Ressignificando o ensino das Ciências da Natureza no Ensino Médio
Edileia de Aquino Ramalho
Eliana Gomes Santana
Eliane de Souza
Elismery Ferreira Macarios
Elizabeth Vidolin Alpendre
Fernanda Caldas Fuchs
Noely Maria Lesnau
Simone Vosne Portela
Pensando-se no redesenho curricular e no desenvolvimento das escolas públicas de ensino médio, a formação dos sujeitos e, em particular, dos profissionais da educação, o estudo do Caderno III, Etapa II do Pacto Nacional pelo fortalecimento do Ensino Médio revela que o debate precisa estar embasado na formação humana integral, valorizando-se ainda mais a diversidade de práticas pedagógicas e garantindo-se uma educação de qualidade a todos. Nesse sentido é que o debate sobre a base nacional comum do currículo constitui objeto de estudo desta formação continuada.
Outro elemento importante também na reflexão sobre educação de qualidade e formação humana integral é o estudo de todas as áreas por todos os professores e profissionais da educação cuja relevância propõe o aprofundamento de discussões, apontando-se, consequentemente, para as articulações entre os conhecimentos das diferentes disciplinas e áreas.
A partir da realidade escolar podem-se ampliar as compreensões sobre o todo, isto é, conhecendo-se todas as áreas, juntamente com as quatro dimensões fundamentais do conhecimento, pode-se obter aprofundamento. Confere, pois, ao que se entende por sair do senso comum e adentrar ao conhecimento cientificamente elaborado.
Vale citar, portanto, as quatro dimensões fundamentais em destaque nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM):
a) compreensão sobre os sujeitos do Ensino Médio considerando suas experiências e suas necessidades; b) escolha de conhecimentos relevantes de modo a produzir conteúdos contextualizados nas diversas situações onde a educação no Ensino Médio é produzida; c) planejamento que propicie a explicitação das práticas de docência e que amplie a diversificação das intervenções no sentido da integração nas áreas e entre as áreas; d) avaliação que permita ao estudante compreender suas aprendizagens e ao docente identificá-las para novos planejamentos (BRASIL, 2014, p.4).
Tais perspectivas apontadas pelas DCNEM destacam a importância da leitura com aprofundamento diante de uma formação humana integral, bem como a necessidade em se objetivar seja nos planejamentos, nos documentos oficiais das instituições de ensino, em sala de aula, nos laboratórios, enfim, é preciso incitar os estudantes a “manter a curiosidade e o desejo de compreender” o mundo e buscar nos estudos das ciências da natureza essas respostas (BRASIL, 2014, p.6).
Alguns obstáculos ainda precisam ser retirados do caminho da curiosidade e do desejo de compreensão, os preconceitos com relação às disciplinas de biologia, física e química cujos rótulos são bem pejorativos: chato, burocrático e de decoreba. Nesse sentido, para que uma mudança ocorra efetivamente é preciso que haja uma ressignificação dos objetos e sentidos da educação científica no contexto escolar. É preciso que o ensino destas ciências seja significativo, estimulante e motivador.
Contudo, é preciso demonstrar que o conhecimento científico muda, transforma-se, evolui, busca alternativas, questiona, pensa diferente. Nesses casos, o estimular a investigação através de aulas práticas pode ser uma das soluções encontradas.
Nesse sentido, apresenta-se uma das experiências realizadas no colégio cujo objetivo foi o de desenvolver o conhecimento científico sob a orientação do professor avaliando-se os seguintes elementos: observação; investigação; planejamento e acompanhamento do processo de aprendizagem dele mesmo; elaboração de gráficos; leitura de gráficos; conhecer sobre a reprodução dos peixes; interação com outras áreas de conhecimento; avaliação dos resultados.
A metodologia utilizada consistiu em observar se durante o processo de aprender do aluno este já se apropriara das formas para dominar a situação e acionar os elementos intelectuais necessários para desenvolver essa atividade. Desse modo, o reconhecer dessa apropriação através de diálogos durante as aulas e por escrito, facilitou para averiguação e aperfeiçoamentos, tanto do professor quanto do estudante.
Para os estudantes do Ensino Médio o ato de ser avaliado com relação a esses conhecimentos foi essencial, pois ajudou-os a resolver problemas, inclusive, pessoais. Ao professor envolvido, observou-se que algumas questões podem ser retiradas do processo, bem como o acréscimo de outras.
Outro importante detalhe nessa atividade, é de que, como os alunos são surdos, existe um obstáculo na aprendizagem que é a língua, o que acarretou dado negativo com relação ao atraso cognitivo percebido durante todo esse processo executado. Os itens negativos observados foram:
• Impossibilidade de considerar um problema de diferentes pontos de vista;
• Dificuldade em aprender a estratégia necessária para realizar uma tarefa específica;
• Ignorância do propósito da estratégia em situações vivenciais e de estudo.
Tais dificuldades levaram os estudantes a não conseguir ou ter dificuldades em planejar, acompanhar e avaliar seu próprio processo de aprendizagem, não percebendo como ele próprio aprende, o que já sabe e o que não sabe e onde pode obter a informação necessária.
Sendo assim, o ensino das Ciências da Natureza, nesse contexto experimentado de trabalho, pode contribuir muito para o desenvolvimento desses conhecimentos específicos, pois trabalhando-se de forma sistemática e conduzindo-se para um resultado esperado, na hora da correção coletiva poder-se-á refletir e reestruturar os pensamentos, obtendo-se subsídios para resolver situações ou procurar respostas em diferentes fontes de pesquisas, analisando-se criticamente as ações efetuadas ou futuras.
Importa que profissionais da educação também construam seus próprios conhecimentos, caso contrário, como poderíamos estruturar atividades que formam esses estudantes? Daí a importância da formação continuada.
Em tempo, salienta-se, ainda, que a realização de experimentos nos laboratórios através de protocolo, de roteiros é necessário para iniciação, para disciplinar o estudante, não para aprofundar-se neste ou naquele tópico, nem tampouco para utilizar fórmulas sem conexões pré-estabelecidas. Tais práticas não traduzem o que é ensinar Ciências. Entretanto, fazer com que o estudante busque termos e aprofunde-se nas pesquisas para fazer sentido em sua prática social como objetivo geral, ou seja, que o estudante reflita sobre os conhecimentos que lhe chegam e busque a compreensão, pensando-se no ponto inicial que é a prática social, no conhecimento científico e na saída, na formação para o retorno à prática social, permitindo-lhe contextualizar, o ensino de Ciências, isso sim representa um bom ensino.
Para tanto, as ciências da natureza aqui estudadas e debatidas: Química, Física e Biologia, são percebidas como disciplinas que não estão prontas e acabadas, mas que estão em constante evolução. Da mesma maneira, as experiências que os estudantes executam precisam fazer sentido, precisam refletir essas mudanças acerca do porquê de tudo que nos rodeia, nas experiências que nos chegam, nas consequências negativas e positivas, nos impactos gerados pelas ações dos seres humanos à natureza, nas práticas diárias etc.
Assim, realizando-se atividades nessas disciplinas, de maneira coletiva e interdisciplinar, respeitando-se as individualidades, numa perspectiva dialógica contínua, circular, cujo direito de aprender não seja tolhido, espera-se superar preconceitos e produzir saberes que façam a diferença na prática social de todos, profissionais da educação e estudantes.
REFERÊNCIA
BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Formação de professores do ensino médio, Etapa II – Caderno III: Ciências da Natureza / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica; [autores: Daniela Lopes Scarpa... et al..]. – Curitiba: UFPR / Setor de Educação, 2014.
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