A capacidade de projetar é própria do ser humano e é na juventude que o sujeito começa a se perguntar que rumo irá tomar na vida. Um projeto de vida tende a se realizar segundo duas variáveis: a da identidade e a do conhecimento da realidade. A elaboração de um projeto de vida é fruto de um processo de aprendizagem, no qual o maior desafio é aprender a escolher. Faz-se importante estimular nos jovens a capacidade de projetar e acreditar nos seus sonhos e desejos e também contribuir para que desenvolvam as capacidades para realizá-los.
Outra dimensão fundamental para conhecer bem os jovens refere-se às relações que estabelecem com o mundo do trabalho. Para muitos o grande desafio cotidiano é garantir a própria sobrevivência. Outros - que possuem suportes materiais, bens culturais, expectativas familiares - podem somente estudar e se preparar para o futuro. Infelizmente o Brasil não estruturou ainda uma rede de proteção social que possibilite um período de formação e preparação anterior ao trabalho para todos. Além disso, o desemprego e o trabalho precário ou sem proteção legal têm sido a marca da inserção juvenil no mundo do trabalho, embora já existam leis que protejam o trabalho juvenil e busquem favorecer a dimensão formativa. Porém isso não garante a mudança da realidade.
Enquanto para alguns jovens a juventude é um tempo de preparação que se faz por meio de estágios e de cursos de formação, para outros a entrada no mundo do trabalho é precoce e única alternativa. Dessa forma, o trabalho é espaço de socialização e sociabilidade, de construção de valores e de identidades.
Embora as diretrizes Curriculares nacionais do Ensino Médio conceituem o trabalho em “sua perspectiva ontológica de transformação da natureza, como realização inerente ao ser humano e como mediação no processo de produção e existência”, a sociedade capitalista o transforma em uma mercadoria, cuja finalidade é criar novas mercadorias e gerar capital. Para Miguel Arroyo. É por meio do trabalho que são produzidas culturas, saberes e identidades que se opõem à desumanização do trabalho. Assim, faz-se necessário criar estratégias para uma equilibrada relação entre escola e trabalho.
Pensar o tema “territórios e juventudes” permite pensar como os espaços vividos, construídos e (res)significados pelos jovens influenciam em suas escolhas e em seus projetos de vida. É importante lembrar que existem desigualdades (econômicas, políticas, sociais e culturais), além das diferenças lingüísticas e culturais que estigmatizam moradores de determinados territórios. Salienta-se que a vivência em determinados territórios produz vivências que podem ser exploradas dentro da escola para promover aprendizagens significativas. Essa vivência no território serve de base para a história de vida dos jovens, fornecendo elementos significativos para trabalhar questões diversas em todas as disciplinas. A participação, que envolve a formação teórica para a vida cidadã e a criação de espaços destinados ao exercício da cidadania no espaço escolar, é outro fator importante na formação de nossos jovens.
A participação remete à ideia de adesão das pessoas em agrupamentos produzidos na sociedade. Ou seja, a participação ativa dos cidadãos nos processos decisórios da sociedade, propiciando uma participação política e cidadã. Portanto, a experiência participativa é uma experiência educativa e formativa, devendo propiciar aos jovens o desenvolvimento de habilidades discursivas, de convivência, de respeito às diferenças e liderança, capacidades inerentes ao convívio em sociedade.
A cultura escolar consolidada através dos tempos dificulta a adaptação dos jovens estudantes de hoje, pelo modo hierárquico e linear na socialização de informações e conhecimentos. Mas esse sistema encontra uma sociedade reconfigurada e um novo público, em um contexto de grande desigualdade social e diversidade cultural.
Por outro lado, a escola por ser um lugar de fazer amigos, compartilhar experiências, valores e delinear projetos de vida, ou seja, é uma instituição central na vida dos jovens. Além disso, os jovens sabem que ela pode contribuir afetivamente para suas vidas, favorecendo a continuidade dos estudos e uma boa inserção profissional. Eles reconhecem o papel da escola, mas querem também que a instituição escolar esteja aberta o diálogo com suas experiências do presente e expectativas do futuro.
Pesquisas indicam que os jovens almejam uma escola que faça sentido para a vida e que contribua para a compreensão da realidade. Por isso é preciso que o professor esteja mais próximo ao jovem e saiba ouvi-lo, de forma que possa mapear suas potencialidades, estabelecendo relacionamentos interpessoais significativos, o que contribuirá para atribuir sentido à escola.
Para refletir sobre a questão da indisciplina que se materializa de várias formas no interior da escola, é necessário pensar como os jovens têm lidado com as regras escolares impostas ou construídas. Essa classificação dos atos infracionais cometidos pelos alunos pode contribuir para que se estabeleçam procedimentos adequados para situações específicas. É necessário compreender como as regras são definidas e como são aplicadas. É preciso conhecer o jovem real que temos, deixando de enxergá-lo de forma negativa e entender os modos pelos quais os jovens constroem a sua afetiva e multifacetada experiência de juventude.
Reflexões do Caderno 2 - Colégio Estadual Professor Algacyr Munhoz Maeder - Curitiba