Reflexão Caderno III Colégio Estadual Ipê Roxo Ensino Fundamental e Médio Foz do Iguaçu Pr

Colaboradores: Carina dos Santos,Germano Luiz Kalinoski, Ilda Aparecida de Souza, Lidiomar Teixeira da Silva, Margarida de Souza, Marilda Lopes Cruz, Marilene Aparecida Benites, Patricia de Souza, Robson Fagundes dos Santos.

Coordenadora: Roselide Fátima DalMoro

 

CADERNO III 
A proposta  principal  dos textos existentes no caderno lll é o de refletir e discutir o currículo do Ensino Médio, seus sujeitos e o desafio da formação humana integral. Conforme  as ideias vão sendo expostas  vai ficando claro que o educador deve se envolver com o processo de construção do currículo para o Ensino Médio.
Portanto, a intenção de discutir o que propõem as DCNEM, texto que foi elaborado a mais de 20 anos,  principalmente considerando  o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura como base  para a construção curricular. Na verdade  o currículo para o Ensino Médio foi construído  pelo sistema e o mesmo lhe manterá até o momento que esse sistema (capitalismo) enxergar alguma  importância no mesmo.
A escola, não é apenas um espaço social emancipatório ou libertador, mas também é um cenário de socialização da mudança. Sendo um ambiente social, tem um duplo currículo, o explicito e o formal, o oculto e informal. O Currículo educativo representa a composição dos conhecimentos e valores que caracterizam um processo social. Ele é proposto pelo trabalho pedagógico nas escolas.
O que se pretende com essas discussões e reflexões, é dizer com outras palavras aquilo que já foi dito, aquilo que já consta na LDB, nas DCNEM e em outros documentos oficiais que tratam da educação brasileira. E as propostas apresentadas nesses documentos não são ruins. O problema é que a teoria não está de acordo com a prática. O direito a educação que todos os cidadãos  tem só existe no papel, e não interessa ao sistema capitalista neoliberal  colocar em prática aquilo que propõem teoricamente. E o máximo que acontece é  uma tentativa de resignificar  conceitos já existentes.
O currículo é um instrumento político que se vincula à ideologia, à estrutura social, à cultura e ao poder. A cultura é o conteúdo da educação, sua essência e sua defesa, e currículo é a opção realizada dentro dessa cultura. As teorias críticas nos informam que a escola tem sido um lugar de subordinação e reprodução da cultura da classe dominante, das elites, da burguesia.
Sabemos que o sistema capitalista esta assentado sobre o consumismo exagerado, sobre o ter, ter coisas, objetos materiais, status, poder, fama e glória.  Portanto o lugar que ocupa o conhecimento deve ser o de  ajudar  o sujeito  a avançar com relação a sua formação humana integral. Isso quer dizer  avançar no sentido de desenvolver uma proposta de trabalho cujo objetivo central não seja o de simplesmente adequar os alunos  do Ensino  Médio, onde na sua grande maioria são trabalhadores, pobres,  muitos excluídos e  marginalizados socialmente, ao estilo dominante.
A divisão por disciplina dificulta a busca da totalidade, pois fragmenta o conhecimento, porém, enquanto não temos condições de mudar esta realidade, podemos ter como método de ensino para todas as disciplinas a descoberta, que pode ser conseguida através da pesquisa. Isto significa dizer que devemos abandonar os cálculos, fórmulas e formas prontas, as histórias definitivas.
Ou seja, esses alunos têm que vencer na vida, eles tem que ser alguém, devem consumir como todos os outros cidadãos . É a escola produzindo e reproduzindo o estilo de vida dominante. Nesse sentido não é possível perceber a existência de uma filosofia, ou teoria pedagógica diferente, que seja essencialmente transformadora da realidade. O que ela faz é integrar os alunos a estrutura dominante. Acreditamos que o ser humano produz conhecimento para mudar para melhor o mundo em que vive. Pelo menos deveria ser assim.
Silva nos trás que:

“Para elaboração de um currículo escolar devemos levar em consideração as vertentes caracterizadas pela: ontologia (trata da natureza do ser); epistemologia (define a natureza dos conhecimentos e o processo de conhecer); axiologia (preocupa-se com a natureza do bom e mau, incluindo o estético). As ciências nos mostram que não há desenvolvimento sustentado sem o capital social, gerador de inovação, de responsabilidade e de participação cívica. E que a escolarização é a condição fundamental de acesso à cultura, ao sentido crítico, à participação cívica, ao reconhecimento do belo, e ao respeito pelo outro”.

Esta concepção de currículo e de escola busca auxiliar nossas crianças e jovens a se tornarem adultos autônomos e capazes de enfrentar as lutas sociais, objetivando a construção de uma sociedade justa e fraterna. Isso não significa que perdemos a noção do papel da escola na sociedade de classes, porém acreditamos que devemos aproveitar a escola e o currículo como espaços privilegiados da disputa ideológica.
O chão da escola pública em que  o Ensino Médio está inserido, onde o processo de ensino /aprendizagem acontece, necessitam algo mais do que teorias, leis e normas, é necessário ações concretas por parte do Estado. O Estado tem que assumir a educação como prioridade e investir mais e melhor no sistema público de ensino.

A grande questão da educação enquanto plano de governo é que as metas que podem ser manipuladas pelos diferentes governos, não dando continuidade a projetos ou não exercendo o trabalho que possa realmente produzir uma educação de qualidade.
Uma pedagogia voltada para os projetos somente passa a ser uma pedagogia multiculturalista que se apresenta de esquerda e nem sempre perpassa os trabalhos ficando muitas vezes num conhecimento é relativo.
Observando, o parecer 05/2011 sobre o Ensino Médio diz: “Com a perspectiva de um imenso contingente de adolescentes, jovens e adultos que se diferenciam por condições de existência e perspectivas de futuro desiguais, é que o Ensino Médio deve trabalhar. Está em jogo a recriação da escola que, embora não possa por si só resolver as desigualdades sociais, pode ampliar as condições de inclusão social, ao possibilitar o acesso à ciência, à tecnologia, á cultura e ao trabalho.”
O conhecimento adquirido ao longo da história estrutura-se na escola através de uma organização por disciplinas específicas. A escola se organiza dessa forma tradicional pois é a forma mais próxima de sua realidade. Ou seja, possui um espaço restrito para se organizar. Essa dinâmica “tradicional” ocorre, pois o investimento  à educação e o valor que se dá a ela é secundário, logo, não há um interesse real em investir em políticas educacionais.
A educação está presa à burocracia exigida pelas autoridades que regulamentam o sistema de ensino. Responder a essas expectativas é o que espera o sistema, pois cobram números, quando, na verdade, deveriam ater-se na qualidade do ensino, mas pensarmos na qualidade significa pensarmos em investimento, como já fora mencionado.
Para que a escola enfrente os problemas pertinentes à organização escolar, faz-se necessário pensarmos em uma escola que contemple um ensino integral, com ampliação de carga-horária e uma reestruturação no espaço físico e pedagógico e principalmente valorização do profissional da educação.
O Ensino Médio na perspectiva de planejamento curricular tem, ainda, como principais diretrizes, que a ação de planejar implica a participação de todos os elementos envolvidos no processo os professores, coordenadores pedagógicos, gestores, alunos; que há necessidade de se priorizar a busca da unidade entre o que se planeja e o que se realiza; que o planejamento escolar deve partir da realidade concreta e estar voltado para atingir as finalidades da educação básica definidas no Projeto Político Pedagógico e na Proposta Pedagógica Curricular, que devem ser coletivamente construídos.
  O Ensino Médio é um direito social de cada pessoa, e dever do Estado na sua oferta pública e gratuita a todos e a cada um. As unidades escolares que ministram esta etapa da Educação Básica devem estruturar seus Projetos Político-Pedagógicos e Proposta Pedagógica Curricular considerando as finalidades previstas na LDB:
• A consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos.
• A preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores.
• O aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico.
• A compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática. Referencial legal e conceitual.
O Ensino Médio em todas as suas formas de oferta e organização, baseia-se em:
• Formação integral do estudante.
• Trabalho e pesquisa como princípios educativos e pedagógicos, respectivamente.
• Educação em direitos humanos como princípio nacional norteador.
• Sustentabilidade ambiental como meta universal a ser garantida.
• Indissociabilidade entre educação e prática social, considerando-se a historicidade dos conhecimentos e dos sujeitos do processo educativo, bem como entre teoria e prática no processo de ensino-aprendizagem.
• Integração de conhecimentos gerais e, quando for o caso, técnico-profissionais realizados na perspectiva da interdisciplinaridade e da contextualização.
• Reconhecimento e aceitação da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo, das formas de produção, dos processos de trabalho e das culturas a eles subjacentes.
• Integração entre a educação e as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura como base da proposta e do desenvolvimento curricular.
Organizar formas de enfrentar a diferença de qualidade nos diversos sistemas educacionais, garantindo uma escola de qualidade para todos, indicando alternativas de organização curricular que, com flexibilidade, dêem conta do atendimento das diversidades dos sujeitos.
A definição da identidade do Ensino Médio como etapa conclusiva da Educação Básica, mediante projeto que seja unitário em seus princípios e objetivos, mas desenvolva possibilidades formativas com itinerários diversificados, que contemplem as múltiplas necessidades socioculturais e econômicas dos estudantes, reconhecendo-os como sujeitos de direitos.
As instituições escolares devem avaliar as várias possibilidades de organização do Ensino Médio, garantindo a simultaneidade das dimensões “trabalho, ciência, tecnologia e cultura” e contemplando as necessidades, anseios e aspirações dos sujeitos em processo formativo.
O Ensino Médio tem compromissos com todos os jovens, e por isso, é preciso que a escola pública construa propostas pedagógicas sobre uma base unitária necessariamente para todos, mas que possibilite situações de aprendizagem variadas e significativas para os alunos.
A discussão sobre a formação de professores não pode ser dissociada da valorização profissional, tanto no que diz respeito à uma remuneração mais digna, quanto à promoção da adequação e melhoria das condições de trabalho desses profissionais.
Como sujeitos de direitos, os estudantes devem tomar parte ativa nas discussões para a definição da normatização da escola, sendo estimulados à auto-organização e devem ter acesso a mecanismos que permitam se manifestar sobre o que gostam e o que não gostam na escola e a respeito da escola a que aspiram.
É necessário ainda ressaltar que a efetivação dessa reformulação tanto no que tange ao Projeto Político Pedagógico, quanto da Proposta Pedagógica Curricular, é um espaço de lutas e embates que visam superar a fragmentação, linearidade e hierarquização que historicamente deixam estanques saberes e práticas, isolam segmentos, disciplinas. Para tanto se faz necessário um novo modelo de formação para os professores, para que estejam também numa condição de protagonistas.
A escola integral seria uma excelente alternativa para concretizar essas mudanças. Para tanto seria necessário um aporte de recursos, que não é o que temos hoje para a educação. Construção de mais unidades escolares, com as condições necessárias para aproximação de todas as áreas de conhecimento. Investimento para uma formação de professores de qualidade com vistas a romper com velhos paradigmas. Que o indivíduo aluno seja atendido em todas as suas necessidades básicas pois, não formamos isoladamente um indivíduo na escola e outro fora dos seus muros, é a mesma pessoa.

REFERÊNCIAS
www.espacoacademico.com.br/096/96nery.htm
SILVA, T.T.da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo In: educador.brasilescola.com/trabalho-docente/o-curriculo-aprendizagem.htm
ALTHUSSER. L. Aparelhos Ideológicos de Estado. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
APPLE, M. Educação e poder. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
NIDELCOFF, M. T. Uma escola para o povo. São Paulo: Brasiliense, 1993.
PARO, V. H. Administração escolar: introdução crítica. São Paulo: Cortez, 1996.
__________. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 1997.
__________. Escritos sobre educação.  São Paulo: Xamã, 2001.
SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 7ª ed. Campinas: Autores Associados, 2000.