Revista Virtual: a produção e leitura de textos mediados por recursos tecnológicos.

     

    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

     Tornou-se lugar-comum dizer que a leitura é importante para o aprendizado do aluno e para o desenvolvimento de sua capacidade reflexiva. Da mesma forma, escutamos cotidianamente os professores de línguas e de outras disciplinas dizendo que o aluno lê pouco, compreende pouco.

     Diante de filmes, séries, sites, jogos, enfim, uma infinidade de narrativas interativas percorrendo o cibermundo, o texto ficou para trás, mas isso não implica dizer que o aluno simplesmente não lê. Talvez não leia na mesma medida que as gerações anteriores, ou talvez não leia os mesmos objetos de leitura.  Ainda assim, nossos estudantes pós-modernos, acostumados a tablets, computadores e smartphones leem. A leitura é que se transformou com os novos suportes virtuais.

     Os saberes e fazeres humanos foram transformados com as diversas tecnologias, e cada vez mais as máquinas e os sistemas são utilizados no cenário contemporâneo.  (...) A interação social passou a ser a grande busca dos sistemas desenvolvidos. A tecnologia, antes imaginada apenas pelo viés automático, robotizado, começou a ser intermediária entre as pessoas (...) (VIANA & MORAES1, p. 261)
     Os alunos estão lendo o tempo todo as mensagens via What’sUp que enviam entre si e também leem as postagens no facebook e os comentários no Instagram. O que o aluno já não lê são as clássicas obras como Dom Casmurro de Machado de Assis ou Senhora de José de Alencar ou Moby Dick de Herman Melville. O projeto do qual esse artigo é fruto não tentou resgatar esse tipo de leitura do texto literário tradicional, embora esse possa ser um novo passo no caminho que já iniciamos.  A ideia que perseguimos aqui foi a de provocar a leitura e produção de texto em um suporte tecnológico. Para isso, buscamos gêneros textuais jornalísticos e de cotidiano.
Instigados pelo curso SISMEDIO que nos convoca a pensar e refletir sobre as diversas práticas de linguagem, nós desenvolvemos o projeto intitulado “Revista Virtual” em três etapas de execução.

Instigados pelo curso SISMEDIO que nos convoca a pensar e refletir sobre as diversas práticas de linguagem, nós desenvolvemos o projeto intitulado “Revista Virtual” em três etapas de execução.

A primeira etapa consistiu em instigar a leitura. Afinal, não conseguimos escrever sem ler. A leitura é o carvão da máquina da escrita que possuímos em nossas mãos e em nossas mentes. Sem a leitura, não somos motivados, não somos instigados para a produção textual.  Cada professor buscou trazer textos e artigos de jornal e revistas para que o aluno pudesse analisar o discurso, as imagens que também são texto, o conteúdo, o motivo por trás de cada mensagem. Nessa etapa, não utilizamos leitura de textos literários como contos, poemas e romances como já foi mencionado.

    A essa altura, o aluno foi levado a perceber as distinções entre alguns gêneros textuais como, por exemplo, o editorial e o artigo, a notícia e a coluna de opinião, entre outros. O estudante precisava compreender que cada gênero possui especificidades que fazem o leitor identificá-lo como tal e, portanto, cumprir o objetivo comunicacional para o qual o determinado texto foi gerado, pois, como Marcuschi (2002, p. 33) postulou  “quando dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma linguística e sim uma forma de realizar linguisticamente objetivos espeáficos em situações sociais particulares”.

    Depois dessa primeira incursão no mundo da leitura, partimos para a produção textual. Os alunos foram instigados a escrever artigos para a publicação em uma revista virtual. O tema era livre e o aluno poderia escrever sobre o que desejasse, sobre o que despertasse seu interesse para a leitura. Em grupos, os alunos passaram a planejar seus textos, com as orientações dos professores participantes do projeto.

   Assim que os textos foram concluídos, os alunos foram levados para a sala informatizada para a seleção de imagens e para a digitação do texto. Todos os textos foram publicados no endereço: leituraemblogs.blogspot.com.br e a revista virtual foi intitulada de “LEITURA EM BLOGS” .

  Ao todo, a revista foi subdividida em sete colunas: o editorial (produzido pelos professores participantes do projeto), beleza/moda, culinária, cultura, curiosidades, esporte e opinião que contém artigos produzidos pelos alunos.

Como os artigos estavam destinados para a publicação em blogs, os alunos foram orientados a “economizar” as palavras e investir em imagens que colaboram para a produção do sentido do texto que se quer alcançar.  Essa orientação foi necessária, pois os próprios alunos admitiram que os textos ‘on line’ são menores e são ‘feitos’ para uma leitura rápida, dinâmica, interativa.
    Outro ponto importante é que como alguns professores participantes lecionam a língua inglesa, os alunos foram orientados a escrever nessa língua, o que criou um ambiente multicultural de produção de texto e leitura.

    Após concluída a etapa de produção textual e publicação na revista virtual, os alunos foram provocados a conferir a revista e a ler os artigos online, terceira etapa do projeto. Os alunos demonstraram interesse pela leitura e comentaram em sala a respeito dos artigos produzidos pelos colegas. Os estudantes mostraram-se orgulhosos pelo feito, uma vez que se envolveram com toda a produção da revista. Como o artigo está disponível para que qualquer pessoa com acesso a internet também possa ler, os alunos comentaram que a atividade foi gratificante, pois alguns pais e responsáveis também puderam ler os artigos produzidos, ampliando o leque de leitores para os textos elaborados, afinal, 

o computador, funcionando como uma interface entre o usuário e o mundo digital, cria novas possibilidades de práticas leitoras, abrindo perspectivas para outros paradigmas de compreensão das tessituras da cultura contemporânea. (Viana & Moraes, p. 83)

Por fim, o objetivo principal que era a fomentação da leitura e produção da escrita num ambiente virtual foi plenamente alcançado. As dificuldades com o manuseio da ferramenta blog, com a edição do texto e das imagens foram também importantes para a compreensão de que o texto virtual possui outros recursos que devem ser levados em conta.

Importar tecnologias em sala de aula não é mais uma questão de motivação e de busca por novos horizontes a serem explorados. Fazer uso de suportes digitais como os softwares educativos e a web na educação tornou-se um desafio para o educador, que deve transpor muitas barreiras.  (VIANA & PESCE, p. 118.)

Enfim, restou a compreensão de que o suporte influencia o texto e, consequentemente, influencia a leitura.  Como a leitura transformou-se com o novo contexto tecnológico, também os educadores precisam buscar novos meios de mediação da leitura e da prática de linguagem.

Referências

MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, A. P. et al. (org.) Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro : Lucerna, 2002, p. 19-36.
VIANA, Elisangela; PESCE, Marly Kruger de. Aprendizagem de Inglês utilizando blogs como suporte didático. IN: Caderno de Iniciação à Pesquisa. V. 10 novembro/2008, p. 118-121. Joinville, Editora Univille: artigo científico publicado em 2008.
VIANA, Elisangela; MORAES, Taiza Mara Rauen1. Espaços poéticos virtuais: uma perspectiva semiótica. In: LAMAS, Nadja de Carvalho; JAHN, Alena Rizi Marmo (org). Arte e Cultura: passos, espaços e territórios. Joinville, SC: Editora Univille, 2012. Capítulo de livro p. 161-171.
VIANA, Elisangela; MORAES, Taiza Mara Rauen2. Leituras em meio eletrônico: “Relógio de Ouro” de Machado de Assis. In: SILVA, Nivea Rohling da; AGUIAR, Maria Aparecida Lapa; KOERNER, Rosana Mara (org). Múltiplos Olhares para as práticas de linguagem no espaço-tempo da sala de aula. Curitiba, PR: Editora CRV, 2011. Capítulo de livro p. 81-98.

Este projeto foi aplicado pelos professores:

Adriana Oliveira, Elisangela Viana, Inês Correa, Isabella Rego, Luciana Martendal, Lucinei Garcia, Márcia Calbo, Moema de Gregógio Rodrigues, Mônica Goerz, Roseli Viebranz Domingos.

Sob Orientação de Sônia Maria Gomes Silveira

 

Comunidades: