricos e necessários com os outros saberes, sem fundamentação crítica. Projetos que, como cita o caderno II, esses projetos deverão estar de acordo com o contexto sócio-econômico-cultural no qual o jovem se encontra e que possibilita realizar experiências e perseguir objetivos.
Rodrigues nos diz que existem algumas formas de ação metodológica indicadas para a educação de jovens e adultos, dentre elas: diálogo, flexibilidade, utilização de métodos e técnicas participativas, estabelecimento de um modelo de autodesenvolvimento permanente, tratar erros como oportunidades de aprendizagem e envolvimento dos educandos, levando em consideração que, em educação de adultos, não podemos insistir sobre o conteúdo a ensinar e, sim, a aprendizagem de técnicas e meios para obter o conhecimento, o que é de fundamental importância quando esperamos que os alunos desenvolvam determinadas habilidades para que possam construir e desenvolver suas competências.
O mundo do trabalho está muito presente entre os alunos de nossa escola e nossas obrigações se multiplicam quando precisamos proporcionar ações que façam parte da vida atual ou futura dos mesmos, dos diferentes saberes que possuem, valorizando-os como pessoas, sem olhar primeiro sua condição social, tão indagada nas entrevistas de emprego ou em outros locais.
Além da integração professor-aluno-escola, algo muito importante é a participação escolar. Isso implica levar em conta a formação teórica para a vida cidadã, aprendizagem de valores, conteúdos cívicos e históricos da democracia, regras institucionais, entre outras e a criação de espaços e tempos para a experimentação cotidiana do exercício da participação democrática na própria instituição escolar e em outros espaços públicos.
Um dos caminhos possíveis para pensarmos a formação democrática para a vida pública e para o exercício da cidadania, passa pela dimensão da participação. A formação para a cidadania faz com que tratemos da temática juventude e participação relacionada com a escola. A experiência participativa representa uma das formas de os jovens vivenciarem processos de construção de pautas, projetos e ações coletivas, e é importante por permitir a vivência de valores, como os da solidariedade e da democracia, e o aprendizado da relação com o outro. As regras e a disciplina devem ser construídas de forma participativa e democrática, o que significa aprender a respeitar, perceber e reconhecer o outro e com suas diferenças, sejam elas quais forem.
O incentivo dos valores humanos e de eventos culturais, dando exemplo de paz e caridade, levam todos os segmentos a pensarem e praticarem a cultura da paz, o que proporciona o abandono de práticas como, por exemplo, o “bulling”.
A escola é uma instituição central na vida dos jovens e é nela que passam grande parte da vida. É um espaço-tempo de convivência e aprendizado, por isso, a possibilidade de frequentes transferências de estabelecimento, suas atividades e diferentes processos formativos, conferem aos jovens um desejo e uma necessidade de se fazerem ouvir e de valorizar suas formas de sociabilidade, o que repercute no cotidiano escolar. Eles reconhecem o papel da escola, mas querem também que a instituição escolar esteja aberta ao diálogo com suas experiências do presente e expectativas de futuro.
Os jovens são críticos e, quando ouvidos, podemos perceber que possuem experiências significativas, podendo participar da superação de muitos problemas das escolas públicas, tais como: estrutura física, falta de professores, entre outros.
A adesão à escola ou mesmo o interesse, a motivação para os estudos, dependem muito das experiências individuais, dos interesses e das identidades que são construídas a partir da realidade vivida e das interações com outras pessoas e instituições, entre elas a própria escola.
Para alguns jovens, a escola representa uma obrigação que os pais ou a sociedade impõem. Para outros, estudar está diretamente relacionado à inserção no mercado de trabalho, e passa a traçar planos para o futuro profissional, esperando que a escola contribua para a sua mobilidade social. Outros jovens valorizam a escola devido ao aprendizado que ela proporciona para a vida. Para alguns, a valorização da escola está no fato de esta ser um lugar em que encontram os amigos, fazem amizades e se relacionam, para outros, a escola é um abrigo protetor diante de territórios ou moradia ameaçadores da própria vida.
Pesquisas indicam que os jovens buscam uma escola que faça sentido para a vida e que contribua para a compreensão da realidade e solicitam que o que for ensinado na escola tenha vínculos com o seu cotidiano. Se a escola é lugar de aprender, é importante compreender como os jovens aprendem e quais são os conhecimentos que demandam da escola. Os jovens salientam que é importante que sejam considerados, o que é possível quando é estabelecido um diálogo entre os conteúdos curriculares e a realidade.
Como professores, temos um papel importante na mediação entre o ser jovem e ser estudante, e educar nesta realidade nos pede uma maior inserção no universo juvenil: estarmos próximos dele e aprendermos a ouvi-lo, observando suas potencialidades e estabelecendo relacionamentos interpessoais significativos. Cabe ao professor construir um bom relacionamento com seus alunos, lidando com sabedoria na mediação de conflitos, conquistando sua confiança através do diálogo, respeitando suas opiniões e dando ao jovem a sensação de segurança para que este tenha interesse em aprender.
Nas sociedades modernas, a escola é a instituição que tem a função específica de preparar as novas gerações para a vida social. Seus tempos, espaços, métodos e estruturas são definidos como intencionalidade educativa.
Quando interpelados sobre as razões do abandono ou permanência na escola, em geral, os jovens assumiram a responsabilidade pelos fracassos ou êxitos, outorgados pelo esforço pessoal ou pela falta de interesse na escola. Outros jovens atribuem as razões aos problemas internos da escola, como a falta de infraestrutura ou a má relação professor-aluno.
Considerar a escola uma “chatice”, é uma avaliação comum entre jovens. Ora falam dos tempos, ora dos conteúdos, ora da relação e dos métodos utilizados pelos professores. Diante desta realidade, será importante aprofundar a reflexão para evitar respostas que não condizem com o que é verdadeiro.
Responsabilizar o jovem estudante pelo desinteresse manifesto, ou a sua família, ou mesmo a sua pobreza, pode produzir análises superficiais de pouca serventia para resolver a crise de realização da escola.
Precisamos estar atentos ao fato de que a permanência e o abandono da escola pelos jovens se constroem na combinação de condições subjetivas: apoio familiar, relação estabelecida com os professores, estímulos originados nas redes de sociabilidade, engajamento na rotina escolar e condições objetivas possibilidades de dedicar-se aos estudos, condições financeiras da família, necessidade da certificação, projetos pessoais mais ou menos delineados que resulta em apropriações diferenciadas da experiência escolar.
Infelizmente, temos na indisciplina uma das grandes dificuldades pelas quais a escola passa. Entram nessa categoria a agitação e a gritaria em sala de aula, a falta de respeito com colegas e professores, a falta de concentração no conteúdo das aulas, os burburinhos, as mentiras, as manipulações e os conflitos diários. Precisamos, então, pensar sobre como os jovens estudantes, considerados em sua diversidade, têm lidado com as regras escolares, quer sejam elas “impostas” ou “construídas”, ou como administram a disciplina ou indisciplina como parte do jogo de estratégias de interação das expressões juvenis com a escola. Em muitas ocasiões, incivilidade, maus hábitos e violência se misturam, por isso costumamos considerar toda a quebra de regra ou padrão de conduta como atos de indisciplina.
É extremamente importante que a escola estabeleça parâmetros e procedimentos adequados para as várias situações, inclusive com algumas específicas. Medida necessária para não considerarmos que muita indisciplina pode gerar uma “epidemia de violência”, pois, na maioria das vezes, o que acontece são situações de quebra de regras disciplinares ou mesmo da ausência de normas institucional e coletivamente assumidas pela comunidade escolar.
A escola não é apenas um espaço de aprendizagem, mas lugar social de vivência e experiência da condição juvenil e, na construção das regras, a primeira coisa para considerar uma escola justa é compreender como as regras são definidas, quem as define e como elas são aplicadas, dando a possibilidade para os alunos participarem dessa construção, evitando confrontos futuros.
Idealizar o aluno que queremos que exista, desconhecendo o jovem real que temos diante de nós, é criar uma abstração que violenta a subjetividade juvenil e também dificulta o relacionamento. Enxergá-lo de forma negativa não contribui para apreender os modos pelos quais os jovens constroem a sua efetiva e multifacetada experiência de juventude.
É pela ótica da realidade e das possíveis potencialidades dos educandos, dos professores, da escola, que será possível construir a imagem das várias faces dos jovens estudantes.
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