Sujeitos do Ensino Médio: a diversidade no CEEBJA _ FRANCISCO BELTRAO.
A partir das leituras realizadas percebemos que a escola não é o único espaço de socialização dos jovens, e isso é ponto de partida para repensarmos nossa prática pedagógica e o currículo da nossa escola.
Para Silva (2012), a práxis pedagógica precisa se pautar em currículo dialógico, mediatizados pelos sujeitos a partir da relação com o outro, com o meio e com o conhecimento historicamente construindo para os mesmos se perceberem e atuarem como protagonista de transformação social.
Observa-se também, que a escola deve contribuir para que os alunos possam realizar escolhas conscientes. Como fazer escolhas conscientes sem ter opção? A sociedade, da forma como esta organizada, possibilita aos jovens fazer escolhas? Como a escola pode em meio a essas contradições contribuir para uma formação humana do sujeito?
Assim, pensar na juventude como categoria social, marcada em sua trajetória pela diversidade sócio-histórica-cultural requer de nós educadores uma compreensão mais ampla sobre as relações sociais e a interferência dessas nos currículos que se trabalha na escola.
Para Silva (2012), a educação e a escola, como lugares privilegiados de formação humana, precisam se constituir, por meio de uma estrutura curricular, como espaços fundamentais no processo de reconhecimento, reflexão e resignificação das múltiplas identidades vivenciadas pelos jovens em suas práticas sociais e culturais. (Silva, 2012.p.)
Dessa forma, como nós educadores podemos contribuir para que isso aconteça, uma vez que, também somos determinadas por um sistema que tem apenas como objetivo a preparação para o mercado de trabalho “mão de obra” que são definidos por grandes incorporações, não levando em consideração a formação humana?
Percebemos que maioria dos jovens tem um projeto de vida, mas quase sempre um tanto ilusório, onde buscam ganhar muito e com pouco comprometimento. Na escola de Eja, percebe-se que o os jovens e adultos, pela experiência de vida e com mais maturidade suas escolhas e projetos são mais seguros e objetivos.
Dessa forma, estamos constantemente sendo chamados a escolher a sociedade contemporânea, a decidir e buscar novas condições para sobrevivência social. Para o jovem é um processo de aprendizagem no qual, o maior desafio é aprender a escolher e a realizar-se com suas escolhas, pois se aprende fazendo, errando e refletindo sobre seus erros. Cabe a escola incentivar, mediar a suas reflexões e mostrar novos caminhos a serem trilhados para as suas realizações.
Sabemos que alguns jovens tem suas primeiras experiências com o mundo do trabalho através de estágios, cursos; por vários outros motivos já faz parte da sua sobrevivência; vivem, pois, neste espaço de sociabilidade. Em contra partida, a sociedade capitalista usa deste trabalho como processo de alienação, cuja finalidade, segundo Marx, é gerar capital.
Tendo em vista todas essas contradições, os jovens estudantes de hoje tem cada vez mais dificuldades de adaptar-se a escola organizada pela verticalização de hierarquias. O desencaixe entre a instituição escolar e seus estudantes não deve ser entendido como uma incompetência da escola em lidar com os jovens estudantes, mas como um processo de transformações.
A escola precisa, portanto, ser acolhedora; estruturar-se de maneira viva, dinâmica estimulando a juventude a se manifestar, organizando atividades que favoreçam o convívio dentro e fora da sala de aula. Proporcionar e incentivar uma comunicação intensa e livre para trabalhar na perspectiva do diálogo com os jovens estudantes tendo como referência as culturas juvenis das quais participam hoje, visando sempre o desenvolvimento de suas capacidades, a ampliação e o enriquecimento dos referenciais na construção de suas identidades seja no convívio social ou particular.
Porém, para nossos alunos da EJA a escola é a instituição central na vida dos jovens,eles reconhecem o papel dela,mas querem também que esteja aberta ao diálogo, com suas experiências do presente e expectativas do futuro.Os jovens produzem uma maneira própria de ver e valorizar a escola, a partir de seus pertencimentos aos diferentes contextos sociais. As pesquisas indicam que eles demandam de uma escola que faça sentido para a vida e que contribua para a compreensão da realidade.
A grande maioria garante que a instituição é o lugar para adquirir conhecimentos e informações em geral. Também acreditam que a escola colabora para terem um futuro melhor, pois ascendem no trabalho de acordo com o nível de escolarização, alguns pretendem cursar o ensino superior. Foram unânimes em afirmar que a escola é um excelente espaço para convívio, respeito e novas amizades. Os educandos adultos retornaram para incentivar os filhos a estudarem também e acompanhar o processo educacional dos mesmos.
Outro aspecto significativo é que os educandos sentem-se valorizados por todos os profissionais da educação e pelos próprios colegas de turma.
Os educandos da EJA vislumbram expectativas diferentes para o futuro:
• cursar uma faculdade;
• ajudar pessoas que estão envelhecendo e têm problemas de saúde e incentivar a prática de esportes;
• melhorar suas finanças;
• ter um emprego melhor;
• ajudar na escolarização dos filhos;
• ser mais humano e ajudar as pessoas mais necessitadas;
• dar um futuro melhor para a família;
• concluir um ciclo da vida que foi interrompido pelo casamento e filhos;
• não desistir dos sonhos e estudar com afinco para conquistar o que almejam.
Portanto, observa-se que há dois tipos de participação: uma que envolve a formação teórica para a vida cidadã, compreendida como conteúdos científicos e históricos; outro é a criação e utilização de espaços para experimentação cotidiana.
Nesse contexto com nossos educandos da EJA, corroboramos com Freire,
A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.
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