Temática do caderno 2- Colégio Estadual João Manoel Mondrone – Medianeira PR

Iniciamos nosso diálogo falando do “jogo de culpados” na escola. Como “virar este jogo” e construir novos relacionamentos entre professores e seus jovens estudantes? Em sua percepção, faz sentido  esta afirmação de que professores e jovens se culpam mutuamente e os dois lados parecem não saber muito bem para que serve a escola nos dias de hoje? Que tal promover uma conversa na escola sobre a questão dos sentidos do estar na escola para professores e estudantes? E por que não elaborar estratégias para promover o reconhecimento mútuo? Por exemplo, você pode elaborar mapas das identidades culturais juvenis do bairro; redigir cartas aos jovens estudantes para que eles se revelem além de suas identidades uniformizadas de alunos; promover jogos de apresentação na sala de aula, dentre outras atividades. E em quais outras iniciativas podemos pensar para ampliar o campo de conhecimento sobre quem são eles e elas que estudam e vivem a escola? Buscar perceber como os jovens estudantes constroem o seu modo próprio de ser jovem é um passo para compreender suas experiências, necessidades e expectativas.

Foi realizado uma pesquisa com alunos do ensino médio, o que chama a atenção, é a dificuldade que os alunos  têm de atribuir sentido às disciplinas e aos conteúdos estudados. No Ensino Médio, o aluno chega a estudar 13 disciplinas, por isso, percebemos que o relacionamento entre professores e alunos não devem se restringir a realização somente de aulas expositivas, mas promover diálogo, trabalhar em grupo, realizar aulas interdisciplinares, com transmissão do conhecimento de forma contextualizada, procurando metodologias, estratégias e recursos adequados para motivar, promovendo uma aproximação com os alunos, com mais diálogo, conhecimento da sua realidade, dos seus saberes e gostos, dos seus problemas...
Elencamos algumas iniciativas, já utilizadas neste estabelecimento de ensino, que nos auxiliam a conhecer melhor a história dos nossos jovens e suas necessidades.
-  discussões sobre quais são os interesses e que atividades os alunos gostariam de desenvolver na escola.( A escola que temos/ A escola que queremos)
-  participação dos alunos no grêmio estudantil.
- debates com os alunos sobre temas de seu interesse a fim de escutar o que estes têm a dizer.
- conhecer a realidade do aluno – pesquisas, conversas, que levam a saber como é o local onde vivem, que dificuldades enfrentam, o que fazem quando estão em casa, com amigos, que tipo de atividade eles sentem mais prazer em realizar, etc..
- Apresentações culturais / Show de talentos, onde alunos demonstram  suas capacidades em áreas  diversas, como representação, canto, dança.
- Exposição de trabalhos desenvolvendo o desenho, a pintura, a criatividade, os conhecimentos adquiridos...
- Estudos referentes a ENEM, vestibular, visita a universidades, palestras vocacionais, para conhecer diferentes cursos ofertados...
Dessa forma buscamos melhorar os métodos de ensino, fazendo com que o aluno aprenda algo novo, que gere crescimento intelectual, emocional, social; desenvolvendo projetos, eventos culturais e outras atividades. Oferecendo atividades de informação e orientação profissional, cursos oferecidos pela universidade também podem ser uma forma de aproximação. Compreendemos também que são necessárias aulas de leitura, interpretação e concentração para poder trabalhar os conteúdos propostos.

 

As pesquisas apontam que uma das coisas que os jovens mais fazem na internet é conversar. E que tal propor um diálogo com os estudantes
na escola sobre as conversas na internet? Será que o que se conversa pela internet tem “menos valor ou importância do que aquilo que se diz presencialmente? O que os jovens de sua escola diriam? Vamos tentar este papo como um exercício de aproximação com os estudantes? Professor, professora, sua escola está também aberta para o diálogo com as culturas juvenis que envolvem os jovens fora da escola? Que tal promover um diálogo sobre a questão, após assistir ao documentário O desafio do passinho: uma forma de expressão corporal e sociocultural? Ele está disponível no site: <http://www.emdialogo.uff. br/content/o-desafio-do-passinho-uma-formade- expressao-corporal-e-sociocultural

Em pesquisa com os estudantes, com respeito ao uso da internet, do celular e das novas tecnologias, obteve-se informações bastante interessantes que revelam que: Os estudantes valorizam seus professores e a escola, dão um  valor significativo ao processo de desenvolvimento educacional. Muitos estudantes revelaram que o uso da internet com maior frequência na escola facilitaria a aprendizagem, pois, a internet é tida como ferramenta indispensável na busca de informações atuais e antigas, comentaram ainda que há professores já utilizando essas ferramentas para passar conteúdos e indicar fontes e referências de estudos para aprofundar os conhecimentos em casa,  alguns utilizam também estes recursos para  postar lembretes sobre dias de provas e entrega de trabalhos, porém a aula  e a conversa presencial sempre tem um valor maior.
Fora do horário escolar os alunos a utilizam a internet para ter acesso a curiosidades, jogos, participar de redes sociais e dos papos virtuais, utilizam também para pesquisas de trabalhos escolares, baixar músicas, citaram também que esses recursos são meios para compartilhar e discutir informações, para aquisição de conhecimento sobre variadas culturas e de novos pensamentos, para divulgação das ideias.
O que chama atenção são os perigos de exposição e contatos com pessoas desconhecidas que quase não aparecem na fala dos alunos, assim como não relatam monitoramento do uso da internet em casa e no celular. Chegamos à conclusão que ainda não estamos preparados para lidar com esta situação, precisamos de preparo e discussão amparada na parte legal.

E nós, professores e professoras, como podemos ser parceiros e construtores de projetos para o futuro dos jovens e das jovens estudantes? Que tal buscarmos estratégias metodológicas para que os estudantes falem de si no presente e de seus projetos de vida futura? Uma troca de correspondência entre os estudantes com a mediação docente pode abrir a possibilidade para o diálogo sobre as expectativas juvenis frente a vida. Da mesma forma, e pensando no presente de muitos jovens trabalhadores, tente também saber: quantos estudantes trabalham em suas turmas; que trabalho realizam; quais trabalhos já fizeram; sob quais condições; se foram feitos com segurança e proteção ou em condições de exploração e desproteção. Seus estudantes têm consciência de seus direitos de trabalhadores e trabalhadoras? Não trabalham, mas pensam em trabalhar ainda durante o tempo de escola? Que tal abrir um diálogo com eles sobre essas e outras questões?

  A coleta de informações foi realizada no colégio João Manoel Mondrone, em Medianeira, junto aos alunos do ensino médio normal e dos cursos profissionalizantes. Embora o perfil dos alunos varie muito, o trabalho configura-se como uma necessidade para os jovens, aparecendo precocemente em suas vidas. Apesar de estarem trabalhando, os jovens permanecem estudando, a maioria morando com os pais e dependendo financeiramente deles.
Principalmente nos cursos profissionalizantes, nos anos finais, a maioria dos alunos exerce alguma atividade remunerada, geralmente como estagiários, a renda cobre gastos pessoais que  se resumem em alimentação, tecnologias, estudos, festas e roupas. Mostram interesse em melhorar financeiramente, porém, não sonham com riqueza e sim com conforto. Entendem que conforto e dinheiro caminham de mãos dadas, mas não sacrificariam o bem-estar em busca de acumulo de bens.
Demonstram também querer fazer diferença na sociedade através da sua profissão, dizem se sentir na obrigação de fazer algo pela sociedade.

E se todos os professores e professoras se perguntassem sobre o que os jovens e as jovens estudantes pensam e sentem sobre a escola de Ensino Médio? Seria possível surgirem desta abertura à escuta e ao diálogo alternativas para a superação dos crônicos problemas de relacionamentos e realização da vida escolar que afetam o cotidiano de muitas escolas? O gênero carta pode ser uma boa alternativa para a abertura do diálogo com os jovens estudantes. Que tal então produzir coletivamente uma carta dos professores e professoras endereçada ao jovem estudante de sua escola? Esta carta coletiva pode ser afixada num mural, entregue a cada um dos estudantes ou mesmo ser publicada na internet. Acesse no Portal EMdiálogo a carta ao jovem estudante elaborada coletivamente por professores do estado do Ceará:
<http://www.emdialogo.uff.br/content/cartaao- jovem-estudante>.

Olá, jovens estudante!

Vocês sabiam que nós, professores, nos preocupamos com vocês? Após dezenas de anos de experiência no trabalho docente, experiência diária que nos trazia várias reflexões no final de cada dia de convivência com os alunos, vemos que aprendemos e continuamos a aprender muito com vocês e permanecemos na certeza de que também aprenderam e aprendem muito conosco. Talvez não somente os conteúdos que desenvolvemos em sala, mas a convivência com os jovens fez com que tivéssemos um olhar mais atento ao seu comportamento, seus sonhos, suas angústias, suas individualidades, seus prazeres, suas lutas, enfim, aproximou-nos deste universo tão complicado que envolve esta fase da vida dita como conturbada.
Toda a instituição escolar foi estruturada e está voltada para bem atender a vocês. Alguns valorizam e respeitam o ambiente escolar, mas outros se referem a este local como se fosse uma prisão, um quartel general, pois não estão habituados ou se recusam a seguir as normas básicas de convivência. A escola é um ambiente de convivência social que imita a sociedade como um todo.
Por mais que os professores se esforcem, jovens, nunca vão conseguir atingir a totalidade no atendimento ideal a seus educandos, pois vocês gostariam, e em muitos casos necessitariam de uma atenção especial, principalmente pelas dificuldades e conflitos individuais próprios da fase que estão vivenciando e que tenho certeza de que influenciam muito no seu rendimento escolar.
Os fatores que favorecem de distanciamento entre nós professores e vocês alunos são muitos. É a mesma diferença que gera conflitos de convivência entre pais e filhos. Os pais e os professores já têm uma experiência de vida que vocês insistem em ignorar, pois querem aprender tudo sozinhos. Geralmente, o resultado disso é a verificação, após um tempo, que e as pessoas que queriam orientar vocês a seguirem o melhor caminho, estavam com as melhores intenções. Isto se referindo aos seus estudos, à sua formação.
Em nossos dias, o universo juvenil tem como hábito o uso da tecnologia. É difícil imaginar um jovem que não esteja constantemente conectado ao mundo virtual, principalmente às redes de relacionamentos sociais. Este comportamento tornou-se uma forma de identificação para os diversos grupos a que vocês pertencem. Nós, educadores, estamos sempre acompanhando e nos adaptando a estas transformações, que são reflexos da mudança da própria sociedade.
A preocupação de todo professor que tem seu trabalho voltado a vocês, jovens do ensino médio, está na verificação da falta de compromisso em assumirem a responsabilidade de serem estudantes, pois demonstram que estão interessados somente na busca do que venha suprir suas necessidades imediatas, sem uma perspectiva de realização de um sonho ou de um projeto de vida a longo prazo.
A partir do momento que vocês, jovens, entenderem que são sujeitos agentes e responsáveis pela sua própria formação e que é somente através desta que terão condições de transformarem a sua vida, é a maturidade que está se firmando em seu ser. Enquanto isso não acontecer, permanece em nós, professores, a preocupação da responsabilidade na qualidade de sua formação.

 

Atividade realizada em grupo: Lenir de Moraes dos Santos, Neide de Oliveira,  Regina Remor Mazzurana, Stefânia Schier