REFLEXÃO E AÇÃO - CADERNO III - TEXTO ELABORADO PELOS PROFESSORES DO COLÉGIO ESTADUAL SÃO PEDRO APÓSTOLO - CURITIBA-PR - COORDENADORES: ADAIR MARIA ROCHA E ADRIANO SCHEIK

O currículo escolar deve ser articulado com elementos do cotidiano do aluno para que o mesmo possa sentir-se inserido em um contexto de desenvolvimento.

As novas tecnologias, tanto no mercado de trabalho como no mundo particular, devem sempre ser questionadas, pois, como educadores, somos elementos formadores de opinião e devemos estabelecer um pensamento crítico do aluno para todas as áreas. O processo de globalização nos mostra um sistema avançado de comunicação e as redes sociais, as emanações culturais, podem estar presentes com um simples apertar de tecla ou clique do “mouse”. Diante disso, as instituições de ensino devem analisar os efeitos culturais que podem surgir através da associação da ciência com o elemento humano, pois é possível buscar respostas a muitos questionamentos enquanto os movimentos sociais podem ser articulados através da internet. A ciência está evoluindo cada vez mais e aparece sempre com muita força. Ela é a projeção do poder de abstração humano que usa a ciência para se projetar e como extensão do seu saber.

A escola não deve somente definir em seu currículo o quanto a ciência nos influencia, mas também vislumbrar que tem a capacidade de estar dentro do ambiente educacional de forma positiva, mostrando que pode ser uma aliada na dinâmica educacional, colaborando para o conhecimento do aluno e capacitando o educador em uma dinâmica didática que faça sua docência ter um patamar mais elevado.
O que ensinamos deve ser apresentado de forma global e contextualizada, com assuntos, informações e situações do cotidiano dos alunos, proporcionando-lhes uma reflexão do mundo e não das realidades distantes que nem sempre condizem com aquilo que eles imaginam. As questões de trabalho, tecnologia, ciência e outros, que mostram a realidade em que vivem, podem proporcionar um estudo e análise do que pretendem para seu futuro breve ou distante. O currículo pode ser adaptado ao contexto local, a realidade dos alunos, mas, sem perder a visão do mundo que o cerca.
Quanto às relações, consideramos que elas também existem para podermos educar, não somente para o trabalho, para o vestibular ou para algum campo fragmentado, mas para a vida, pois nossos alunos são cobrados fora da escola por diferentes relações fragmentadas e devemos prepará-los para que tenham interesse e saiba buscar o autoconhecimento.
Apesar do sabermos que devemos ensiná-los com todas as habilidades, observamos que não temos uma escola adequada fisicamente e também pedagogicamente, porque, se olharmos a nossa própria formação, percebemos que fomos educados com repetições de conteúdos e também reproduções, fazendo com que, muitas vezes, não pensássemos no que estávamos fazendo e, sim, repetindo o que estávamos ensinando, sem pensar criticamente. No entanto, precisamos enfrentar o presente e procurar formar pessoas críticas e que aprendam a buscar o seu conhecimento e o seu valor. O aluno deve ser educado para a vida e “cobrado” por todos os níveis da sociedade, pois, a partir do momento que se torna um cidadão, também passa a ser um indivíduo completo. É imprescindível que os alunos possam interagir saudável e coerentemente com as tecnologias disponíveis, com uma análise crítica e reflexiva. É preciso estar claro que o desenvolvimento científico e tecnológico é forjado de aspectos positivos e negativos, que além dos benefícios traz prejuízos e consequências sobre a sociedade e ambiente, e que também foi idealizado de acordo com os interesses vigentes, sejam políticos ou econômicos. E é essa compreensão de causa e efeito que precisa ser mais trabalhada em sala, pois é fundamental para desenvolver o senso crítico dos alunos.
Ao integrarmos o currículo em torno das dimensões do trabalho, da ciência, da cultura e da tecnologia, estaremos dando novo sentido à escola e contribuindo para a formação humana integral, ou seja, a formação humana na sua totalidade, garantindo uma diversidade de saberes específicos, estéticos e éticos. É um dos grandes desafios que o mundo atual coloca a nossa frente.
A proposta curricular já ganhou um enfoque em CTSA (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente), porém, o que se observa na prática docente, é um apego ao “conteudismo”, ao saber enciclopédico e fragmentado, e ao ensino clássico das repetições e memorizações desprovidas de relevância no cotidiano do aluno. Percebemos, também, a dificuldade dos professores em tratar do cotidiano associado aos conteúdos estabelecidos no currículo, mas precisamos ter, como meta, uma aprendizagem não só de conceitos e de teorias, com um caráter exclusivamente acadêmico e distante das experiências dos alunos, mas, sim, oportunizar aos educandos uma formação que lhes proporcione uma melhor compreensão, aplicação e preparação como cidadão crítico e atuante em seu contexto social, e que o saber acadêmico ultrapasse as fronteiras da escola.
Toda dinâmica da produção do conhecimento científico e o aparato tecnológico utilizado para produzir ciência, são fontes riquíssimas de abordagens em sala e estão envolvidos com os conceitos, fórmulas, teorias e processos trabalhados, possibilitando que os alunos interajam com o mundo dentro e fora da escola, entendendo e interferindo acerca da natureza e do próprio corpo e isso é indissociável da sua vida enquanto indivíduo, no âmbito pessoal, familiar ou profissional.
Os conteúdos presentes no currículo deverão estar relacionados com a tecnologia, a cultura e o mundo do trabalho, por isso será importante que, durante o planejamento, o professor faça uma relação entre o conhecimento e sua aplicabilidade na vida prática do aluno. Uma das preocupações é garantir que os alunos estejam acompanhando as mudanças que estão ocorrendo no presente. Para isto, eles devem estar atentos às notícias e informações sobre as novidades do mundo globalizado.
Ao planejar suas atividades, o professor se apropria dos preceitos e apontamentos destes dois documentos (DCE's e os PCN'S) principalmente no que tange à contextualização e à educação, pautadas nas vivências individuais e na diversidade como um todo. Talvez seja esse um dos caminhos para ser percorrido por professores e alunos juntos, aprendizes constantes do que é tornar-se humano e do que é construir uma educação com mais qualidade.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio elencam as dimensões do trabalho, ciência, tecnologia e cultura, portanto determinam a necessidade de reflexão por parte dos profissionais da educação que atendem o Ensino Médio, uma vez que a construção do currículo é coletiva.
Ao pensarmos numa concepção que promova aos estudantes a Formação Humana Integral, necessitamos estar constantemente fazendo uma reflexão coletiva sobre a Organização curricular do Ensino Médio, objetivando dar um novo sentido ao ensino e à escola.
O Parecer 5/2011 explicita que: “O grande desafio consiste na incorporação das grandes mudanças em curso na sociedade contemporânea, nas políticas educacionais brasileiras e em constituir um documento que sugira procedimentos que permitam a revisão do trabalho das escolas e dos sistemas de ensino, no sentido de garantir o direito à educação, o acesso, a permanência e o sucesso dos estudantes, com a melhoria da qualidade da educação para todos”. (p.6)
A nova organização curricular para o Ensino Médio requer mudanças também no Ensino Fundamental e Superior, incluindo investimento maior na Educação Básica, a fim da possibilitar as melhorias almejadas. Para que as mudanças no currículo produzam bons resultados, os professores necessitam de condições dignas de trabalho e, as escolas, suas necessidades atendidas: estrutura física, um quadro completo de funcionários e profissionais comprometidos e número reduzido de alunos por turma, em todas as séries. Consideramos que não é somente uma mudança no currículo que fará a diferença no Ensino Médio. A alteração pode contribuir, mas somente o currículo não tem o poder de provocar tantas melhorias como são necessárias. A Educação de forma geral requer mais atenção, mais comprometimento e investimentos. Então, mais do que um currículo que ofereça um conhecimento geral básico aos nossos educandos, necessitamos de mudanças significativas na maneira como a escola vem sendo tratada no país
É preciso que a escola conduza sua singularidade expressiva, de modo analítico, para compreender o seu universo, e ser capaz de definir finalidades específicas, que darão suporte para a elaboração dos objetivos educativos sem se distanciar das finalidades legais previstas na LDB. Esse entendimento nos faz refletir sobre a construção ou reelaboração do PPP, visto que ele definirá os princípios específicos de cada escola para a elaboração das finalidades a serem seguidas, uma vez que deve expressar e caracterizar a realidade existencial da escola sobre a sua dimensão educacional. Para a realização deste, devemos considerar que, no decorrer do processo pedagógico, será indispensável o envolvimento de todos os atores da unidade de ensino de modo participativo e dialogal, para haver uma escola autônoma nos aspectos administrativo, pedagógico e financeiro.
Após lermos e analisarmos as Diretrizes Curriculares, fazemos observações sobre o que mais gerou debate:
- As especificidades regionais e/ou locais. Valorizam os conhecimentos, mas fragilizam o sistema de avaliação e de unidade do sistema de gestão de ensino. Os conhecimentos científicos deveriam ser padronizados em todo país, ficando a cargo de cada região fazer adaptações que estarão mais de acordo com suas especificidades regionais.
- Pesquisa como princípio pedagógico: a pesquisa no ensino médio acontece de forma superficial e raramente é entendida como elemento provocador que leve o estudante ao desejo de buscar, de questionar, de compreender.
- Organização curricular das disciplinas e processos de avaliação para dar sequência aos estudos. Para o sucesso da proposta de inovação do ensino médio será preciso pensarmos em adequá-la ao cotidiano escolar e em como será o processo de seleção para ingressar na universidade. Uma mudança no ensino médio pressupõe também alteração no ensino superior.
- Incompatibilidade da proposta com a duração/carga horária do curso do ensino médio. Percebemos que quatro horas diárias não são suficientes para dar conta do que está proposto como Diretriz para o ensino médio, mas que trata-se de algo difícil de ser resolvido, apesar de necessário, principalmente para o ensino noturno.
- A ideia de polivalência. A diretriz não é clara e mantém uma dubiedade que permite essa leitura de polivalência que é bastante delicada, se não, perigosa na proposta de trabalho. A discussão é muito pertinente, pois a polivalência é um grande equívoco, uma vez que, por exemplo, um professor de português não dá aula de matemática, por questões óbvias de formação. A polivalência não considera o universo de formação que é muito amplo, exigindo tempo de preparação sensorial e perceptiva, assim como intelectual. Uma mudança não acontece do dia para a noite e um professor que não tenha domínio do conhecimento não pode estar à frente de seu educando.
Contribuímos para o processo formativo ao longo da vida quando: propiciamos o domínio dos conhecimentos, organizamos nossas aulas com questões significativas do contexto da vida do estudante, utilizamos os conteúdos disciplinares para trabalhar ou ilustrar situações reais, fazemos a seleção do livro didático tendo a clareza do PPP da escola e qual sua função social, tornamos a escola espaço de discussão e de diálogo, incentivamos e promovemos o conhecimento da ciência, da tecnologia e da cultura, promovemos reflexões sobre a interferência do homem no ambiente que vive. 
A finalidade da educação é oferecer ao aluno de ensino médio uma educação de qualidade que garanta a formação humana integral. Para isso, o processo educativo deve estar articulado às dimensões do mundo do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura, como já dissemos. Porém, e infelizmente, a educação que acontece na escola pouco corresponde aos propósitos da educação básica, pois o que existe é um conjunto de disciplinas que compõem a proposta de matriz curricular de forma fragmentada, isolada, hierarquizada e, o plano de curso das disciplinas, não foge a regra, o currículo com suas definições e conceitos pouco ou quase nada tem de relação com o campo prático. O que formulamos teoricamente está distante do mundo real, experimentado pelo aluno. Essa realidade permeia todas as disciplinas da formação básica dos alunos, ficando comprometida a interação curricular e o propósito de formação dos alunos do ensino médio. Dividimos os mesmos problemas e necessidades, e nos esforçamos para que as concepções formuladas tornem-se realidade, mas não é fácil porque são inúmeras as dificuldades.
Queremos possibilitar aos alunos de ensino médio um conhecimento escolar baseado nas experiências vividas e na capacidade de estabelecer novas correlações de ideias, com saberes que antes não existiam. Essa articulação entre o conhecimento escolar e os saberes de fora da escola é atribuição de todas as disciplinas e requer um trabalho integrado entre as várias áreas, a fim que se possa sair do mundo dos ideais para alcançar a transformação do cotidiano escolar. As DCNEM do ensino médio estão voltadas para a mudança curricular no sentido de adaptá-las às características e necessidades sociais, culturais e intelectuais dos estudantes.
Como professores, precisamos fazer o papel de mediadores do conhecimento.  Para tanto, os conteúdos abordados devem contribuir para o conhecimento científico e formação integral do aluno, tendo em mente que cada aluno possui características próprias, e que a turma em que ele estuda terá  características também próprias e peculiares. Isto significa que essas diferenças devem ser do conhecimento do professor a fim de que o currículo seja aprimorado ou flexibilizado de acordo com essa realidade.
Há a necessidade de relacionarmos os conceitos específicos de cada componente curricular como contexto de produção original do conhecimento, ou seja, a teoria aliada à prática. Também será importante incluirmos no desenvolvimento dos saberes escolares toda a comunidade escolar, não nos esquecendo das diversidades étnicas e culturais que a formam, e que devem estar contidas no nosso Projeto Político Pedagógica da escola, bem como no Regimento Interno.
A escola deve promover a participação efetiva dos alunos, para juntos realizarem debates, discussões, reflexões, buscando compartilhar uma construção coletiva do conhecimento, sendo para resolver problemas locais, pessoais e na comunidade, fazendo com que o aluno se sinta parte do mundo em que vive. O estabelecimento de interesses comuns, a elaboração e a aplicação de projetos, além da sustentação de práticas coletivas (escola- família-comunidade) promoverão o atendimento às necessidades e anseios dos escolares, aproximando “a escola que temos da escola que queremos”.
Precisamos desenvolver recursos de aprendizagem diversificados utilizando os meios de comunicação de massa e promovendo a aprendizagem dos valores, justiça, solidariedade e tolerância. Como exemplo, citamos o preconceito e a discriminação dentro da escola, pois deverão ser contidos para não se transformarem em violência contra os sujeitos ou grupos da diversidade. A visão do adolescente ou jovem deve ir além de estereótipos. 
É necessário rever o papel da Escola Pública e buscar a verdadeira função do professor; que é a de ensinar e propiciar momentos de pesquisa e busca por respostas, muitas vezes deixados de lado devido à incessante luta contra o desinteresse e a indisciplina.
Sempre é tempo para buscar soluções e precisamos enfrentar o momento educacional em que nos encontramos, e pensar em soluções possíveis e realizáveis para nossa realidade de sala de aula, a começar pelo currículo, o trabalho interdisciplinar e o emprego das novas tecnologias na educação.
É através do currículo que caracterizamos um curso, isto é, definimos e demonstramos o que vamos trabalhar, para quem e/ou com quem, por que o curso foi criado, de que maneira será desenvolvido e como acontecerá a avaliação dos processos de ensino e aprendizagem, por isso consideramos que são elementos indispensáveis no currículo:
- O conhecimento e a valorização da história dos sujeitos com os quais trabalhamos;
- A definição de que tipo de formação o curso se destina: formação geral, específica/científica, profissional/técnica, humana/social;
- Dimensões necessárias no currículo para dar conta da proposta estabelecida e gerar as conexões com todas as áreas do conhecimento;
- A matriz curricular deve identificar-se com nossa proposta;
- Conteúdos significativos que irão compor a Proposta Pedagógica curricular e adequados à realidade do aluno e da escola, isto é, dos sujeitos que constituem a escola (currículo em harmonia com o Projeto Político Pedagógico da Escola);
- Exploração de novas possibilidades, meios e recursos metodológicos para o aprimoramento do ensino;
- O currículo necessita promover a autonomia e o protagonismo crescente dos estudantes, contendo os aspectos inclusivo e intercultural;
- Superar o dualismo entre formação geral e profissional;
- Proporcionar um trabalho educacional motivador e mediador, tanto pela integração entre trabalho, cultura, ciência e tecnologia como pela pretensão de um futuro melhor;
- Fazer a articulação da formação cultural e o trabalho produtivo;
- Viabilizar atividades/ projetos interdisciplinares a partir de contextos.
O currículo é, em outras palavras, o coração da escola, o espaço central em que atuamos, e que, portanto, torna nosso papel de educadores fundamental para o desenvolvimento de cada aluno. Daí a necessidade de constantes discussões e reflexões, com a obrigação, como profissionais da educação, de participar crítica e criativamente na elaboração de currículos atraentes, mais democráticos, mais adequados.