Reflexões Caderno III - CEEBJA / PARANAGUÁ

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO – ETAPA I CADERNO III

QUESTÕES 1, 2, 3 E 4

1 O CURRICULO DO ENSINO MÉDIO E AS DIMENSÕES DE FORMAÇÃO HUMANA: TRABALHO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E CULTURA.

  Tudo o que é selecionado, não apresenta uma neutralidade ou imparcialidade, mas pode demostrar uma intenção, assim também o é em relação a escolha do currículo das escolas de Ensino Médio. Isto é possível perceber através das teorias críticas do currículo, como aponta Apple (1982),

há uma relação estreita entre o modo como se organiza a produção da vida em sociedade e o modo como se organiza o currículo, ainda que tal relação não se dê de forma direta, mas é mediada pelos vínculos os quais vão sendo produzidos, construídos, criados na atividade cotidiana das escolas. (apud BRASIL, 2013, p. 14) 

Neste contexto, o currículo passa a ser compreendido como um campo de resistência, porque lhe será exigido sempre uma “dimensão utilitarista fundamentada nos critérios de eficiência” (GIROUX, 1983 apud BRASIL, 2013, p. 14). Cabe então à escola, uma mediação do currículo, tendo como objetivo principal a emancipação humana, realizado em um projeto político pedagógico que o contemple. Transformando-se em expressão da prática e da função social da escola.
Tomando as teorias críticas do currículo como referência, faz- se necessário compreender que existe uma busca pela identidade e fortalecimento do Ensino Médio, onde se encontram alguns princípios norteadores, como aponta Moura (2010, p. 2), “de um lado, a defesa da educação geral integrada à formação profissional lato sensu, na perspectiva da politecnia […]de outro, a separação entre educação básica e formação profissional”. Desta forma, surgem como dimensões da formação humana o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura, como MOURA (2010) complementa:

Apoiado no conceito de politécnica, o ensino médio estaria orientado para explicitar não só como a ciência e a tecnologia se convertem em potência material no processo produtivo, mas também como são influenciadas pela cultura e, ao mesmo tempo, a influenciam. Ao produzir símbolos, representações e significados, a cultura determina as práticas sociais e, ao mesmo tempo, é determinada por essas práticas, constituindo-se no modo de vida de uma dada sociedade ou grupo populacional.

   
Lembra-se também de um trecho da Constituição de 1988:

“A educação, direito de todos, é dever do Estado e da família e será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” (BRASIL, 1988, Art. 205)

 

Diante da citação e das discussões realizadas pelo grupo, concluímos que nem sempre é possível para nós professores trabalhar todos os temas relacionando-os às dimensões da formação humana: trabalho, ciência, tecnologia e cultura. Pois nem todos os temas permitem esta relação, apenas em algumas áreas, não sendo possível uma concomitância entre as dimensões citadas. Se o Ensino Médio regular encontra muitas dificuldades, esta é multiplicada no nosso cotidiano, visto que a realidade encontrada na Educação de Jovens e Adultos (EJA) é diversificada, na qual encontramos pessoas de diferentes faixas etárias, níveis de escolaridade, classes sociais, trazendo consigo seus conhecimentos adquiridos através de experiências vividas. Porém, em uma concepção mais ampla percebe-se a possibilidade de o próprio educador atribuir significado a essa prática pedagógica, porque pode existir uma facilidade em trabalhar com este perfil de aluno, justamente por causa do empirismo trazidos por eles. 
Porém, sempre que possível, trabalhamos para que o processo de formação desses alunos venha entender e julgar a veracidade da evidência proposta pela ciência e pela tecnologia, comparando-as com outras também significativas, a fim de que possam tomar decisões coerentes diante de problemas que envolvam a sociedade.  

2 AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO MÉDIO E AS SUAS RESISTÊNCIAS NA MODALIDADE EJA.

Como foi colocado anteriormente, o Ensino Médio passa por reformulações e planos para o seu fortalecimento, pois segundo Moura (2010):

Entre os sérios problemas de identidade e de sentido do ensino médio brasileiro, dois assumem centralidade: sua própria concepção e os princípios que a norteiam; e o deficiente financiamento público. Em torno deles, aglutinam-se outros não menos significativos, enraizados em múltiplos campos: deficiências do projeto político-pedagógico e da organização curricular das escolas; falta de um efetivo regime de mútua cooperação entre as esferas de governo e as redes públicas de ensino no que respeita à disponibilização dessa etapa educacional; déficit quantitativo e qualitativo do quadro de profissionais da educação; lacunas na formação inicial e continuada desses profissionais; insuficiência da infra-estrutura física das escolas ― prédios, salas de aula, laboratórios, bibliotecas, espaços destinados a atividades educativas de cunho artístico-cultural e desportivo.

Se é possível notar estas dificuldades no Ensino Médio regular, maior ainda são os problemas enfrentados pela Educação de Jovens e Adultos – EJA, pois esta modalidade também se depara com questões voltadas aos interesses políticos. Para se ter compreensão dos problemas encontrados nesta escola, foi realizada uma roda de conversa com os alunos do Ensino Médio desta modalidade, relembrando como funciona o CEEBJA e as modalidades que são ofertadas: o individual e o coletivo.
Os alunos questionaram a formação de turmas para a modalidade coletiva, pois às vezes, estes alunos precisam esperar até a abertura da turma na disciplina desejada, contando com riscos da demora ou até a possível não abertura de aulas desta matéria.
Também foi explicado aos alunos sobre as instituições que vigoram no ano de 2014, sobre o corte da demanda, a quantidade de aulas ofertadas, para que período da tarde, o corte de uma aula por dia no período noturno, que de 5 aulas diárias e passou para 4 aulas.
Os alunos acreditam que os conteúdos estão adequados com a carga horária, pois a maioria deles tem intenção de prestar vestibular. Porém, questionam muito a demora para a conclusão do  Ensino Médio, pois na idade em que se encontram tem bastante pressa em finalizar os estudos. Para se ter agilidade na conclusão escolar, anteriormente eram realizadas o chamado “Provão”, em que os alunos poderiam eliminar matérias de acordo com o número de acertos. Porém, este não ocorreu neste ano, sendo um dos pontos de maior reclamação dos alunos, pois foram mudadas as regras para o se realizar as provas, que agora são feitas pela internet e não os contempla, pois estão matriculados na escola, só sendo possível para aqueles que não estão matriculados em nenhum colégio ou que a instituição não possa ofertar a disciplina de que o indivíduo necessite. 

3 AS FINALIDADES DA ESCOLA – ONTEM COMO ALUNO E HOJE COMO PROFESSOR.

Há grande deficiência dentro do próprio sistema que impedem um melhor desempenho para que  as finalidades da educação básica sejam atingidas.
No que diz respeito ao desenvolvimento físico, intelectual e emocional do educando, para a construção de sua autonomia intelectual e moral, há um empenho constante por parte dos professores, equipe pedagógica e direção da escola. No entanto, a escola encontra muita dificuldade por não dispor de profissionais como psicólogos e psicopedagogos, para oferecer acompanhamento e apoio aos alunos que apresentam distúrbios emocionais devido a problemas familiares e sociais. Também quando relacionados a atendimento de alunos com necessidades especiais físicas e intelectuais, dentre outras situações que surgem, a instituição escolar não oferece suporte, isto é, está além de sua responsabilidade.
Buscamos possibilitar o desenvolvimento das capacidades de comunicação por meio das diferentes linguagens e das formas de expressão individual e grupal, desenvolvendo trabalhos em sala de aula, específicos a cada área do conhecimento, através de projetos realizados em contra-turno como:dança, teatro, línguas.
Incentivar o gosto pela aprendizagem, pela investigação, pelo conhecimento pelo novo, é uma ação constante dos professores que incentivam diariamente os alunos, procurando atividades diferenciadas como palestras, teatro, depoimento de pessoas da comunidade para reforçar tais finalidades.
Embora, muitas vezes a escola não oportunize, principalmente pela falta de recursos materiais e financeiros, a visita a museus, parques, cinema, exposições, teatro, é possível, através de parcerias com universidades, a visita em centros acadêmicos para que os jovens vislumbrem novos horizontes e expectativas. Buscamos através de atividades diversificadas como debates, gincanas, análise de textos e de situações sociais locais, nacionais e até mundiais; competições em grupos entre outros, complementar e instigar o aluno a aprimorar o raciocínio lógico e a superar desafios.
Para estimular as habilidades físicas e motoras, dentro de nossa realidade, desenvolvemos atividades esportivas como jogos em equipe (futebol, voleibol, basquetebol), apresentações de dança, teatro e oratória. No entanto, muitas escolas não possuem quadra poliesportiva, ginásios bem equipados para a prática de esportes diversificados e também faltam profissionais qualificados.
Um dos maiores desafios para o domínio do conhecimento científico nas diferentes áreas, é a busca incessante em propiciar atividades buscando a interdisciplinaridade, pois para essa prática é necessário um acompanhamento diferenciado de apoio com alunos com grau maior de dificuldade.
A proposta curricular de matemática, por exemplo, nas suas dimensões da formação humana, no seu fazer pedagógico já visa uma formação integral do estudante. O ensino da matemática trabalhado de forma interdisciplinar, contextualizada e significativa, aproveita as situações cotidianas levando o aluno a pensar de forma lógica, enfatizando a reflexão e o desenvolvimento do pensamento para a resolução de problemas. Devemos promover situações de aprendizagem investigativa e desafiadora que permitam que os alunos adquiram os conhecimentos matemáticos e que os utilizem no seu cotidiano dentro da sua visão de mundo.
Nós professores enquanto estudantes, tivemos professores que nos incentivavam e nos faziam refletir para a vida, a nos tornarmos cidadãos melhores e pensantes.
Um professor ensinava que tudo pode lhe ser tirado, a liberdade, bens materiais, etc, mas, o conhecimento ninguém tira.
Além do conteúdo nós procuramos transmitir aos nossos alunos o desejo pelo saber, ter autonomia para buscar seus ideais, seus sonhos, pois nada é impossível e que todos são capazes só precisam buscar dentro de si, essa força, acreditar em seu potencial.
Na disciplina de sociologia mesclamos o conteúdo com valores de vida morais e éticos facilmente identificados no dia-a-dia, fazendo-os perceber que tudo isso lhe será útil no futuro.
O que esperamos de nossos alunos é que sejam cidadãos críticos e conhecedores de seus direitos e obrigações.  

REFERÊNCIAS

BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Formação de professores do ensino médio, etapa I – caderno III: O Currículo do ensino médio, seu sujeito e o desafio da formação humana integral. Curitiba: UFPR/Setor de Educação, 2013.

MOURA, Dante Henrique. Algumas possibilidades de organização do Ensino Médio a partir de uma base unitária: trabalho, ciência, tecnologia e cultura. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=7177 &Itemid=> Acesso em 10 out. 2014.