Reflexão e ação - Caderno 4 - LINGUAGENS

 PACTO NACIONAL PELO FORTALECIMENTO DO ENSINO MÉDIO

COLÉGIO ESTADUAL PROFESSORA RENEÉ CARVALHO DE AMORIM ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO

Atividade de Reflexão e Ação 1 – Caderno IV – Linguagens
Cursistas:
ADRIANI FELIZARDO
AMAURI BATISTA REIS
ELIANE FELDHAUS
LEONARDO BIASI PLACEDINO
MARI JANE MARIANO
SILVANA MARA LOURENÇO DA ROSA
ORIENTADORA DE ESTUDOS: RODIRCEIA ADRIANO DOS SANTOS
MUNICÍPIO: PONTAL DO PARANÁ              NRE: PARANAGUÁ

O que faz do ser humano um ser social é a presença da linguagem. É por meio dela que os sujeitos se relacionam e através desta relação, entendem e constroem seu mundo. Essa construção de mundo é feita sob duas formas: a percepção e linguagem. A primeira é responsável por captar todas as informações de onde o sujeito está inserido, de diversas maneiras (por meio dos cinco sentidos) e a segunda, promove um significado para o todo. Portanto se as coisas têm um significado e você está conseguindo ler este texto, é por causa da linguagem, compreendida de várias maneiras, seja escrita, oral, corporal, auditiva ou visual.
Mário Sérgio Cortella  diz que, “Ao contrário do que muita gente imagina, a gente não nasce pronto e vai se gastando; a gente nasce não-pronto e vai se fazendo ” assim, a soma de experiências e reflexões, influenciam diretamente em nossa percepção e construção de mundo, que se refletirá em nossa personalidade. O ser humano veio se fazendo ao longo da evolução, nasceu e continua não-pronto, mas segue em uma incansável busca para tentar fazer-se, apesar de saber que nunca conseguirá por completo.
A construção discursiva dos sujeitos sempre traz em si algo já dito, ou outras vozes, que, através dos enunciados, se manifestam no discurso de cada um. Somos, portanto, uma soma destes vários outros discursos. Não há formação discursiva sem haver relações sociais discursivas.  Orlandi fala em interdiscurso como algo que advém de algo que já foi dito, mas que, sofrendo a influência do sujeito que o elabora, acaba por transformar o discurso que está sendo dito. Ou seja, resignificamos.

[...] O fato é que há um já-dito que sustenta a possibilidade mesma de todo dizer, é fundamental para se compreender o funcionamento do discurso, a sua reação com os sujeitos e com a ideologia. A observação do interdiscurso nos permite remeter o dizer da faixa a toda uma filiação de dizeres, a uma memória, e a identificá-lo em sua historicidade, em sua significância, mostrando seus compromissos políticos e ideológicos.
(ORLANDI, 2005, p. 32).
O fato é que, todo sujeito, a fim de se comunicar, forma uma memória discursiva a partir de suas relações, em um determinado espaço-tempo, de uma determinada sociedade. Ao assistir o filme “O enigma de Kaspar Hause”, observa-se que esta falta de memória discursiva o desvincula do mundo real, tornando-o um ser despregado da realidade e dos conceitos sociais da época.
Demonstra, nitidamente, que a construção de mundo é diretamente influenciada pela experienciação à qual o sujeito está vinculado. A formação de significados fica prejudicada na personagem, ao não se relacionar com o outro, assim como a única relação estabelecida com o sujeito também é aquela que lhe define enquanto “ser humano”.  Mas não o diferencia de atos e atitudes que estariam presentes em seres de inteligência inferior. Subetentende-se, assim, que para vivenciarmos plenamente a condição de seres humanos, precisamos de alguma forma de relações interpessoais e compartilhamentos de informações. Observe-se que, somente a manutenção de relações humanas, não garantiu à personagem, a formação do caráter humano em sua relação. Porém, uma vez introduzido o elemento da linguagem, e aqui pensamos linguagem como toda forma de expressão humana, altera-se percepção de mundo do sujeito. Isto porque, para além das relações, está a troca de experiências entre sujeitos.
Em Foucault (2008, p.32) passamos a compreender que a formulação dos enunciados são frutos da memória e do meio de propagá-la. Interferem aí outras variáveis como ideologias, valores morais e sociais, senso comum, espaço ou esfera discursiva e gênero escolhido, dentre tantas outras. A mudança observada na personagem se dá exatamente por estas e outras variáveis ao qual é exposto ao longo de seu processo de integração à sociedade que o acolhe. Somente deste ponto em diante, a exemplo das personagens de Vidas Secas (Graciliano Ramos, 1938. Ed. José Olympio), a personagem adquire condições humanas e passa a interagir e a “trocar” experiências. Em suma, cria sua memória discursiva, que lhe permite estabelecer sentido às informações que lhe chegam e desenvolver seu próprio discurso, proveniente de organizações mentais associativas a ser aplicado em uma determinada época, numa determinada sociedade.
A partir das concepções de Orlandi e Foucault, e da análise propiciada pelo filme, podemos conceber a ideia de que, em um mundo de constantes mudanças, o sujeito transforma-se também, aliás, como explica Cortella , se o sujeito “congelar-se”, física ou intelectualmente, ou seja, não acompanhar as mudanças da sociedade, e durante anos permanecer o mesmo, em meio a este mundo de transformações, seria um sinal de senilidade mental.

CORTELLA, Mário Sérgio.  File: Eu Maior. 2013.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 2005.
ORLANDI & FOUCAULT. Interdiscurso e formação discursiva. Disponível em: < http://www.webartigos.com/artigos/orlandi-e-foucault-interdiscurso-e-for... > Acesso em 28/09/2015.
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. Ed. José Olympio, 1938.