Ao nos reunirmos para refletir possibilidades de mudança no Ensino Médio nos deparamos com alguns pontos a serem analisados:
Primeiro a possibilidade da própria discussão em âmbito nacional e as realidades regionais. Depois nos deparamos com importante missão de conhecer nossos jovens, seus ideais, sonhos, expectativas, seu conhecimento de mundo e suas realidades e desigualdades. Enfim reconhecer as diversas identidades raciais, culturais e sociais para que ocorra de fato uma inserção desses indivíduos na sociedade.
Cientes dessa necessidade fomos levados a olhar nosso Currículo e suas pretensões, é evidente para os professores que a mera transmissão de conteúdos não tem mais função, por isso a necessidade de se valorizar o conhecimento que vem com os alunos levando-os a refletir sobre teorias apresentadas em sala, além de fazê-los perceber a construção desses conceitos. Percebemos então, que não podemos cair na armadilha do empirismo e simplismo sem o aprofundamento necessário das teorias e práticas que realmente levam a construção do conhecimento, pois a criatividade não se dissocia dos mecanismos que levam ao conhecimento e suas sistematizações. Tendo ciência disso, pode-se, aí sim, aliá-los aos saberes trazidos pelos jovens e levá-los a se tornarem cidadãos participantes, fazendo sua história.
Diante dessa realidade foi importante reflexão sobre as áreas do conhecimento, mas novamente percebemos que não podemos cair no simplismo na tentativa de solucionar o problema da falta de professores criando um professor generalista. É sim importante o professor perceber como aliar várias áreas do conhecimento ao trabalhar um determinado conteúdo para que ele e os seus alunos entendam a importância das várias disciplinas (matérias) sem compartimentalizar o conhecimento. Assim enquanto professores precisamos entender a multidisciplinaridade, a interdisciplinaridade, transdisciplinaridade no processo de ensino aprendizagem. Enfim um currículo integrado não tem uma função reducionista, mas sim deve nos levar a perceber que os conceitos devem ser aprendidos como sistema de relações de uma totalidade concreta em que as particularidades se aliam para o entendimento do todo.
E ao pensarmos o ensino-aprendizagem não podemos esquecer da estrutura escolar e seu papel neste processo por isso cabe lembrarmos que a LDB nos apresenta a gestão democrática como um dos princípios fundamentais da educação e é através do envolvimento de toda a comunidade escolar que conseguiremos pôr em prática o que foi sistematizado, além de avaliar e aprimorar o processo. Assim cabe a equipe administrativa gerir, coordenar e permitir que as várias vozes sejam ouvidas (alunos, pais, comunidade local, funcionários, professores e pedagogos) e que as ações sejam feitas de forma colaborativa.
Para que tanto as ações tomadas pela comunidade escolar como processo de ensino aprendizagem sejam percebidos entendidos e aprimorados, se necessário, é importante o momento de avaliação. Deve existir não só a avaliação institucional na qual avaliamos nossas ações e metas enquanto escola como também a avaliação de aprendizado. A esta cabe uma reflexão: Consideramos um dos maiores desafios no campo da avaliação educacional o real o entendimento do professor de que avaliação serve para rever metodologia, encaminhamentos e planejamentos. No entanto na realidade em que se coloca a educação pública e suas dificuldades (o grande número de alunos por sala de aula, as péssimas condições de ambiente físico, professores com formação deficitária, regiões de alta violência e vícios) são muito os professores que mesmo conhecendo teorias que tratam de avaliação se perderam, pois pensam a avaliação de maneira isolada, ou seja, levando em consideração o conteúdo específico sem aliá-los a outros conhecimentos. Outros problemas encontrados relacionados aos jovens alunos são a dificuldade de raciocínio, a falta de motivação com o ensino diante do futuro incerto. Existe ainda o problema das avaliações são as questões externas, avaliações específicas e classificatórias, tendo como exemplo o vestibular, os concursos que diferem em alguns casos das avaliações como Prova Brasil, Saeb que avaliam a escola. De certa forma, ficamos amarrados a esses critérios.
Enfim não podemos pensar o Ensino Médio sem levarmos em consideração estes pontos e suas realidades. Há necessidade de se sair do discurso e realmente implementar ações claras na educação através de política pública e não só de governo, evitando assim a ingerência numa eventual mudança de governo.Ações como uma real valorização dos professores e de sua formação, através de um currículo de formação para o magistério enxuto, real, com alta formação pedagógica e específica, além de uma valorização salarial real não presa ao prefeitos e governadores, possivelmente através da federalização dos professores do ensino básico assim com salário padrão, direitos e deveres comuns a todos os professores de Norte a Sul do Brasil. Investimento real e direto na manutenção das escolas e seus equipamentos com supervisão e gerência da comunidade escolar ( corpo administrativo, professores, alunos, pais e comunidade local através de seus órgãos colegiados APMF, Conselho Escolar, Grêmio Estudantil entre outros. Talvez assim realmente haja uma possibilidade do fortalecimento da educação.
Fonte:
Mauricio José Rodrigues - Colégio Estadual Professor Victor do Amaral