Reflexão Caderno I - Colégio Estadual Ipê Roxo - Foz do Iguaçu

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Temos na trajetória da educação brasileira, grupos que foram excluídos do processo educacional, devido às condições históricas postas em cada época. As desigualdades sociais existentes na atualidade são fruto do modelo escravocrata que submeteu a população indígena e os negros trazidos da África, a uma condição de subalternidade dentro da sociedade. Boa parte, dos descendentes desses grupos étnicos forma hoje a população que está em maior número, numa condição de vulnerabilidade social.
Essa situação faz desse sujeito vítimas de um sistema macabro que muitas vezes inviabiliza o acesso, a permanência e o sucesso na aprendizagem. Garantir o acesso não basta, é necessário que esses alunos tenham condições de permanecerem na escola para tanto é necessário que outros aspectos da sua vida permitam isso. A disfunção familiar, com problemas de drogadição tanto de drogas lícitas quanto ilícitas, situação de abandono e negligência desestimulam a formação.
Muitos adentram o espaço escolar sem limites, e os conflitos aparecem a partir da necessidade de um ambiente disciplinado que permita a aprendizagem. Além disso, assegurar a aprendizagem impõe à escola a necessidade de rever suas práticas pedagógicas coletivamente, com todos os componentes da comunidade escolar assumindo responsabilidade em suas funções.    
O grande desafio da educação brasileira como um todo é minimizar as desigualdades sociais permitindo que esses sujeitos tenham condições mínimas para freqüentar a escola. Para isso se faz necessário políticas públicas que atendam esse sujeito em todas as suas necessidades. Desde a educação infantil, anos iniciais e finais do ensino fundamental a criança constrói junto com a bagagem que ela traz das vivências em família e na comunidade base para sua formação.  Quando há falha ou deficiência em alguma dessas etapas ou espaço sociais terá reflexo direto no ensino médio.
Nesse sentido a escola não será a “redentora” dos problemas sociais, assim como já afirmava Paulo Freire, porém sem ela não há transformação social.
O indivíduo que tem suas necessidades básicas asseguradas, tendo respeitada a sua dignidade humana terá melhores condições para se desenvolver, havendo mudanças no campo individual e essas mudanças trarão reflexo para o ambiente social em que esse indivíduo está inserido.
É necessário pensar hoje qual é a real função da escola pública? Não estamos preparando para a inserção no mercado de trabalho tampouco para o ingresso no ensino superior. Tentar suprir as suas necessidades básicas é prioritário para os educandos, assim a escola se torna sem sentido. 
Em nossa escola temos um perfil de alunos do Ensino Médio que migram para outra região em épocas específicas do ano (carnaval, férias escolares e meados de novembro- Santa Catarina) em busca de trabalho em regiões distantes. Assim, não conseguem acompanhar o ano letivo integral na escola.
A origem do bairro onde está inserida a escola é de um processo de desfavelamento ocorrido na cidade. Nosso aluno é fruto de uma família de baixa renda, de pais com pouca formação escolar e não presentes na vida escolar dos filhos. É comum termos alunos também abandonando a escola para trabalhar e complementar a renda.
Os educandos estão reproduzindo a realidade cultural e social de seus pais, posteriormente buscam nos seus pares, que está arraigada nas suas atitudes, identificando a que grupo pertencem.  Estão ligados ao Hip Hop, Rap, ou músicas evangélicas, e são aliciados ao uso indevido de drogas, bebidas e ao fumo de narguilé, devido a sua vulnerabilidade social.
Como o próprio texto relata há vários Ensinos Médios, porque há várias sociedades, umas onde a família se realiza com o estudo dos filhos e outra no caso da nossa, em que o desprezo, a não estimulação, a própria aceitação da pobreza e o sentimento de inferiorização do indivíduo  é muito forte e evidente. Primeiro temos que desconstruir essa idéia na mentalidade do educando, para depois conseguir chegar a um novo pensamento.
Com a implementação do Ensino Médio houve a redução da formação humana à dimensão da unilateralidade, ou seja, a continuidade de estudos; mas apesar desta unilateralidade deve haver o respeito às especificidades dos grupos (indígena, quilombolas, etc.) no PPP e currículos.
A proposta de formação humana integral tem como principal princípio a omnilateralidade, ou seja, a formação do aluno no Ensino Médio deve considerar os aspectos científicos, tecnológicos, informacionais, políticos, culturais, ambientais, etc. Portanto, percebemos que as DCNEM propõem em seu texto uma formação integral, ampla, que ajude o aluno a se desenvolver como cidadão.
Refletindo sobre o Ensino Médio proposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio que busca construir uma formação humana integral, valorizando o aluno trabalhador, percebemos que na prática e considerando a realidade da comunidade escolar em que o Colégio Estadual Ipê Roxo está inserido, as propostas feitas pelas DCNEM devem ser implantadas. Para que isso aconteça, os governos devem ver a educação como prioridade e fazer de forma ampla e profunda uma reforma em todo sistema de ensino existente no Brasil.
Historicamente na Educação do Ensino Médio observou-se um esforço e avanço em oferecer à população brasileira políticas públicas que garantissem o acesso à educação gratuita. O problema a ser enfrentado é promover a superação de uma estrutura social que gera a desigualdade. É buscar uma política que organize, estabeleça critérios para a ação emancipatória.
Primeiramente, para que a oferta de um Ensino Médio de qualidade seja efetivada seriam necessárias políticas que priorizem a permanência plena do aluno na faixa etária (dos 15 aos 17 anos). No entanto, permanecer não significa qualidade no aprendizado, mas efetivamente garantir a qualidade do ensino ofertado a este aluno. Para isso, busca-se organizar a escola para a oferta de conteúdos básicos que dê grande importância para o desenvolvimento sociocultural. Ainda somamos como válida, a iniciativa de unir fatores históricos, sociais e culturais; trabalhar conteúdos,  que envolvam e que estarão sempre presentes na vida do indivíduo. Como as artes, as ciências, a história e tecnologia.
Uma proposta para o desenvolvimento à longo prazo seria oferecer a educação integral desde os anos iniciais, possibilitando condições desse aluno desenvolver outras habilidades que contribuem para a formação do aprendizado nas disciplinas do ensino regular, além de contribuir na sua formação enquanto ser humano. Outra proposta, para reduzir a evasão e atrair alunos que estão fora da escola, é o ensino profissionalizante que propicie uma formação direcionada e que contribua para a sua emancipação social.
Para isso é necessário Políticas públicas voltadas ao atendimento desse sujeito em todas as suas necessidades (educação, saúde, segurança, moradia, trabalho etc.), respeitando de fato sua dignidade humana.