Organização do trabalho pedagógico escolar: a escola como locus de formação humana integral
Organização do trabalho pedagógico escolar: a escola como locus de formação humana integral
Profª. Ana Clara Bruschi
Profª. Kátia Regina Dalri Abdala
Profª. Luciana M. Bellanda Mello
Prof. Robinson de Souza Rodrigues
Profª. Tania A Lopes
Pluralidade e Diversidade no Projeto Político Pedagógico
O espaço escolar constitui um local que reúne sujeitos de diferentes pertencimentos (étnico-racial, de gênero e diversidade sexual, geracional, religioso, entre outros) e entendemos que tais pertencimentos, podem ou não, interferir nas relações entre esses/as sujeitos, diante de suas “verdades” construídas nos diferentes espaços educativos, que colaboraram na construção social e histórica das suas identidades.
Ao revisitar o Projeto Político e Pedagógico (PPP) do Colégio Estadual Polivalente de Curitiba, verificamos que ao desenhar o perfil (ou seriam perfis?) da comunidade escolar, a preocupação de contemplar temas contemporâneos relacionados à diversidade dos sujeitos que compõem a comunidade escolar foi mínima, diante do pertencimento quanto à classe social, que se mostra mais evidenciado, entre os possíveis elementos determinantes no processo de aprendizagem escolar das/os alunas/os.
“A comunidade escolar do Colégio Estadual Polivalente de Curitiba é bastante heterogênea. Os alunos são de famílias de classe média e baixa. Uma minoria apresenta extrema carência de recursos necessitando de ajuda da Associação de Pais e Mestres e funcionários para freqüentar a Escola. A APMF do Colégio auxilia as famílias carentes através da doação de uniforme e material escolar. Os pais dos alunos são funcionários públicos, comerciantes, microempresários, profissionais liberais, empregadas domésticas, etc.” (PPP C.E POLIVALENTE, 2011, p. 12)
Talvez este reduzido reconhecimento da diversidade das/os sujeitos não seja intencional, mas um reflexo da latente negação da sociedade brasileira, quanto às desigualdades construídas, a partir da hierarquização entre os diferentes pertencimentos.
O documento referência da CONAE-2014, aponta para a necessidade de entendermos “A diversidade, como dimensão humana, deve ser entendida como a construção histórica, social, cultural e política das diferenças que se expressa nas complexas relações sociais e de poder.” (CONAE, 2014, p.28, item 114). No entanto, ainda é comum nos diálogos informais e formais no espaço escolar a máxima de que “somos todas/os iguais, seja na sociedade de uma forma geral, ou na escola de forma específica”.
Desta forma, entendemos a necessidade de revermos o PPP do CE Polivalente, no sentido de adotarmos discussões e propostas afirmativas, em torno de temas sobre as diferenças e desigualdades de Gênero, Étnico-Raciais, Diversidade Sexual, Religiões, entre outros, para a efetiva prática democrática, pautada no reconhecimento e valorização da diversidade da comunidade escolar.
Dualidade estrutural do Ensino Médio
Em reflexões já ocorridas durante a elaboração do PPP, um ponto forte das discussões entre as/os professoras/es, em relação ao Ensino Médio, era quanto ao objetivo deste.
Alguns/umas professoras/es eram a favor do ensino voltado à formação profissionalizante, enquanto outras/os à preparação para o ingresso ao ensino superior, e para outras/os para uma formação “cidadã”, que englobaria, de certa forma, tanto a preocupação com uma formação profissional, como possibilitar condições para o acesso ao ensino superior.
E a grande angústia de todas/os é que não alcançamos nenhum dos objetivos, portanto, não preparamos nossos/as alunos/as para o mercado de trabalho e nem para o vestibular, pois o objetivo é uma formação cidadã que também não dá conta (pelo menos é o que nos parece acontecer) de formar cidadãs/os críticas/os, participativas/os, com capacidade suficiente para enfrentar o mercado de trabalho e ingressar facilmente numa universidade.
Esse relato das discussões acerca do objetivo do Ensino Médio mostra o quanto nós, professoras/es, estamos ainda “presas/os” à dualidade estrutural do Ensino Médio e o quanto essa dualidade está presente também na visão das/os alunas/os e toda a comunidade escolar, como os dois grandes objetivos do Ensino Médio: trabalho e vestibular. Se não “servir” para um dos objetivos, o Ensino Médio parece não ter “utilidade”.
O aprender pelo aprender, para adquirir mais conhecimento, para ampliar a minha formação pessoal enquanto sujeito ativo/a e/ou participante na sociedade, no mundo, parecem ser objetivos distantes do Ensino Médio, mas que possibilitam, ou não excluem, a formação para o mundo do trabalho e para o ingresso no ensino superior.
Formação continuada como espaço de debate e de aproveitamento das experiências docentes
A formação continuada como espaço de debate e de aproveitamento das experiências docentes é imprescindível para o desenvolvimento de uma gestão democrática e da participação efetiva na organização do trabalho pedagógico escolar. Porém, geralmente, as formações continuadas acontecem de forma que, nem sempre, tem a participação efetiva de todos os segmentos da escola.
Se levarmos em conta somente a participação de um dos segmentos, este já não aconteceria a contento. Por exemplo, se contarmos apenas com as/os professoras/es, um dos empecilhos que encontraríamos numa formação é a de conseguir tempo para que esta ocorra dentro da rotina da escola de modo a assegurar a participação de todas/os.
Durante a Semana Pedagógica, que ocorre em todas as escolas da Rede de Educação Básica do Estado do Paraná, ao mesmo tempo, impossibilita a presença da/o professor/a que trabalha em duas escolas, que terá que optar em estar em uma delas; por participarmos do Pacto pelo Fortalecimento do Ensino Médio, faltamos a reuniões pedagógicas e reuniões de planejamento e replanejamento que também são importantes momentos de discussão na escola; por ser encontros aos sábados, fora do horário de trabalho dos professores, a maioria dos professores envolvidos no Ensino Médio da nossa escola, por “n” motivos, não podem participar dessa formação, desta forma, as discussões, experiências, reflexões e ações são sempre incompletas.
Essa desarticulação entre o tempo da escola, o tempo dos/as professoras/es, o tempo das/os alunas/os, e o tempo das instituições propositoras das formações existem lacunas, que necessitamos preenche-las com tempos e espaços comuns a toda a comunidade escolar. De forma que possamos encontrar, no conjunto da comunidade escolar, soluções para alguns problemas que afeta a todas/os: 1) a frequência das/os alunas/os; 2) conseguir motivá-las/os e ensiná-las/os a ficar na escola; 3) dialogar com todas/as sobre as regras e objetivos da escola, e que o maior deles é a formação da/o estudante, mas que esta só acontece quando há o envolvimento de todas as partes.
Em atendimento a Resolução 3399/2010-SEED/PR, em 2014 foi formada a Equipe Multidisciplinar no Colégio Estadual Polivalente. De acordo, com a tal Resolução as Equipes Multidisciplinares são instâncias de organização do trabalho escolar, preferencialmente coordenadas pela equipe pedagógica, e instituída por Instrução da SUED/SEED de acordo com o disposto no art. 8.o da Deliberação No 04/06 – CEE/PR, com a finalidade de orientar e auxiliar o desenvolvimento das ações relativas à Educação das Relações Étnico-Raciais e ao Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena, ao longo do período letivo.
Referencias Bibliográficas
BRASIL. Formação de professores do ensino médio, Etapa II – Caderno I: Organização do Trabalho Pedagógico no Ensino Médio / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica; [autores : Erisevelton Silva Lima... et al.]. – Curitiba: UFPR/Setor de Educação, 2014.
CONAE 2014. Documento Referência.
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