As "outras" manifestações - Como a escola trata esse assunto? Em que o estudo da língua pode contribuir?

As “outras” manifestações culturais

       Já se sabe que a escola não deve caminhar em paralelo com a sociedade, ela deve buscar um entrelaçamento, no qual a aprendizagem faça sentido dentro e fora da escola. E um dos pontos importantes para se conseguir estabelecer essa relação é não ignorar a existência de outras manifestações culturais além das socialmente valorizadas.
      Assim como há variedades linguísticas e preconceito quanto ao uso de uma variedade não padrão, há também variedades em outras formas de expressão que vão além da linguagem verbal e que igualmente refletem uma marca da sociedade. Então, o estudo da Língua Portuguesa na escola deve apresentar e trazer uma reflexão sobre as diversas linguagens presentes no cotidiano, nas paredes e muros da cidade, no comportamento e no corpo dos jovens, nas paredes e nas carteiras da escola.
      Entender a juventude de hoje é primordial para que a escola cumpra o seu papel na formação do individuo, de construir um saber crítico, de afirmar sua identidade. Por isso é preciso compreender as raízes desse público, compreender o contexto no qual estão inseridos e trazer de alguma forma esse contexto para dentro da escola.
      É difícil descrever somente com palavras o jovem de hoje, há inúmeros signos a decifrar e a relacionar: o aspecto físico, muitas vezes cobertos de piercings; o fone de ouvido, que chega a parecer uma extensão do corpo de tão frequente que é o seu uso; o comportamento ansioso e imediatista; a necessidade de exposição no ambiente virtual; a necessidade de diálogo pelas redes sociais; a necessidade de correr riscos; e a necessidade de “causar”, como eles mesmos dizem, transgredindo as regras impostas a eles.
      Entre as maneiras encontradas para “causar” impacto estão as marcas deixadas na cidade, no meio urbano, principalmente nas metrópoles, como: a pichação, o grafite e outras. E essas marcas são um tabu para a escola e para muitos educadores. São vistas como sinônimo de vandalismo, exceto o grafite que já vem adquirindo status de arte, segundo Oliveira (2007), “O grafite - em comum com a pichação - tem a transgressão, mas advém das artes plásticas e privilegia a imagem”.
    Trazer para a escola formas de expressões desprestigiadas pelo senso comum ainda causa muita polêmica, um exemplo disso foi o livro didático da coleção “Viver, aprender” adotado pelo MEC, as opiniões dos educadores sobre esses aspectos estão longe de ser unânimes, pois há um grande equívoco sobre o verdadeiro papel da escola, já que muitos acreditam que a escola deva embutir no aluno um determinado comportamento, quando na verdade a escola deve apresentar as opções mostrando-as sob vários ângulos e assim levar o aluno a buscar a melhor escolha.
     Então, no caso da pichação, por exemplo, é preciso deixar claro que reconhecer essas práticas como manifestações culturais e trazer essa reflexão para a escola não é o mesmo que apoiá-las, pois já se sabe que para atos de pichação há punições amparadas pela lei, seja em patrimônio público ou privado.
     Outro ponto a ressaltar é a razão que move os pichadores, pois a principio a pichação aparecia sob a forma de protesto, hoje ocorre muitas vezes aparentemente sem propósito, os pichadores, principalmente os adolescentes, muitas vezes agem de forma egoísta, já que a escola pertence a todos que a frequentam e nem todos querem vê-la pichada.
      A partir do momento em que a escola, apresentar essa questão não como ameaça ou como vandalismo, nem como apoiadora da prática, mas sim fazendo com que os próprios alunos pensem a respeito, reflitam sobre seus atos, se questionem sobre o porquê desses comportamentos, o resultado tende a ser positivo porque a intenção não é fazer com que a escola consiga sanar os atos de pichação, mas sim fazer com que os alunos compreendam as diversas formas de comunicar e reflitam sobre as práticas comunicativas de determinados grupos.
      Vale salientar que as Vanguardas Europeias também trouxeram um tipo de arte como forma de manifesto que se originou de contrastes sociais e de grandes transformações na sociedade. O que se vê hoje não é tão diferente.
Portanto, a escola sozinha não deve ter a ilusão de que dará conta de acabar com o comportamento transgressivo juvenil, sempre houve e sempre haverá práticas subversivas, pois são o reflexo da sociedade. O que se pode fazer é dar voz para o jovem em vez de silenciá-lo, ou seja, apresentar outras formas de comunicação, nas quais eles possam ser ouvidos com mais respeito.
      Hoje, as formas de comunicação proporcionadas pela internet podem contribuir com a interação entre os jovens e também entre os jovens e a sociedade.  Escrever é um ato de liberdade, e permite que os jovens se percebam como indivíduos, tenham entendimento crítico de si mesmos e dos outros.

Referências Bibliográficas
OLIVEIRA, R. C. A. . Lendo a metrópole comunicacional: culturas juvenis, estéticas e práticas políticas. Diálogos de la Comunicación (En línea), v. n 75, p. x, 2007. Disponível em: <http://ggte.unicamp.br/redefor3/cursos/diretorio/apoio_640_7//Oliveira_2006.pdf?1340671870> Acesso em 20/06/2012

Bagno, M. A língua de Eulália: Uma novela sociolinguística. São Paulo: Contexto,1997. Disponível em: <http://ggte.unicamp.br/redefor3/cursos/diretorio/leituras_640_7//Marcos%20Bagno.pdf?1339505586> Acesso em 08/06/2012