Que relações existem entre o que eu ensino e o mundo do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura?

No universo do ensino médio integrado profissionalizante, essas relações se tornam praticamente essenciais e intrínsecas no desenvolvimento do trabalho docente.
Nas diversas áreas de humanas, exatas e biológicas trabalhamos os conceitos e a relação entre as questões relativas ao mundo do trabalho, ciência e cultura, trazendo para a consciência do aluno a importância histórica do que é o trabalho, desconstruindo conceitos de tortura e de obrigação, propondo uma reflexão da visão do aluno através de textos filosóficos, construindo seres mais críticos e formadores de opinião. Trabalhamos também a visão geopolítica do espaço moderno, principalmente em função desse mundo globalizado e interligado.
Essas relações quando bem trabalhadas, trazem para o aluno uma visão mais integrada com o mundo tecnológico, ampliando seus horizontes e as possiblidades de futuro inserindo-o no Mundo do trabalho e de todas as culturas existentes formando-o de maneira mais ampla.
Existe a necessidade de se pensar o currículo de maneira mais integrada e mais efetiva, de forma a não permitir lacunas do conteúdo da base nacional com as disciplinas técnicas, tão importantes para a construção do nosso aluno técnico, como exemplo como trabalhar o universo do técnico em edificações, se a geometria é um conteúdo só visto no ultimo ano do aluno? Entender esse universo matemático é essencial para que ele compreenda as diversas disciplinas técnicas que compreendem o curso construindo esse aluno de forma mais completa.

Como termos professores da área profissionalizante que em quase sua maioria são professores de fora do quadro efetivo das escolas? A troca ou a falta de professores durante o processo de aprendizado técnico causa um prejuízo pedagógico imenso na formação continuada e multidisciplinar tão necessária profissionalmente.
Como trabalharmos em escolas que fisicamente e tecnologicamente não estão preparadas em seu espaço para o desenvolvimento desse nosso aluno que será lançado ao mundo globalizado, onde a ciência e a tecnologia avançam de forma acelerada? Precisamos pensar nesse aluno de uma maneira mais ampla e politécnica e não tão somente como um mero trabalhador a desenvolver adestradamente certa habilidade ou função. Como nos esclarece (SAVIANI, 2003, p. 140).

 

Politecnia diz respeito ao domínio dos fundamentos científicos das diferentes técnicas que caracterizam o processo de trabalho produtivo moderno. Está relacionada aos fundamentos das diferentes modalidades de trabalho e tem como base determinados princípios, determinados fundamentos, que devem ser garantidos pela formação politécnica. Por quê? Supõe-se que, dominando esses fundamentos, esses princípios, o trabalhador está em condições de desenvolver as diferentes modalidades de trabalho, com a compreensão do seu caráter, sua essência.

 

Acreditamos que o ensino médio deve estar orientado em uma linha progressista de maneira a trabalhar o conceito da ciência e de novas tecnologias, mas, sobretudo construir um pensamento mais amplo nesse processo de produção levando em consideração os diferentes aspectos culturais e sociais. Integrar, desenvolvendo multilateralmente, abrangendo todos os ângulos da prática produtiva e social. 
O Ensino médio integrado profissionalizante deve associar o mundo do trabalho, ao desenvolvimento científico, tecnológico e cultural no intuito de construir o aluno para a produção do seu conhecimento onde o professor se torna um facilitador, um mediador que, dentro de um enfoque construtivista possa assegurar um ambiente dentro do qual os alunos possam reconhecer e refletir suas próprias ideias, pois é pensar sobre elas os torna mais conscientes de suas concepções alternativas (Driver et al., 1994) ou ideias informais ( Black e Lucas, 1993). Capacitar nossos alunos para que desenvolvam a capacidade de análise e de critica e que o conhecimento não seja aprendido de maneira mecânica e se transforme no ato de construir conscientemente.

Para que o trabalho docente desse professor mediador seja mais efetivo os espaços escolares devem ser mais adequados, a fim de proporcionar ambientes mais preparados para esse avanço. Em uma análise do espaço físico, Escolano (1998) nos diz:

"Os espaços educativos, como lugares que abrigam a liturgia acadêmica, estão dotados de significados e transmitem uma importante quantidade de estímulos, conteúdos e valores (...), ao mesmo tempo em que impõem suas leis como organizações disciplinares" (p.27). "a arquitetura escolar pode ser vista como um programa educador, ou seja, como um elemento do currículo invisível ou silencioso, ainda que ela seja, por si mesma, bem explícita ou manifesta" (Escolano, 2001, p. 45).
Sendo assim, "a localização da escola e suas relações com a ordem urbana das populações, o traçado arquitetônico do edifício, seus elementos simbólicos próprios ou incorporados e a decoração exterior e interior respondem a padrões culturais e pedagógicos que a criança internaliza e aprende" (Escolano, 2001, p. 45).

Nosso olhar docente não pode estar dissociado de nossos espaços acadêmicos. Além dos espaços construídos, outro fator que pode interferir no desenvolvimento didático dos alunos são as condições ambientais da classe: acústica, temperatura, insolação, ventilação e luminosidade, a qual pode refletir-se em fatores tão diversos como a sociabilidade dos usuários, seu desempenho acadêmico e mesmo em sua saúde. (SOMMER, 1973 citado por ELALI, 2003).

Laboratórios preparados para cada necessidade, salas de aula com mobiliários adequados, salas preparadas para novas tecnologias, e docentes capacitados para com criatividade enfrentar o desafio de um Ensino mais dinâmico e efetivo. Para tanto é necessário que todos os envolvidos no processo estejam alinhados com o mesmo objetivo. Nenhum processo será vitorioso se não contar com políticas públicas sérias, investimentos qualitativos e quantitativos, formação de professores de maneira continuada na área técnica profissional, um regime de cooperação mútua entre União, estados e municípios na viabilização de adequada infraestrutura física das unidades escolares, de forma a alcançarmos um ensino médio profissionalizante de qualidade para todos.