Temática III

1. Que relações existem entre o que eu ensino e o mundo do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura?

          A realidade da escola tem, há muito, refletido os interesses da classe hegemônica, que objetiva a formação de trabalhadores visando atender as demandas do mercado, transformando-se em trabalhadores/consumidores alienados e que mantenham a acumulação e concentração de capitais nas mãos da burguesia.
          Nesse sentido, uma educação voltada para os princípios de compreensão e engajamento do aluno no mundo do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura, com consciência e assumindo seu papel crítico de produtor da história, se torna mais do que nunca uma necessidade, isto é, formando cada vez mais pessoas capazes de agirem em seu contexto vivencial, buscando a transformação de sua realidade social no sentido de uma sociedade cada vez mais humana e justa.
          Entretanto, a realidade não se coaduna com estes princípios, ou seja, numa escola onde os investimentos públicos têm sido cada vez mais escassos, a formação de professores deficiente, salas cada vez mais lotadas, famílias ausentes, professores desvalorizados e doentes, estado patrimonialista e autoritário, etc, dificilmente a pesquisa e a produção de conhecimentos se realizará. Sem bibliotecas, sem laboratórios equipados, com docentes sobrecarregados e, principalmente, com um processo pedagógico extremamente burocratizado, o máximo que se pode chegar numa sala de aula é a um processo de decoreba e acumulação de conceitos que são repetidas nas provas visando a aprovação do discente.
          Assim, ao mesmo tempo em que se discute e se assumem as dimensões da formação integral como elo fundamental para um processo educativo realmente formativo, o paradoxo com a realidade fica escancarado. Não há como defender politicamente a educação pautada pela inserção no mundo do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura quando se sabe que a sociedade em suas instancias hegemônicas esperam aprovações recordes, sem estarem preocupados com a qualidade. O debate epistemológico deve passar, antes de mais nada, por uma nova forma de se compreender e agir dentro da escola: um docente que se assume enquanto trabalhador, que forma trabalhadores, que são filhos e filhas de trabalhadores.
           O conhecimento e a formação integral são, acima de tudo, a luta por uma sociedade mais crítica, com redistribuição de rendas, com um consumo mais consciente, mais justa e humana, numa escola menos burocratizada e onde a democracia e a cidadania engajada sejam a base de todas as ações.

2. Dimensões da formação humana: trabalho, ciência, tecnologia e cultura e os sujeitos do ensino médio

           Após a leitura, análise e reflexão das DCNEM e Resolução CNE/CEB n⁰ 02/2012  o coletivo chegou  ao entendimento que os referidos documentos estruturam todo o ensino médio de uma forma positiva, porém ainda há muitos entraves para a implementação de tais propostas.
           Dentre as proposições que geraram polêmicas elencamos as seguintes fragilidades que podem obstruir a realização das ações propostas:
• Grade curricular que contemple a equidade das disciplinas para quebrar a hierarquia tradicionalmente existente entre elas.
• Estruturar melhor as condições físicas (laboratórios, refeitórios, bibliotecas, quadras poliesportivas, banheiros, salas de aula) e profissionais (condições de trabalho para o professor, com maior número de horas para planejar suas aulas e reduzir a quantidade de alunos em sala);
• Cumprimento estabelecido pela lei 9394/96 a respeito da quantidade de alunos por sala de aula;
• Formação dos profissionais da educação para que tenham condições de atender as dificuldades enfrentadas pelos alunos,
• Plano de carreira que valorize os profissionais da educação, para que os mesmos se sintam estimulados a continuar na profissão e a desenvolver sue trabalho cada vez melhor.
           Portanto, sabemos que essas mudanças devem partir dos órgãos superiores da educação, pois de nada adianta a escola e seus professores tentar realizar modificações se acaba esbarrando nas condições estruturais oferecidas/impostas do sistema.