Reflexão e Ação - Caderno III - Etapa II - "RIO QUE TE QUERO AZUL: A QUESTÃO DA ÁGUA NA NOSSA LOCALIDADE".

PACTO NACIONAL ENSINO MÉDIO ETAPA II - 2015

Orientadora de Estudos: Maria Goretti Mores

Reflexão e Ação - Caderno III - Etapa II

"RIO QUE TE QUERO AZUL: A QUESTÃO DA ÁGUA NA NOSSA LOCALIDADE"

Colégio Estadual Dr Afonso Alves de Camargo e Escola Estadual Nossa Senhora Aparecida
Rio Azul - Paraná

Trabalho realizado pelos professores:

Adriana Petreski Plodovski Rymsza

Anesio Surmacz

Jose Oliveira Lima

Laércio Soares da Silva

Lurdes Czuczman

Maria Aparecida Zem

Marcia Dembeski Druczkowski

Maria Eluiza Soalreviski

Maria Luciane Kublitski Hoker

Marli Szymczak Dal Magro

Pedro Adilson Stodolny

Rute Padilha

Wallas Jefferson de Lima

 

I - INTRODUÇÃO E TEMÁTICA DA INVESTIGAÇÃO

O tema da água é diversa tanto no que diz respeito ao tratamento disciplinar -sociológico, histórico, geográfico ou biológico -, quanto temático - alterações ambientais, exploração dos recursos naturais, formação econômica, consumo, escassez de recursos não renováveis, contaminação, preservação de sistemas naturais, mercado consumidor, desenvolvimento sustentável, etc. -, o que possibilita muitas abordagens de estudos. Nesse sentido, talvez, a primeira dificuldade a ser enfrentada por aqueles que desejam estudar esse recurso natural em sala de aula seja selecioná-lo de acordo com algum recorte.
A ação curricular aqui sugerida procurou um caminho intermediário ao abordar tema tão relevante em nossa sociedade. A água é uma das questões mais correntes na atualidade. A cada dia a discussão em torno do "ouro azul" é marcada por uma maior preocupação com as questões referentes à sua defesa e proteção - especialmente seu valor na vida humana.
O artigo que ora publicamos, foi articulado a partir de uma ação curricular desenvolvida no Colégio Estadual Nossa Senhora Aparecida, localizada na zona rural do município de Rio Azul, no Estado do Paraná. É significativo constatar que a questão da água possui uma importância enorme para a população onde a escola encontra-se inserida. O município é um dos maiores produtores de tabaco do Brasil e se destaca por possuir em seu entorno grande quantidade de recursos hídricos. Por se tratar de um universo acessível e familiar aos alunos, a localidade é aqui entendida como um campo privilegiado de práticas, nas quais as questões da água dizem respeito direta ou indiretamente ao interesse da comunidade.
Esta ação foi planejada e executada com estudantes da 1ª série do Ensino Médio. No que tange à interdisciplinaridade, esta foi planejada pensando na participação da maior parte de professores. O objetivo maior foi exatamente discutir a questão da água dentro de cada disciplina curricular. A riqueza do trabalho adveio do fato das disciplinas terem trabalhado em conjunto no intuito de encontrar um elo para desenvolver o trabalho.

II - ABORDAGENS E PLANEJAMENTO

A atividade foi dividida em 5 fases. No total, foram utilizadas 5 aulas de cada disciplina para realizar a ação proposta.
A primeira aula teve como foco o estudo da realidade. Para tanto, foi proposto aos alunos uma breve discussão em torno da seguinte questão: de que maneira a água tem sido tratada na nossa comunidade? Cada aluno foi solicitado a escrever suas opiniões em uma folha de caderno que, sendo recolhido, foi lido para todo o grupo.
Diante dessa questão, foi possível partir para a outra fase, ou seja, a problematização a partir do estudo da realidade. A partir das respostas dos alunos, verificou-se que os rios estavam sofrendo uma deterioração constante. Os professores, em diálogo com os estudantes, registraram as principais respostas e estimularam a turma para a participação. Foi sugerido que os alunos entrevistassem os pais, avós e moradores antigos, relatando o passado da comunidade e sua relação com a água. Foi proposto ainda que os alunos questionassem se os entrevistados conheciam conceitos como "saneamento básico", "reutilização da água" e "bacia hidrográfica".
Os alunos, em um terceiro momento, trouxeram relatos interessantes acerca do tratamento e valorização dado a água antigamente na própria comunidade. Ali foi possível perceber o nível de compreensão da turma em relação aos problemas sociais ocasionado pela poluição dos rios bem como pelo seu mau uso. Nessa mesma ocasião, os professores apresentaram questões que deveriam ser investigadas pelo próprios alunos. Essa terceira fase, denominada de pesquisa, buscou reforçar nos educandos a importância do estudo de conceitos muitas vezes desconhecidos e fundamentais para o entendimento do tema como, por exemplo, "educação ambiental", "desenvolvimento sustentável", "riscos socio-ambientais", "políticas ambientais", "diversidade biogeográfica", etc. Aqui, os alunos foram solicitados a pesquisarem na própria biblioteca da escola. Os professores, após análise conjunta, elaboraram indicações de leitura para subsidiar a pesquisa, com o objetivo de retomar o diálogo com outras disciplinas e conteúdos, estabelecendo dessa maneira um cronograma de trabalho. Cada professor buscou, ainda, anotar as dúvidas e/ou curiosidades que cada estudante possuía acerca dessas palavras.
A quarta fase envolveu a organização do conhecimento. Com as pesquisas em mãos, os professores definiram os conceitos mais significativos para o estudo interdisciplinar sobre a água. Cada professor fez escolhas de acordo com sua disciplina. Tais questões, como sói acontecer, foram adaptadas por cada educador.
O professor de biologia, por exemplo, trouxe para a sala de aula questões como: Qual a importância do saneamento básico para a qualidade de vida da população? Que doenças são causadas pela falta de saneamento básico? O que é drenagem?
O professor de História, por seu turno, levantou questões como: Qual a importância da água para a evolução da humanidade? Como eram os sistemas de drenagens na Antiguidade? Quais as mudanças e permanências acerca desse tema? Porque as grandes civilizações da História se desenvolveram próximo a grandes rios (Nilo, Eufrantes, Amarelo, etc.)?
O professor de sociologia abordou as seguintes problematizações: Como vivem as populações que se estabelecem ao longo dos rios em nossa comunidade? Podem haver conflitos pela posse de fontes naturais como a água? Existem diferenças entre a distribuição da água e as classes sociais? Qual a diferença entre a distribuição da água na cidade e nas comunidades rurais?
O professor de Geografia refletiu acerca das seguintes questões: Qual a hidrelétrica que alimenta a nossa comunidade? Em que espaço geográfico está localizado o principal rio do Paraná e de Rio Azul?
A professora de Língua Portuguesa trabalhou com a poesia de João Batista Melo que trata da falta de água. Entre os seus questionamentos constam os seguintes: Quais os principais questionamentos e críticas feitos pelo poeta João Batista Melo sobre a falta de água no mundo? De que maneira a poesia tem se apropriado de questões ambientais para desenvolver sua arte?
Já o professor de matemática trouxe para o centro do debate questões como: vocês sabem como se medem o volume, a extensão e a capacidade de reservatórios de água? 
O professor de Física, por outro lado, trabalhou a partir das seguintes questões: vocês sabes como verificar a pressão exercida pela água? Sabem que fórmula utilizamos para calcular tal pressão?
Todas estas questões, assim como suas respostas, foram articuladas por cada disciplina. O foco se voltou então para as explicações e discussões levantadas pelos educadores, respeitando a característica de cada disciplina e buscando ao mesmo tempo valorizar a interdisciplinaridade do tema.
Elaborou-se em seguida a quinta fase dessa ação, ou seja, a aplicação do conhecimento. Para tanto,  foi proposto uma visita de campo a um rio da região. Por se tratar de uma ação extramuros, a visita de campo permitiu aproximar a escola da comunidade. O trabalho de campo foi organizado juntamente com os alunos, em que foi construído um roteiro que estabeleceu horário de saída e chegada, objetivos da visita, local a ser visitado e material a ser utilizado por cada aluno para a análise de dados.
Sugerimos a visitação ao Rio Potinga, o maior da comunidade. Cada professor estabeleceu com clareza o que se esperava dos alunos durante a atividade de campo. Isto incluiu, entre outras questões, posturas de respeito com o grupo e o envolvimento com proposta de trabalho. A observação constituiu a principal ferramenta utilizada durante o trabalho. A leitura da paisagem foi uma das maneiras encontradas de fazer com que os estudantes compreendessem o mundo a partir do lugar em que viviam. Ao observar o Rio Potinga, eles perceberam claramente que toda aquela água possui uma História, ou seja, ela é resultado de transformações e acréscimos ocorridos no decorrer do tempo. Os alunos foram instigados a desenvolverem a habilidade de observar, descrever e analisar o Rio Potinga e sua importância para a comunidade.
O professor de biologia buscou explicitar as relações entre cidade e campo, fazendo uma discussão ao ar livre. Fez sua fala a partir da existência de uma garrafa plástica e de saco plástico presentes na margem do rio. Entre as várias questões que abordou, constam: qual o caminho percorrido por essa garrafa, ou seja, como é esse rio; quem comprou e tomou o líquido dessa garrafa; quais as relações de mercado que a trouxeram para o lugar onde o consumidor a comprou, e assim por diante. Cada professor buscou, desta forma, contribuir para a visita de campo, explicitando os vínculos de sua área com a questão da água, por intermédio de exemplos abordados sob a ótica do universo de seus conhecimentos.
Após a visita de campo, os alunos se reuniram em grupo. O objetivo foi a confecção de relatórios, onde deveriam estar registrado todas as problematizações desenvolvidas por cada disciplina, aliadas às descrições do rio visitado.

III - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir desta ação interdisciplinar, ficou ainda mais evidente para os estudantes a prevalência das questões ambientais na sociedade contemporânea. Com isso, os alunos puderam repensar a importância de se ressignificar a relação estabelecida entre o homem e a natureza. Em outras palavras, eles puderam reconhecer a importância da água para o surgimento e manutenção da vida, inclusive a nossa sobrevivência
Acreditamos que a articulação das disciplinas com a temática "água" conseguiu constituir laços identitários de uma cultura ambiental. Isso significa que, na medida do possível, cada aluno identificou-se como parte integrante da natureza e sentiu-se ligado a ela. Plantou-se ali a semente da reflexão. Com isso, frutos poderão vingar no futuro. Todo o trabalho desenvolvido permitiu a construção de uma cidadania responsável voltada especialmente para o cuidado com as águas e os mananciais, relacionando educação cidadã, crítica e participativa com o respeito a cultura local. Por se tratar de uma região onde a fumicultura predomina, os estudante também foram orientados sobre o uso adequado dos agrotóxicos utilizados nas lavouras e seu impacto sobre os rios. Foram instados, portanto, a adotar posturas na escola, em casa e na comunidade sobre o uso da água, priorizando interações construtivas, justas e ambientalmente sustentáveis.
Ficou evidente que as relações ente o homem e a natureza podem, e devem, ser sustentáveis. Somente assim poder-se-á propiciar mudanças de visão e comportamentos que serão necessários para a proteção do meio ambiente para as gerações presentes e futuras.

IV - REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 9.394/1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. DOU 23.12.1996.
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004.
SILVA, Aguinaldo Salomão. Educação Ambiental: Aspectos Teórico-Conceituais, Legais e Metodológicos. Educação em destaque. Juiz de Fora, v.1, n.2, 2º sem. 2008.