Quando pensamos nos adolescentes que hoje estão frequentando o ensino médio, muitas considerações nos remetem às características e ao comportamento de cada grupo que ali se encontra.
Podemos observar entre eles aqueles que são mais sociáveis e tem um grande círculo de amizades e também os mais tímidos e reclusos, que muitas vezes apresentam um comportamento isolado. Podemos encontrar os grupos que tem características marcantes dos seus integrantes, como por exemplo, o uso de roupas, corte de cabelos, maquiagens, estilos musicais e ideias que se parecem entre si, mas que os distingue dos demais. São os casos dos grupos de roqueiros, sertanejos, skatistas, fanqueiros, góticos, emos, nerds, esportistas, “patricinhas” ou “mauricinhos”, etc.
Cada qual tem o seu próprio meio de se fazer notar e assim manter sua identidade diante dos demais. Na escola, essa miscigenação de estilos fica bem clara e definida, principalmente quando o aluno sente a transição das fases desse período: aos quinze anos, muitos sente-se mais “adultos” que antes, querem se fazer notar e de alguma maneira “demarcar o seu território”. Muitos querem se expressar, serem reconhecidos e respeitados pelo que pensam e como agem e sentem a necessidade de defender suas crenças diante das pessoas.
Se compararmos diferentes escolas por regiões da cidade, como aquelas que se localizam no centro e as de periferia, mais diferenças ainda podem ser observadas, pelo padrão social, pela cultura local e por todas as características pontuais que permeiam cada espaço.
Além de tudo, a tecnologia marca intimamente essa nova geração que encontramos nas escolas. Quase todos tem seu próprio celular, fazem uso frequente da internet, de sites de relacionamento e sempre estão de olho em lançamentos de aparelhos com as mais diversas funções. Até um vocabulário diferenciado acaba sendo criado e aceito por essas pessoas que fazem uso constante do mundo digital: o “internetes”.
Impedir o uso desses recursos é algo quase impossível, e quanto mais um professor ou uma instituição se opõem ao seu uso, mais rebeldia encontrará e mais resistência acontecerá por parte dos jovens. O melhor é ter a tecnologia como aliada e em alguns momentos permitir de forma organizada e supervisionada o seu uso, pois esses recursos podem inclusive enriquecer muito uma aula e torná-la mais atrativa e dinâmica aos olhos do educando.
Se, ao mesmo tempo em que forem ouvidos dentro de suas questões, os jovens forem conduzidos à reflexão e a crítica bem construída e argumentada, muito podemos aproveitar do seu vigor e do seu ponto de vista. Saber respeitar seus anseios, suas considerações e estar disposto a ajudá-los com suas dúvidas e angústias poderá ser o caminho mais seguro para ter o jovem ao lado do professor, disposto a colaborar e a atuar de forma consciente dentro do ambiente escolar.
O confronto direto pode não somente afastar o jovem, mas ter a antipatia de todo um grupo que o apoie e que se identifica justamente com o que ele possa estar tentando expressar.
Por isso ter certo cuidado, muito tato e respeitar as formas de expressão de cada um pode fazer uma grande diferença. E com jeito e paciência, o professor pode trabalhar as ideias que surgem dos próprios jovens e fazer deles seus aliados, tornando-os mais participativos, abertos ao debate, mais conscientes e seguros.
Sinto que na escola que trabalho o adolescente é ouvido, respeitado e existe em muitos momentos a abertura desse diálogo tão necessário que temos que ter com nossos jovens. Mas sinto também que há uma imaturidade muito grande em vários desses grupos que se acham inseridos na escola, o que dificulta muitas vezes um entendimento entre professor e alunos e entre os próprios jovens. Quando conseguimos atingir os líderes desses grupos, logo conseguimos trabalhar de forma mais eficaz dentro do que planejamos, e podemos também adequar o que for necessário, conforme as necessidades que vamos observando ao longo do nosso trabalho.
A escola sabe que existem vários grupos, que a cada momento existem mudanças dentro desses grupos e que se adequar a isso é necessário, até mesmo para conseguir de fato trabalhar com o jovem. Não se tem como fugir dessa realidade. Trabalhar com o jovem é trabalhar com mudanças, com renovação. Nenhuma turma é igual à outra, nenhum grupo é estático. Cada um tem o seu próprio jeito, o seu próprio universo e cada um dentro do grupo é único. Portanto respeitar e estar disposto a lidar com essa individualidade é algo que deve nortear o trabalho do professor, que deve sempre estar se renovando e se adaptando as diferentes realidades que encontrar.