Seminário Internacional de Educação acontece no Rio Grande do Sul

Seminário Internacional
Educadores debatem reestruturação curricular e mudanças Educacionais

Dando continuidade as atividades do Seminário Internacional de Educação – Concepções e Sentidos da Educação - aconteceu na tarde desta sexta-feira (19) o painel “Reestruturação curricular, trabalho pedagógico e mudanças educacionais: vínculos e desafios necessários”, como painelistas Ana Benavente, Antônio Flavio Moreira e Mônica Ribeiro da Silva, e a mediação do diretor do Departamento Pedagógico da Seduc, Silvio Rocha. 

Ana Benavente - Doutora em Ciências da Educação pela Universidade de Genéve-Suiça, professora da Universidade Lusofona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa e consultora da UNESCO – iniciou sua palestra dizendo que o Estado do Rio Grande do Sul vive um momento singular. “Vocês estão passando por um momento sensacional de construção de novos caminhos. Um momento que não acontece muitas vezes na vida”, disse. Após, destacou que a reforma do sistema de ensino faz parte da mudança social contemporânea cada vez mais maciça no conjunto da vida social. Entre os principais pontos para a mudança citou a necessidade de dispositivos de mudança continuada e controlada, a articulação do Estado através de recursos centrais, com a capacidade de intervenção eficaz, a definição dos papeis dos protagonistas e a produção de uma concepção moderna. “A escola não se transformou de modo a conseguir os seus objetivos mais positivos, como a universalização do relacionamento democrático, um mínimo cultural para todos os alunos, a promoção da pluralidade de excelências e a transmissão dos instrumentos de aprendizagem que permitam a todos participarem de modo crítico e transformador”,afirmou. A pesquisadora portuguesa também elencou cinco pontos de partida para a reflexão e construção de uma nova forma de ensino, baseados nas ciências sociais e humanas, a partir de uma visão da sociedade e da escola: a natureza da escola a sua importância, as políticas e as práticas, o diálogo político continuado (quem faz a escola?), sair da escola do passado para construir o presente e o futuro nos tempos atuais (de Gutemberg ao Google) e, finalmente o “querer, saber e o poder”. Segundo ela, a principal razão para, mundialmente, ainda não conseguirmos avançar nas questões educacionais da “Educação para Todos” é que “queremos responder para todos com a escola que era para alguns”, argumentou. Para finalizar apontou cinco boas práticas universais a serem aplicadas: apoiar a inovação fundamentada e avaliá-la, libertar o currículo para além do essencial, praticar a interdisciplinaridade, recusar a exclusão como uma fatalidade e investir em todos os níveis de educação e formação, do infantil aos adultos.

O segundo painelista da tarde, Antonio Flávio Moreira - Doutor em Educação pela Universidade de Londres e professor na Universidade Católica de Petrópolis/RJ - abordou a relevância do currículo que necessita relacionar-se com os conhecimentos e habilidades que permitam o bom desempenho dos alunos no mundo imediato. Além disso, ressaltou que as diferentes áreas do conhecimento são extremamente úteis para uma compreensão mais profunda dos distintos fatores envolvidos no processo curricular. “Precisamos construir currículos que propiciem a formação de novas identidades, a aprendizagem dos conhecimentos sistematizados e a capacidade de conviver em sociedades plurais em que as relações de poder, que sustentam diferenças, preconceitos e discriminações sejam permanentemente desestabilizadas”, disse. Moreira também propôs a reflexão e construção do que chamou de “qualidade negociada”, onde novas possibilidades de currículo e avaliação podem ser um novo caminho ou uma reinvenção da escola. Para tanto, é necessário um processo de cooperação entre as secretarias de Educação, gestões escolares e professores para a constituição de uma perspectiva de crítica cultural, onde a escola passa a ser um espaço permanente de compreensão, análise e contestação. “Podemos abrir os portões e muros das nossas escolas para as experiências culturais onde estão inseridas, para uma perspectiva crítica existente daquilo que nos cerca, da rotina que se torna inquestionável. A ideia é transformar a escola num espaço de pesquisa, onde todos, gestores, professores e alunos são pesquisadores”, finalizou.

Encerrando o painel a Doutora em Educação pela Universidade Católica de São Paulo e professora da Universidade Federal do Paraná, Mônica Ribeiro, falou sobre as políticas curriculares e a cultura escolar perante os movimentos de recontextualização, adesão e resistência às propostas de reconstrução curricular do trabalho pedagógico. “Esse é um movimento que não se repete de escola para escola, que não é homogêneo. Movimento complexo e rico e que se diferencia de lugar para lugar, porque depende dos sujeitos que estão interagindo com as proposições”, ponderou.

Sobre a experiência do Ensino Médio Politécnico no Rio Grande do Sul apresentou elementos para pensarmos nos movimentos de adesão e resistência das escolas diante da proposta. Como ponto de partida, a avaliação da juventude que está presente na escola. “Os sentidos da escola para a juventude atual é outro. Existe uma perda de significado, uma crise da escola e um deslocamento de sentido. Além disso, é preciso analisarmos os vínculos formais e informais que definem, ou não, a permanência desses jovens na escola”, avaliou.

Após, os pesquisadores responderam aos questionamentos dos participantes, que fizeram elogios, contestações e ponderações relevantes ao debate proposto. O evento segue a noite, com o lançamento do livro “Reestruturação do Ensino Médio - pressupostos teóricos e desafios da prática” e o painel “Dilemas e Sentidos atuais do Ensino Médio e da Educação Profissional”.