Por que a escola já não atende as expectativas da juventude?

Colégio Estadual Hildebrando de Araújo

Orientadora de Estudos: Eliana Maria Dalacqua

Cursistas:

Adão Leite
Anna Maria Costa Martins
Carlos Augusto Ribas
Claudia Quaquarelli Geronazzo
Daniele Grossmann
Eyrimar Fabiano Bortot
Leandro Cesar Gobbi
João de Souza e Silva Filho
Jonathan Amaro de Souza
Margareth Castro Mendonça
Mirian Elise M. Passos
Patricia G. Bandeira
Rodrigo Manika
Sara Leite de Alencar
Sergio Saldanha

             Muitas vezes aquilo que pode proporcionar deleite e satisfação à juventude pode elevar em muito seu nível de ansiedade e estresse desestimulando-o a buscar nas fontes tradicionais o embasamento necessário para a compreensão de seu tempo e formação de seu caráter.
           A vida do jovem é pautada pelas mudanças biológicas e psicossociais destarte a pressão exercida diuturnamente pela família, escola e sociedade para que seja rapidamente adequado e ajustado de forma abrupta ao sistema.

            A juventude é, ao mesmo tempo, uma condição social e um tipo de representação. De um lado há um caráter universal, dado               pelas transformações do indivíduo numa determinada faixa etária. De outro, há diferentes construções históricas e sociais                     relacionadas a esse tempo/ciclo da vida. A entrada na juventude se faz pela fase da adolescência e é marcada por                                 transformações biológicas, psicológicas e de inserção social. É nessa fase que fisicamente se adquire o poder de procriar, que               a pessoa dá sinais de ter necessidade de menos proteção por parte da família, que começa a assumir responsabilidades, a                     buscar a independência e a dar provas de autossuficiência, dentre outros sinais corporais, psicológicos e de autonomização                 cultural. (BRASIL. MEC, 2013).

           A geração de jovens atuais foram rotuladas de Geração Y, designação para aqueles que vêm crescendo conjuntamente com o avanço desenfreado da tecnologia e a premente transformação do mundo numa aldeia global (Mc Luhan);  Não obstante a celeridade apresentada possui uma grande multiformidade norteando-os  a um caminho desconhecido, superficial e desordenado levando-os a uma certa ceticidade e descrença socioeducativa.
           A mídia personifica um falso ideal, levando muitos a um mundo de “faz de conta”; o cepticismo pelas instituições e seus agentes políticos que, cada dia mais, se veem envolvidos em escândalos de corrupção; aponta para uma sociedade marcada pela desigualdade social, pela falta de justiça, pelos preconceitos exacerbados fazendo emergir ondas de ódio com a consequente violência desenfreada, muitas vezes insuflada pela mídia parcial e tendenciosa e pior, deseducadora. 
            Influenciados por esse contexto, o jovem acaba desenvolvendo um perfil hedonista, imediatista, pessimista e superficial. O seu desinteresse na busca pelo saber escolar é consequência dessa descaracterização do que é ético e do que é moral. Afinal existe uma exoeducação, como se fosse uma camada mais externa, distante da realidade psicossocial em que está inserido aquele a que pretende-se uma educação plena  moldada pelo conteúdo sócio pedagógico predeterminado e consubstanciado num determinado tempo e espaço.
            A permanência de um modelo escolar apoiado em métodos, seleção de conteúdos e processos avaliativos cristalizados somente reflete nos jovens uma maior desmotivação distante da dinâmica de suas relações interpessoais e virtuais e outros meios de acesso às informações utilizadas pelos jovens nos dias atuais. Com todos os debates e pesquisas no campo da educação, apontando para novas direções, a maior parte das instituições de ensino ainda mantém o modelo tradicional e conteudista. Seu formato, com a divisão de matérias clássicas, com carga-horária pré-definida, rol de conteúdos intangíveis e professores aprisionados em suas especialidades depõem contra essa nova concepção de ensino e às expectativas juvenis.
              Tais paradigmas necessitam de uma revisão urgente da escola como instituição, buscando se promover enquanto espaço de movimento, ruptura e autonomia em relação aos padrões tradicionais alçando-se uma escola que realmente se adapte ao seu meio social e a  sua verdadeira realidade.
             A promoção de uma estratégia interdisciplinar na organização curricular pode permitir a quebra de barreiras: um grupo, um estilo, um currículo que ainda resguarde algum prazer de aprender para esse indivíduo, podendo envolver interesses juvenis às diversas áreas do conhecimento e culturas. 
            No que concerne a forma de avaliação quantitativa desmotiva um aluno que prioriza a experiência em contrapartida ao teórico; que procura construir e não observar; desenvolver e não decorar. Se o conhecimento teórico é de fácil acesso devido as novas tecnologias, cada vez mais esse jovem necessita de uma aula mais empírica em que ele tenha uma atuação direta com o conhecimento, quebrando essa grade das disciplinas tradicionais e podendo transformar informação em conhecimento autônomo, construindo um comportamento ético para com a sociedade.
           Com vistas à proposta dos estudos realizados pelos professores do Colégio Estadual Hildebrando de Araújo, na formação de professores do Ensino Médio – Pacto pelo Fortalecimento do Ensino Médio (MEC/SEB) – construiu-se um projeto interdisciplinar direcionado ao 3º Ano do Ensino Médio do período vespertino.
          O tema escolhido para o projeto foi “fontes de energia” e sua escolha se deu em função de privilegiar um assunto de grande relevância na atualidade, especificamente na área de Ciências da Natureza, fulcrado no Caderno III, da II Etapa, arrazoado em que abordava esta área do conhecimento.
           Ademais, considerou-se que

            a Educação Ambiental está inserida em diversos currículos numa perspectiva de transversalidade e interdisciplinaridade. Entre               os vários temas interdisciplinares que podem ser trabalhadas na Educação Ambiental estão às questões energéticas                               relacionadas aos impactos ambientais provenientes da geração de energia. Discutir essas questões é muito importante, uma                 vez que a energia é um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento econômico e social do país. Devido a sua                           importância temos observado na mídia que discussões envolvendo fontes energéticas renováveis para produção de energia                   elétrica tem ganhado destaque mundial. (PINTO e AMARAL, 2014)

            Optamos pela construção coletiva do mapa conceitual para vencer o costumeiro trabalho individual de preparo dos planos docentes, especialmente na seleção de conteúdos ligados ao tema gerador.
            A construção do quadro denominado pelo grupo como ‘nuvem de ideias’ nos trouxe a possibilidade de abordar um tema tendo como fio condutor as perspectivas das diferentes áreas do conhecimento humano, rompendo com a organização disciplinar descontextualizada, que ainda se faz presente no âmbito organizacional de cada estabelecimento escolar.
           Outro ponto positivo foi o trabalho em rede entre os professores que, em sua maioria, pouco interagia com os demais profissionais no planejamento e elaboração de suas aulas. Isso também levou aos professores a oportunidade de promover pesquisas coletivas que embasassem uma melhor integração dos conteúdos.

            Durante a elaboração do projeto o grupo identificou a necessidade de construção de um currículo voltado para as demandas temáticas de interesse da juventude, identificadas a partir de uma consulta prévia entre estes segmentos. Essa orientação articularia temas geradores levantados pelos alunos para a seleção e organização dos conteúdos, tendo sempre como referência os eixos erigidos numa Formação Humana Integral como Trabalho e Ciência, Tecnologia e Cultura.
             Entretanto, ressaltamos que esse adolescente se vê como especial, não reconhecendo a necessidade da escola como fonte principal de conhecimento, pois, a informação está a um toque de seus dedos.
Diante dos desafios da contemporaneidade, sobretudo no que diz respeito às evoluções tecnológicas, a escola não deverá abrir mão do domínio do conhecimento crítico. Deverá outrossim, oportunizar ao jovem uma formação autônoma, cidadã e humana, a fim de que se torne um sujeito capaz de criar soluções originais para os problemas de se cotidiano.
Paul Harvey, um professor da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, expert na geração Y fez uma pesquisa onde conclui que esta geração tem “expectativas fora da realidade e uma grande resistência em aceitar críticas negativas” e “uma visão inflada sobre si mesmo”. O autor afirma que “uma grande fonte entre frustrações de pessoas com forte senso de grandeza são as expectativas não alcançadas. Elas geralmente se sentem merecedoras de respeito e recompensa que não estão de acordo com seus níveis de habilidade e esforço, e talvez não obtenham o nível de respeito e recompensa que estão esperando”.  (JOHANSEN, 2015).
           Esta expectativa em torno de si mesmo se consubstancia por meio das redes sociais, onde existe um mundo distante da realidade por razão das informações de que tudo e todos vão bem, sem problemas pessoais, pois, jovens tendem a esconder ou mesmo omitir esses problemas. A autoestima permanece sempre elevada até o momento em que a realidade toma forma e se vê muitas vezes em desespero frustrado ante uma falsa expectativa edificada em sua cabeça, tendo que retomar aos bancos escolares devido a falta de embasamento cognitivo propiciado pela “velha escola e seu sistema tradicional”.
              E é neste contexto que essa Escola permanecerá sempre onde está, logicamente, se renovando, se refazendo, se recriando, se ajustando e se adequando às variadas conjunturas propiciadas por uma evolução tecnológica desordenada, mesmo colocando-se em disparidade aos emergentes anseios sociais.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação/Secretaria de Educação Básica. [organizadores: Paulo Carrano, Juarez Dayrell]. Formação de professores do Ensino Médio. Etapa 1 - Caderno 2: O jovem como sujeito do ensino médio. Curitiba: UFPR/Setor de Educação, 2013. Disponível em: http://pactoensinomedio.mec.gov. br/images/pdf/cadernos/web_caderno_2.pdf   Acesso em 24 de julho 2015.

______. Ministério da Educação/Secretaria de Educação Básica. [organizadores: Paulo Carrano, Juarez Dayrell]. Formação de professores do Ensino Médio. Etapa 2I - Caderno 3: Ciência da Natureza.Curitiba: UFPR/Setor de Educação, 2013. Disponível em: http://pactoensinomedio.mec.gov.br/images/pdf/cadernos/web_caderno_2_3.p... Acesso em 24 de julho 2015.

______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Formação de Professores do Ensino Médio: Áreas de conhecimento e integração curricular. Brasília: MEC, 2013. Etapa 1, caderno 4.

______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Formação de Professores do Ensino Médio: Organização e gestão democrática da escola. Brasília: MEC, 2013. Etapa 1, caderno 5.

______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Formação de Professores do Ensino Médio: Avaliação no Ensino Médio. Brasília: MEC, 2013. Etapa 1, caderno 6.

JOHANSEN, Igor. Demografia Unicamp. Porque os jovens profissionais da geração Y estão infelizes. Disponível em:
https://demografiaunicamp.wordpress.com/2013/10/30/porque-os-jovens-prof... Acessado em 25 de julho de 2015

PINTO , B. P. e AMARAL,  C. L. C. Mapas conceituais como instrumento de avaliação das relações entre questões energéticas e seus impactos ambientais. Aprendizagem Significativa em Revista/Meaningful Learning Review – V4(1), pp. 68-80, 2014