Pesquisa traça perfil da geração Z e mostra prioridades de jovens no RS

O que será que pensam os jovens que nasceram na geração do telefone celular e em uma época em que as mães na grande maioria trabalham?

A pesquisa realizada em Porto Alegre revela o que pensam os jovens sobre temas como sexo, drogas e família.
No levantamento se ouviu mais de 400 jovens de 13 a 18 anos com o objetivo de verificar o que pensam os jovens sobre os mais variados assuntos.

"Uma pesquisa inédita que ouviu mais de 400 jovens traçou um perfil da geração Z e apontou como vivem, pensam e consomem pessoas de 13 a 18 anos em Porto Alegre. Os resultados revelam que eles estão cada vez mais conectados e apontaram algumas surpresas. Entre elas, a de que trabalho e profissão não são mais prioridades e que os jovens veem a aids como algo distante, como mostra a reportagem do Teledomingo.

O estudo, intitulado “Likers - A Nova Geração de Consumidores”, foi encomendado pela Câmara de Dirigentes Lojitas (CDL) da capital. Foram ouvidos jovens das classes A até a D. Os entrevistados nasceram no auge do debate sobre o vírus HIV, entre a morte de Renato Russo (1996) e a queda das Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, em 2001.

 É a geração do telefone celular. E também de famílias onde as figuras de autoridade deixaram de existir. “Eles nasceram em uma era completamente digitalizada. Eles nasceram com as mães no mercado de trabalho. Já não fazem nenhuma distinção entre o que é o mundo online e o que é o mundo offline", aponta a psicóloga e autora da pesquisa, Luciana de Moraes.

Os pesquisadores descobriram que a realidade da geração Z é o resultado de uma soma. Pais fora de casa, mais convivência com padrastos e madrastas, que costumam ter um  papel pouco definido na família, além da sensação de insegurança e o maior acesso ao mundo através da internet.

Por isso, o entendimento é que as relações ganharam em igualdade e perderam em maturidade. A maioria não mora com pai e mãe. E falta quem dite as regras. "Minha mãe faz tudo pra mim, ela faz o que eu peço, essas coisas. Eu trato ela mais como minha irmã do que como uma mãe", disse um dos entrevistados para os pesquisadores. “Eu fumo em casa, mas meu pai finge que não vê”, declarou outro.

Drogas, sexo e trabalho
Em festas, o uso de drogas impressiona: 61% afirmaram que consomem bebidas alcoólicas e 27% disseram que fumam maconha. “O uso do álcool nessa idade, tão precoce, é altamente prejudicial para o desenvolvimento neurológico da criança. E tem mais um agravante. Famílias que têm uma predisposição para a esquizofrenia, por exemplo, o uso da maconha pode ser o primeiro elemento que vai desencadear o surto”, aponta a psiquiatra Maria Lucrécia Zavaschi.
Maconha Pesquisa jovens Geração Z Porto Alegre

27% dos entrevistados disseram que fumam maconha

O professor de matemática Régis Gonzaga, que trabalha com jovens há mais de 40 anos, diz que é urgente mudar os valores da sociedade. “Hoje, o menino que bebe, se já entrou em coma alcóolico, provavelmente é visto como herói da sala de aula. Nós temos que mostrar que ele é um babaca, que é um bobão, que ele vai morrer mais cedo, que na hora do sexo vai fracassar. Eu acho que nós temos que criar um outro tipo de modelo”, afirma o professor.

A pesquisa mostra ainda que os limites morais são confundidos pelos jovens. Do número participante do estudo, 39% disseram que roubar é algo que muita gente faz. E 13% acreditam ser normal. Para quem convive com a geração Z, isso é um reflexo do que eles se acostumaram a ver acontecer. “Toda a semana tem um escândalo e quantas dessas pessoas são punidas? É um país sem nenhum tipo de limite. E o que é pior, isso está se tornando uma regra”, completa o professor.

Mais da metade dos jovens entrevistados já fez sexo. Mas, quando usam proteção, o motivo é medo da gravidez – a preocupação com o vírus HIV não é algo tão presente nessa geração, aponta o estudo. “É que aids não tem muito na nossa idade. Não conheço ninguém que tenha”, justificou um participante do estudo.

A CDL Porto Alegre encomendou a pesquisa para conhecer melhor os futuros consumidores. E constatou muitas surpresas. Em todas as classes sociais, trabalho e profissão não são mais prioridades. Para 61% dos entrevistados, dinheiro vem da família. “Como é que faz uma loja que emprega só jovem? Treinamento é uma coisa cara. Você treina o jovem, chega dezembro e ele vai para a praia. Ele não está preocupado se ele vai ter dinheiro. Até porque, para ele, dinheiro ‘dá em árvore’. É da vó, do vô. É da mãe, é a mesada”, pontua a gestora de marketing Arlete Bernardes.
Pesquisa jovens Geração Z Porto Alegre (Foto: Reprodução/RBS TV)Jovens estão mais conectados e não diferenciamvida real e virtual

O papel do celular
Na pesquisa, os jovens escolheram o celular como o objeto que melhor os representa. É um símbolo até do afeto dos pais. “Principalmente porque o teu pai e a mãe dão este aparelho como uma forma de dizer: ‘Olha, eu não estou perto de ti, mas eu estou em contato contigo'”, interpreta a psicóloga Luciana de Moraes.

O celular também é usado principalmente para que eles fiquem conectados com o mundo virtual: 65% dos relacionamentos são pela internet. "Não consigo dormir sem dar uma última olhada e saber que o celular está ali do meu lado", admitiu uma jovem. E a popularidade se mede pelo número de “likes” recebidos em postagens nas redes sociais. “Popular é quem tem muitos likes. É de 500 a mil likes”, completou outra.

Em busca dos “likes”, as meninas tiram fotos cada vez mais sensuais. Para a psiquiatra Maria Zavaschi, este é um comportamento imaturo que é estimulado pelas redes sociais. “É a criança pequena que se exibe, é a criança pequena que quer aprovação. Nessa idade já seria mais interessante que as mocinhas pudessem saber o seu valor, independentemente do exibicionismo do corpo”, analisa a especialista.

Além do comportamento dos jovens, a falta de limites estipulados pelos pais também contribui para as características da geração Z. “Hoje, é difícil encontrar um adulto. A mãe quer ser coleguinha da filha, o pai quer ser parcerinho. Mas mãe é mãe, pai é pai. Tem que agir como tal e tem que estabelecer limites, e determinar quais são as coordenadas”, sustenta o professor Gonzaga.

“Acho que o recado é muito mais para os pais do que para os jovens. Eles estão no papel deles de viver desta forma,  de experimentar, de serem mais desafiadores. Acho que o grande desafio e o grande aprendizado desta pesquisa foi para os pais se recolocarem nos seus lugares. Isso não vai distanciá-los dos filhos, mas vai aproximar cada vez mais”, afirma Luciana de Moraes".

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