REFLEXÕES CADERNO V - PROFESSORES DO COLÉGIO ESTADUAL SÃO PEDRO APÓSTOLO - COORDENADORES: ADAIR MARIA ROCHA E ADRIANO SCHEIK - CURITIBA-PR
A escola tem a aprendizagem como objetivo principal por isso necessita de gestores que atuem na perspectiva de uma Gestão Democrática, que analisem o que isto significa para estar de acordo com a realidade existente na escola, além de incentivarem a participação de toda a comunidade escolar nas decisões, observando acertos e reconhecendo as dificuldades, sempre buscando alternativas, tendo perspectivas e metas de ação.
A gestão democrática requer a participação de diretores, pais, professores, alunos, funcionários e entidades representativas da comunidade local para, de forma coletiva, haja um aprendizado de princípios de convivência respeitosa, de tomada de decisões coesa e de sua implementação, sempre voltados para os benefícios do dia a dia escolar. Trata-se de um processo que reconhece a escola como local de contradições, diferenças e encontros, mas que busca relações sociais mais amplas.
Após exposições das equipes sobre momentos de exclusão ou inclusão nas decisões já tomadas, concluiu-se que aconteceram algumas falhas na gestão democrática, mas que houve muitos acertos. Certamente, é preciso que haja um maior interesse pelas situações da escola no sentido de colaborar para uma gestão democrática que visa melhorias, benfeitorias, acolhimento à comunidade escolar, principalmente aos alunos, e definições sobre ações relacionadas ao comportamento dos mesmos, além dos estímulos e interesse de aperfeiçoamento do grupo de professores e funcionários que, juntamente com a direção, querem garantir um ambiente propício e importante para si e para cada aluno.
A postura de cada elemento da comunidade escolar, em relação à gestão democrática ideal, deverá ser aquela de total interesse por toda e qualquer ação ou atividade, sem prender-se a situações que possam causar conflitos e desavenças, por isso é importante que todos sejam sinceros e participativos, sem agir como “ditadores” ou “donos da verdade”. Ter um olhar diferente para situações corriqueiras e agir de forma coletiva, respeitando opiniões, pode ser o maior dos ganhos.
A escolha para diretor é algo democrático, porém isso não quer dizer que o escolhido assumirá verdadeiramente a função para a qual foi escolhido, ou, ainda, não poderá constituir solução para a existência de posturas corporativistas por parte da comunidade escolar. Também não quer dizer que a gestão democrática depende apenas do diretor para acontecer, mas da disposição de todos que trabalham na escola para resolver ou atender problemas vividos por ela. É um processo de construção social que implica aprendizado por parte de todos os envolvidos desde a percepção do que é mais urgente até o mais corriqueiro como: reuniões, pautas de discussão, produção de argumentações, com uma visão realista sobre as dificuldades para chegar às decisões, tendo a clareza de que nem sempre haverá consenso. Para isso, será importante o diálogo sincero, uma condição para a consolidação das práticas democráticas na escola.
Promover a gestão democrática na escola significa uma demanda de tempo e disponibilidade, ou seja, os envolvidos precisam estar cientes que nenhuma decisão será tomada de forma rápida, sem que haja muita discussão sobre o assunto.
Quanto mais discussões e encontros, maior a qualidade de uma gestão democrática e qualquer pessoa pode iniciar um processo de discussão coletiva, seja ele devido a uma briga entre alunos ou questionamentos sobre a avaliação, por exemplo, de forma muito bem refletida e fundamentada.
Tem-se como exemplo prático de ação democrática a união da comunidade escolar em prol da melhoria física da escola, pois esta se encontrava (e ainda se encontra) com problemas na estrutura com trincas e rachaduras, telhado com problemas, entre outros. Professores, alunos, funcionários, direção e famílias estiveram reunidos para verificar formas de instigar o governo, através de fotos, reportagens e redes sociais, para o encaminhamento de verbas que sanassem o problema. A ação talvez não tenha sido executada da melhor forma e precisasse de maior reflexão, mas serviu para mostrar que é possível buscar soluções através de ações coletivas, possibilitando a união da comunidade escolar. Quando isso acontece, há um resultado mais positivo e a escola pode cumprir seu papel na sociedade.
A inclusão na tomada de decisões irá descentralizar o poder e apontar diferentes perspectivas. Para tanto, é importante que cada um assuma seu papel diante da escola, dedique parte de seu tempo, tenha responsabilidade e se comprometa de fato com a escola e com os processos necessários para o seu funcionamento, afinal há muitos novos desafios surgindo, entre eles, a diversidade. Compreender e respeitar essa diversidade são requisitos para orientar alunos de uma sociedade tradicionalmente pautada pela exclusão.
Inclusão é a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. Nessa concepção, um bom projeto pedagógico começa pela reflexão e o professor será o mediador que irá proporcionar vários meios de aprendizagem, caminhando junto, e interferindo nas horas necessárias.
O processo democrático exige um tempo maior para que as decisões tomadas sejam realmente de forma coletiva, com disposição para participar, debater e expressar opiniões, e para que, em consenso, sejam verificados os melhores caminhos que possam favorecer o desenvolvimento do aluno no seu todo e um ambiente igualitário.
A gestão democrática da educação está vinculada aos mecanismos legais e institucionais e à coordenação de atitudes que propõem a participação social, órgãos colegiados ligados legalmente ao âmbito escolar e, além destes, deve estar pautada no planejamento e elaboração de políticas educacionais, na tomada de decisões, na escolha do uso de recursos e prioridades de aquisição material e humana, nos períodos de avaliação da escola e da política educacional.
Cury cita que nenhum homem consegue realizar um trabalho sozinho, e tem que exercitar a capacidade de escutar os outros, colocar-se no lugar deles, aceitando e entendendo suas limitações e, a partir dela, compreender que relacionar-se é uma troca entre dar e receber e, ao mesmo tempo, uma abertura para o novo. Através das relações humanas cooperativas, os objetivos serão alcançados com muito diálogo e entrosamento, gerando o respeito às diferenças, às habilidades e competências de cada um.
O Conselho Escolar no Colégio Est. São Pedro Apóstolo já é uma realidade e trata-se de um grupo que tem suma importância na tomada de decisões coletivas. Tem-se uma sociedade democrática representativa, ou seja, algumas pessoas foram escolhidas para representar o grande grupo, uma vez que o Conselho Escolar é um órgão de grande poder de decisão na escola e as decisões deliberadas por ele são constituídas como lei e seguidas como tal na prática escolar, ou seja, como órgão representativo da comunidade, de natureza consultiva, deliberativa e avaliativa, abrange todos os segmentos para o pleno funcionamento de um estabelecimento de ensino, devendo reunir-se ordinariamente conforme previsto em seu estatuto e sempre que necessário para deliberar sobre fatos extraordinários e problemas específicos que exijam maior reflexão e decisão no coletivo, tais como: educandos em situação de risco familiar, social ou educacional, como, também, situações de professores e funcionários que, apesar de conversas, reuniões, revisões e orientações com a equipe pedagógica e direção, não cumprem as normas e o Regimento Escolar. O Conselho Escolar também colabora para a aplicação de verbas e prestação de contas junto à APMF.
Enfim, as decisões são sempre tomadas de forma democrática, sendo as divergências ouvidas e atendidas na medida do possível.
Quanto ao Grêmio Estudantil já faz parte do processo de democratização da escola, apesar de apresentar algumas dificuldades, como, por exemplo, alunos pouco engajados nas situações da escola e pouco comprometidos. No entanto, são alunos críticos e autônomos que estão conseguindo, aos poucos, elaborar e desenvolver os objetivos do Grêmio Estudantil, apesar de, muitas vezes, necessitarem da ajuda do corpo docente e direção. Os alunos estão em desenvolvimento da liderança e na formação de novos líderes, porém com limitação de conhecimento quando pensamos na prática de pensar e fazer política. Óbvio que apresentaram melhoras, mas é preciso progredir mais e serem conscientizados sobre os deveres e ações que vão além de eventos festivos.
O Grêmio Estudantil tem se mostrado atuante e realiza reuniões nos horários de aula ou em períodos diversos, procurando aumentar a integração e articulação entre o grupo e com os alunos, dispondo-se a participar das decisões a serem tomadas.
O caráter patrimonialista que marca a cultura nacional é uma grande dificuldade, e se encontra em várias esferas da vida. Dessa concepção decorre o poder ou influência social de mandar e ser obedecido, como se isso fosse natural e inerente à sua condição.
No patrimonialismo, os laços sociais são estabelecidos por dependência, instituindo o companheirismo ao invés do estatuto, mas é preciso lembrar que a gestão democrática somente acontecerá se a escola dispuser de autonomia para praticá-la, para que seja instituição independente e compartilhe suas decisões com os demais membros ali.
As ações de caráter patrimonialista foram, por muito tempo, uma prática relacionada a questões culturais, religiosas, familiares, sociais, algo comum em pequenas comunidades. Existe, por parte da gestão da escola, a preocupação de estabelecer normas e critérios e segui-los visando o bom andamento dos trabalhos e ações. Obviamente, algumas práticas podem ser melhoradas com atitudes efetivamente democráticas, de consulta e apoio da comunidade escolar.
Analisando os critérios apontados por Paro, os pais tem pouco tempo para participar da organização escolar, o mesmo acontecendo em relação às atividades extracurriculares e de integração. Para tentar resolver essa falta de tempo, a escola se dispõe a atendê-los em horários mais flexíveis para que possam participar e acompanhar as atividades. Os pais concordam que a educação é de muita importância para a formação dos filhos e têm a APMF como órgão representativo em reuniões e decisões importantes que fazem parte do cotidiano escolar e da vida acadêmica dos filhos.
O Projeto Político Pedagógico (PPP) é um documento construído em todas as instituições de ensino delineando seu funcionamento, aspectos gerais como avaliação, concepção filosófica, as funções de cada profissional, projetos, entre outros. Nele configura a identidade da escola e onde se concretiza ideias, objetivos, e afirmação de valores estruturados com base na realidade vivenciada. Ele contém fundamentos e princípios que garantirão a identidade que se pretende consolidar na prática pedagógica.
O Projeto Político e Pedagógico pode ser definido como: Projeto – direção; Político - está articulado ao compromisso sociopolítico e com os interesses reais e coletivos da comunidade escolar; Pedagógico – pressupõe uma definição do tipo de ser humano que se quer formar: um cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo.
Os profissionais da educação resistem quando algo não lhes convence, dificultando ou inviabilizando certas ações e, sem a participação ativa dos profissionais da educação, os PPP estarão inviabilizados como projeto coletivo, por isso a gestão democrática precisa fazer a revisão periódica e de operacionalização do mesmo, afinal de contas a realidade se modifica a cada dia. Para Vasconcelos (2000), a flexibilidade “não só permite maior interação com as práticas do professor, mas, sobretudo, porque, em não se tornando uma camisa de força obrigando o professor a cumprir um papel, serve como mola propulsora para uma reflexão mais precisa da realidade”.
Por tratar-se de um “documento” importantíssimo, deverá ser do conhecimento de todos, inclusive dos novos profissionais, o que poderá ser feito através de reuniões, trabalhos em grupo, ou individualmente. É um processo que exige motivação, convencimento, pré-disposição, tempo e integração da equipe para que contemple as considerações necessárias para seu direcionamento. Será necessário também expô-lo aos alunos no sentido de promover práticas que os levem a serem conhecedores do conteúdo e refletirem com responsabilidade sobre o ensino-aprendizagem, reformulando algumas ações, se for necessário.
É uma postura democrática interessada em formar cidadãos críticos, reflexivos, autônomos, conscientes de seus direitos e deveres, capazes de compreender e participar da realidade em que vivem, ficando aptos a contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, sendo a sala de aula o espaço ideal do fazer pedagógico e, se o compromisso da escola é formar indivíduos solidários e não concorrentes, autônomos e não dependentes, criativos e não repetitivos, cabe aos profissionais da educação e às escolas, aproveitarem-se desse espaço para ações pedagógicas que valorizem a auto-organização, o trabalho cooperativo e que tenham a problematização como estratégia básica para o ensino e a aprendizagem.
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