PACTO_TEMÁTICA3_O Currículo do Ensino Médio, seus Sujeitos e o Desafio da Formação Humana Integral
Das leituras efetuadas por esse módulo, primeiramente, é necessário definir o que se entende como trabalho, ou mundo do trabalho. Para tanto, Saviani expõe, as seguintes distinções:
Num primeiro sentido, o trabalho é princípio educativo na medida em que determina, pelo grau de desenvolvimento social atingido historicamente, o modo se ser da educação em seu conjunto. Nesse sentido, aos modos de produção [...] correspondem modos distintos de educar com uma correspondente forma dominante de educação. [...]. Num segundo sentido, o trabalho é princípio educativo na medida em que coloca exigências específicas que o processo educativo deve preencher em vista da participação direta dos membros da sociedade no trabalho socialmente produtivo. [...]. Finalmente o trabalho é princípio educativo num terceiro sentido, na medida em que determina a educação como uma modalidade específica e diferenciada de trabalho: o trabalho pedagógico.
Assim, a partir do entendimento acima, e em consonância com o PPP do Colégio e com o PTD da disciplina, em nosso estabelecimento, a relação entre mundo de trabalho, da ciência, da tecnologia da cultura ocorre, mas não da forma que está sendo estudada com a implantação do Ensino Médio Inovador (de acordo com as novas Diretrizes Curriculares nacionais para o Ensino Médio). Muito dos problemas enfrentados pelo educador, não está na sua prática docente, mas na falta de incentivos e de investimentos públicos para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra de forma a trazer mais atrativos para os adolescentes e jovens contemporâneos. O professor em sala de aula faz seu papel, mas ainda há pontos a serem superados: universalizar sua oferta pública com qualidade; conferir-lhe identidade própria no sistema educativo e corresponder às expectativas de formação unitária e politécnica. Cabe destacar a questão do preparo do professor para ajudar a elaborar e traduzir o currículo em experiências criativas e atraentes para os jovens com os quais interage. Mas para tanto, é preciso formação adequada, desenvolvimento profissional contínuo, avaliação profissional, plano de carreira, valorização da profissão são alguns dos elementos essenciais para se construir, em sala de aula, a proposta de formação que está no papel, seja nas leis, nas diretrizes, nas orientações, seja nos projetos políticos pedagógicos de cada instituição.
Em relação ao PPP de nosso estabelecimento, os objetivos alencados para o educando do Ensino Médio, está de acordo com as finalidades citadas, pois elas não são disciplinares, visando dessa forma o aprimoramento também do educando como pessoa humana, incluindo sua formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. O PTD também contempla as mesmas finalidades, compreendo os fundamentos científicos, tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.
Outro fator a ser considerado, é que muito da doutrina que disciplina o ensino médio recorre à diversidade como reconhecimento das diferenças que, embora reconhecidas como ponto de partida de um processo, têm um horizonte comum, determinado pela constatação de que os itinerários de vida dos jovens e dos jovens adultos serão cada vez mais imprevisíveis. Nesse cenário, a escola, especialmente a média, é convocada a contribuir para a aprendizagem de competências gerais, visando à constituição de pessoas mais aptas a assimilar mudanças, pessoas mais autônomas em suas escolhas, pessoas que respeitem as diferenças e, ainda, que constituam identidades.
Por isso, é preciso ir além do ensino demarcado exclusivamente pelo desenvolvimento de competências, noção de raiz essencialmente individual, identificável nas ações práticas da vida, seja na dimensão das relações em geral, seja especificamente no âmbito do trabalho, quando ganham significados bastante específicos.
A proposta curricular de nosso estabelecimento de ensino não é neutra em relação ao mundo de trabalho, da ciência, da tecnologia da cultura, ao contrário, baseiam-se numa certa forma de compreender a sociedade e suas relações no momento contemporâneo. A formação básica para o trabalho é defendida como necessária para se compreender a tecnologia e a produção, com o propósito de preparar recursos humanos adequados à realidade do mundo do trabalho.
Percebe-se, no entanto, a necessidade de o ensino médio definir sua identidade como última etapa da educação básica, não pela abolição de qualquer perspectiva profissionalizante, mas pela construção de possibilidades formativas que contemplem as múltiplas necessidades socioculturais e econômicas dos sujeitos que o constituem – adolescentes, jovens e adultos – reconhecendo-os não como cidadãos e trabalhadores de um futuro indefinido, mas como sujeitos de direitos no momento em que cursam o ensino médio.
Isso implica garantir a unidade do ensino médio em relação aos conhecimentos socialmente construídos, tomados em sua historicidade, cujo acesso não pode ser negado a ninguém, seja em nome do mercado de trabalho, das universidades, ou das culturas locais; mas deve possibilitar, sobre uma base unitária que sintetize humanismo e tecnologia, o enriquecimento de suas finalidades, dentre as quais se incluem a preparação para o exercício de profissões técnicas, a iniciação científica, a ampliação cultural, o aprofundamento de estudos, além de outras. Se isto não é possível imediata e universalmente, deve se apresentar como uma utopia a ser construída coletivamente.