"Os desafios que permanecem para o ensino médio na realidade brasileira e as possibilidades de explicação para elas".
No período de 1821 as províncias no estado brasileiro não tinham muita autonomia e somente após a Proclamação da República se tornam estados tornando assim autônomas do governo federal, já em 1837 é que inicia a organização do ensino secundário e com a criação do Colégio Pedro II aos bacharéis eram concedidos matriculas sem necessariamente ter que fazer algum tipo de prova, diferentemente de quem frequentava os provinciais. Iniciava-se o processo paralelo da educação no Brasil, a educação para o povo e a educação para as classes superiores e posteriormente os alunos das escolas primárias não tinham acesso ao ensino secundário.
Como forma de reorganizar ensino secundário no inicio do século XIX são realizadas exames para regular a entrada no ensino superior. Francisco Campos foi o responsável por entender que o ensino secundário é a fase mais importante da educação pois há de preparar o homem para viver por si mesmo e com condições para tomar qualquer decisão em sua vida. Mesmo com todas as mudanças nas nomenclaturas o ensino médio permanecia celetista. Com a Lei 5692/71 o ensino médio passa a ter qualificação técnica e com o enfoque de preparar o aluno para o mercado de trabalho.
Empobrecimento do currículo, esvaziamento de conteúdos de formação geral descaracterizam e ensino médio reforçando assim, a educação para a elite e a educação para os pobres.
Com base na reflexão da reconstrução histórica identificamos dentro de nossa realidade como se encontra o ensino médio hoje , percebemos uma evasão escolar muito significativa, onde nossos estudantes, a pós passarem da idade obrigatória de ensino acabam por se evadir da escola, sem a conclusão do curso de ensino médio, e se encaminha para o trabalho.
A educação nos últimos anos vem sendo trabalhada pontualmente em rendimento gráfico, não em desenvolvimento no ensino, falamos isso com relação a progressão que ocorre nas séries iniciais. O que ocorre após é que nossos estudantes acabam chegando ao ensino médio, e por não conseguirem suprir nas necessidades básicas, como ler, interpretar e até mesmo efetuar cálculos lógicos, entram em choque com a grande quantidade de informações que começa receber das atividades multidisciplinares, não consegue se adaptar, e na primeira oportunidade, que geralmente é o trabalho, simplesmente se evade.
Como sugerir alguma mudança no ensino médio se nossos estudantes chegam sem base nenhuma? A escola pública através das políticas públicas atuais, não visa incentivo, crescimento e desenvolvimento de nossos estudantes, visa simplesmente a conclusão dos diferentes níveis de ensino, os quais participam dos gráficos de alfabetização, mas que na realidade, podemos dizer que nossos alunos são em grande parte analfabetos funcionais. Culpam-se professores por não terem formação ou qualificação, mas não se observa o mais óbvio, o ensino não é e nunca foi atrativo, e agora somando-se a questão de não desenvolvimento mínimo de cada indivíduo, é muito certo o caminho da evasão.
Soluções não são tão de outro mundo, como a necessidade da reformulação do ensino nas séries iniciais, sem regras de abstratas, simplesmente que façam com que a criança aprenda a ler e escrever , para então progredir, e que saiba fazer interpretações lógicas mínimas. Acreditamos na valorização profissional, para atrair um quadro de docentes, com alto potencial de desenvolvimento, humano, formação e qualificação.
A educação no Brasil desde seu início tem servido aos interesses econômicos e sociais dos grupos que têm dominado o poder. Ao analisar o problema da evasão e fracasso escolar não se trata de achar culpados, ora no aluno, família ou professor, mas analisar as condições concretas de trabalho na escola, as políticas educacionais, como também o contexto social. A que se pensar no Projeto Político Pedagógico que norteará as ações desta escola e que envolve toda a organização do trabalho pedagógico a ser realizado. Se a escola não pode ser tomada como redentora da sociedade, ou seja, resolver todos os problemas sociais, sem sua ação também não será possível esta transformação e a via de contribuição que esta pode dar é garantindo o acesso aos conhecimentos produzidos pela humanidade a todos os alunos, um ensino de qualidade, com a garantia da aprendizagem efetiva. A escola tem o papel fundamental de garantir um ensino de qualidade a todos os seus alunos e possibilitar o acesso ao saber sistematizado, pois somente desta forma será possível uma transformação social.
Tais considerações nos fazem acreditar que os desafios passados permanecem até o presente, pois acrescentar disciplina, reduzir carga horária das disciplinas e extinguir a língua estrangeira demonstra a mesma realidade de 1930 em pleno 2014.
Se o ensino médio é a fase mais importante para a formação do homem segundo Francisco Campos, sugere-se que o currículo atual da escola pública seja reorganizado para que as possibilidades do aluno passar no exame vestibular sejam as mesmas dos alunos que frequentam as escolas particulares.
Sem falar no ensino médio técnico, onde o desafio é maior, pois a demanda dos professores é mais solitária, visto que as Ementas são totalmente desarticuladas com as necessidades atuais e o professor fica limitado a segui-las, portanto, sugere-se mudanças nos documentos norteadores e oferta de material de apoio.
No Colégio Francisco Zardo, em 2013, aconteceu uma pesquisa com os alunos do noturno sobre perspectiva de futuro, realizada pelos alunos acadêmicos do Curso de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná.
A pesquisa apontou que apenas 40% dos alunos pensam em realizar o ensino Superior. Os estudantes do Ensino Médio regular apresentaram baixo interesse em dar continuidade aos estudos. A maioria dos alunos não consegue projetar-se daqui a 5 anos, embora, quando questionados, se eles possuem planos futuros, 87,5% dos alunos afirmou possuir, embora o foco não fosse o ensino superior.
A pesquisa revelou, também, que a maioria dos alunos trabalha, relatam já ter uma profissão, mas não acreditam que essa profissão pode sustentá-los futuramente. É também marcante, o fato de que os alunos do ensino médio regular não possuem grandes preocupações atualmente com as questões financeiras, apesar de possuir sonhos onde a maioria admite que sua realização depende de possuir uma condição econômica estável e a maioria dos entrevistados se considera capaz de concretizá-los.
O interesse em questões gerais de atualidade e m informações científicas e técnicas, também foi baixo, a maioria revelou que não possui interesse em temas atuais, tão pouco em utilizar materiais científicos, como revistas, livros técnicos e artigos como materiais de pesquisa.
No Colégio Francisco Zardo, em 2014, houve um aumento de matrículas no Ensino Médio em relação a 2013. Dos três períodos que o Colégio apresenta esta oferta, encontramos maior taxa de evasão e desistência no período noturno, principalmente no primeiro ano. Contudo, a maioria dos alunos que chegam no terceiro ano, conclui. Muitos, destes, retomando os estudos ou transferidos de turnos, já no segundo ano. Outro fator importante a ser levantado, é a baixa idade com que os alunos adentram o Ensino Médio noturno, diferentemente, dos alunos do terceiro ano, maioria que já apresenta maturidade e já inseridos no mercado de trabalho e com necessidade de conclusão do Ensino Médio.
Neste primeiro semestre, em 2014, outra pesquisa realizada por acadêmicos de Psicologia da Faculdade FACEL, demonstrou dados quanto ao uso da biblioteca pelos alunos.os dados chamam a atenção quanto a falta de interesse, conhecimento e informação quanto a sua utilização, benefícios e seus recursos.
Há necessidade de realizar junto aos alunos uma nova pesquisa verificar possíveis mudança no perfil dos estudantes que hoje estão saindo do ensino médio.
As DCNEM trazem no cap. II, artigo 4º , inciso III, “ O aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo formação ética , o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico” como uma das finalidades do Ensino médio.
A nova LDB indica a construção de um projeto coletivo destinado a redefinir os objetivos e atribuições do Ensino Médio. Esse projeto propõe a formação humana integral ,buscando superar a dualidade presente na organização desta etapa da educação, possibilitando a promoção do encontro da “ cultura e trabalho”. Essa ação propiciará aos alunos uma educação integrada e unitária, permitindo que eles compreendam a vida social que estão inseridos.
Esses documentos ressaltam que o PPP, a organização curricular, também devem ser pautados no objetivo da formação humana integral, sem prejuízo da base comum. Ou seja, a formação deve ter foco nos aspectos científicos, tecnológicos, humanísticos e culturais.
A escola pública deve pensar uma formação que não seja voltada exclusivamente para a aprendizagem dos conteúdos para acesso ao ensino superior, tampouco para instrumentalizar o aluno para o mercado de trabalho, “ ambos são mutiladores do ser humano.”
A Formação Humana e integral implica em competência técnica e compromisso ético, que se revelem em uma atuação profissional pautada pelas transformações sociais, políticas e culturais, necessárias à edificação d e uma sociedade” ( Caderno I, Pacto pelo fortalecimento do ensino médio – MEC)
Há de se reconhecer que as desigualdades na oferta dessa etapa educacional, desde o acesso até as vastas concepções de formas de ofertas, cujos sujeitos são definidos pela razão da posição socioeconômica. Assim, abastados vão para ensino privado, terão muitas possibilidades de acesso a universidade publica. Desfavorecidos irão para ensino público e muitos desistirão ao longo do caminho, porque precisarão trabalhar. Porém, essa situação não pode ser aceita como natural e imitável. Requer lutas em favorecimento da universalização do ensino publico de qualidade sob a responsabilidade do estado.
Visando vencer esses desafios, os docentes precisam envolverem-se nesse processo, buscando melhorias das condições de trabalho, na carreira e apropriando-se criticamente dos conteúdos das DCNEM para a construção coletiva de uma nova prática na sala de aula. além , de participar ativamente nas discussões acerca das políticas públicas para educação.
É importante destacar que o Ensino Médio , mais que um “ preparar para a universidade” , é um momento de vivência da adolescência , para que o jovem conheça todas as áreas do conhecimento , para que entenda melhor os elementos que têm significado para a sociedade contemporânea e para que todas as suas escolhas pessoais , profissionais e éticas sejam fundamentadas no conhecimento .O Ensino Médio deve prever a formação de sujeitos autônomos.
A emenda constitucional 59 , aprovada em setembro de 2009, determina a obrigatoriedade da frequencia escolar a partir de 2016. A prática dessa emenda dependerá da organização de vários setores : redes municipais , estaduais e federais para abranger milhões de alunos que estão fora da escola e com defasagem na idade.
Para a Universalização de Ensino Médio será necessário muito esforço para que ocorra um salto na qualidade de ensino , não perdendo de vista a descentralização do sistema educacional brasileiro e suas implicações para a implantação de políticas e ações que mudem o quadro atual de ensino .A participação da família e a dedicação do aluno será fundamental para melhoria do Ensino Médio , bem como uma gestão eficaz e eficiente da rede estadual e municipal de ensino .Serão necessários também , mais recursos e professores capacitados e capazes de conduzir seus alunos a se superarem da fragilidade social em que estão inseridos.
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