O Jovem e o currículo no Ensino Médio - Colégio Estadual Paulo Freire - Marechal Cândido Rondon
REFLEXÃO E AÇÃO: CADERNO 3
O currículo escolar é elaborado orientando-se pelas Diretrizes Curriculares, que por sua vez apontam quais são os conteúdos que devem ser ministrados para cada disciplina do ensino médio, bem como, apontam para a necessidade da articulação entre os conteúdos ensinados no ensino médio com o mundo do trabalho, da ciência, da cultura e da tecnologia. Dessa forma a escola ao elaborar seu currículo na coletividade reconhece a realidade dos seus sujeitos e busca selecionar os conteúdos que serão significativos para esses indivíduos, ou pelo menos, fazer a seleção de conteúdos pensando dessa maneira, bem como, planejar ações pedagógicas para esse fim. Assim sendo já está de certa forma co-relacionando tais conteúdos escolhidos com os eixos citados acima. É importante também ressaltar que o currículo se caracteriza pela dimensão prescritiva, real e oculta. Esta última dimensão se constrói na relação entre os alunos e os educadores, nos momentos formais e informais, onde evidenciam-se trocas de experiências, onde se discutem valores, onde se aprende a respeitar a opinião do outro, onde os professores tem a oportunidade de num diálogo aberto colocar para seu aluno aspectos que abordam o mundo do trabalho, da ciência, da cultura e da tecnologia, relacionando-os com algum fato atual que esteja em evidencia e que instiga a curiosidade do aluno em saber sobre o assunto. Dessa maneira pode-se dizer que aquilo que é ensinado em sala de aula está constantemente se relacionando com os eixos propostos, uma vez, que fica a cargo do professor sempre que possível buscar essa relação, propiciando ao aluno melhor compreensão entre aquilo que ele aprende na escola, mundo do trabalho, cultura, ciência e tecnologia. Por fazer parte de todo um contexto social em constante mutação, é preciso afirmar que a Educação precisa sofrer transformação o mais rápido possível visto nova compreensão sobre o papel da escola como desenvolvimento social de novos conhecimentos sejam científicos e tecnológicos, conhecimentos estes constantemente superados, colocando novos parâmetros para a formação do cidadão, porque o conhecer não significa acumular conhecimento.
A sociedade vem a exigir da escola, dado o desenvolvimento tecnológico, o desempenho de atividades profissionais para poder oportunizar o aluno nas competências básicas, para as profissões do momento, da procura hoje no ramo de empregatício.
A função de que o professor ensina no E. Médio é completar a formação do aluno para a vida social, gerar oportunidades para formação de capacidades (pensamentos, criatividades, curiosidades, solucionar problemas, procurar aceitar críticas, pensamento crítico, saber comunicar-se e capacidade de buscar mais conhecimento...etc...).
O enfoque do Ensino Médio é preparar o aluno para a vida, a partir do conhecimento que ele constrói e que ele consiga relacionar-se com o outro.
O ensino médio exige um novo olhar para a ciência, tecnologia e seus impactos na sociedade que esta se encontra em constante transformação. O professor deverá levar questões que completa as relações entre o contexto científico-tecnológico e o social.
O fazer pedagógico é sempre um desafio para o professor, pois a “busca do como fazer” sempre nos ronda. É na sua reflexão e reelaboração da concepção da educação e da formação humana que o educador pode atribuir significado para sua prática pedagógica.
Reconhecer os sujeitos do ensino médio e dar centralidade aos conhecimentos e saberes representa uma intencionalidade política e uma concepção inovadora, isto tiraria a visão abstrata do ensino médio deixando-o historicamente construído.
Cabe lembrar que os jovens devem buscar formas para a manutenção financeira no ensino médio, pelo menos uma parte deles, e também por isto a história de cada um deve ser considerada na elaboração de um currículo, já que eles são trabalhadores ou filhos de trabalhadores. E além disto são uma classe que vive e estão em um período específico da vida, um período de formação física, psíquica e cultural.
Mesmo em grupos onde a condição financeira, a faixa etária e raça sejam parecidas há uma diversidade de pensamentos e por consequência ações dentre eles.
Diante da centralidade dos sujeitos, chegamos a um ponto fundamental no qual a proposição de um ensino médio que articule trabalho, ciência, tecnologia e cultura não pode ser homogeneizada e padronizada por parâmetros e prescrições curriculares, porém temos um conjunto de conhecimentos que devem ser trabalhados com estes alunos.
O ensino médio aqui caracterizado inclui o conceito de formação humana integral e se organiza na perspectiva da integração entre trabalho, ciência, tecnologia e cultura.
As diretrizes Curriculares para o Ensino Médio entendem por:
Trabalho:Não se trata aqui de uma formação profissional, mas de uma perspectiva ampla de conhecimentos acerca do mundo do trabalho e do desenvolvimento de capacidades humanas gerais para transformação da realidade material.
Ciência: é a parte do conhecimento sistematizado e deliberadamente expresso na forma de conceitos representativos das relações determinadas e apreendidas da realidade considerada.
Tecnologia: extensão das capacidades humanas, mediante a apropriação de conhecimentos como força produtiva.
Cultura:compreensão que se articula às concepções de trabalho, de ciência e de tecnologia acima descritas, é entendida como as diferentes formas de criação da sociedade, incluindo as práticas de produção da existência humana, seus valores, suas normas de conduta, suas obras.
Para compreender que Trabalho, Ciência, Tecnologia e Cultura devem ser colocadas de maneira entrelaçada e mais que isto como indissolúveis. Desta forma entendemos trabalho como princípio educativo, e desta maneira conseguimos desvendar o processo histórico de produção científica e tecnológica, bem como o desenvolvimento e a apropriação social desses conhecimentos para a transformação das condições naturais da vida e ampliação das capacidades, das potencialidades e dos sentidos humanos.
Young defende a posição de que o conhecimento escolar necessita ultrapassar a dimensão estritamente local, instrumental ou particularizada e oferecer as bases para a compreensão das relações entre o universal e o particular. A esta perspectiva, Young atribui o sentido de “conhecimento poderoso. Para que isso aconteça, o currículo tem que levar em consideração o conhecimento local e cotidiano que os alunos trazem para a escola, mas esse conhecimento nunca poderá ser uma base para o currículo. A estrutura do conhecimento local é planejada para relacionar-se com o particular e não pode fornecer a base para quaisquer princípios generalizáveis. Fornecer acesso a tais princípios é uma das principais razões pelas quais todos os países têm escolas (YOUNG, 2007, p. 13).
Entendemos que a produção e a elaboração do conhecimento ocorrem em momentos nos quais os homens interagem entre si no intuito de encontrar respostas aos mais diversificados desafios interpostos entre eles e a produção da sua existência, material e imaterial. Derivados das ciências de referências, os conhecimentos escolares, ao serem identificados como relevantes, são selecionados e organizados para que possam ser ensinados e aprendidos. Nesse processo, o conhecimento escolar torna-se elemento essencial do desenvolvimento cognitivo do estudante, bem como de sua formação ética, estética e política.
Segundo Silva, há de se potencializar o fortalecimento da relação entre o ensino e a pesquisa, na perspectiva de contribuir com a edificação da autonomia intelectual dos sujeitos frente à (re)construção do conhecimento e de outras práticas sociais. Isto significa contribuir, entre outros aspectos, para o desenvolvimento das capacidades de, ao longo da vida, interpretar, analisar, criticar, refletir, rejeitar ideias fechadas, aprender, buscar soluções e propor alternativas, potencializadas pela investigação e pela responsabilidade ética assumida diante das questões políticas, sociais, culturais e econômicas.
Favorecer a capacidade de o indivíduo tornar-se autônomo intelectual e moralmente, isto é, de ser capaz de interpretar as condições histórico-culturais da sociedade em que vive e impor autonomia às suas próprias ações e pensamentos. A formação humana integral também se refere à compreensão dos indivíduos em sua inteireza, isto é, a tomar os educandos em suas múltiplas dimensões intelectual, afetiva, social, corpórea, com vistas a propiciar um itinerário formativo que potencialize o desenvolvimento humano em sua plenitude, que se realiza pelo desenvolvimento da autonomia intelectual e moral.
Vale lembrar que a educação inclusive a escolar possui sempre um duplo caráter: o da adaptação e da emancipação, o da produção da identidade e
da diferença. A escola, no entanto, em nossa sociedade tem privilegiado mais a adaptação do que a emancipação, mais a produção da semelhança, da padronização, do que da diferenciação. Colocar no horizonte a possibilidade de formação para a autonomia intelectual e moral significa tomar um posicionamento diante desse duplo caráter da ação educativa, significa nos comprometermos, ao mesmo tempo, com a produção da identidade e da diferença, com a adaptação e a emancipação.
Autonomia intelectual e moral institui-se, assim, como a grande finalidade do projeto educativo voltado para a formação humana integral. Há de se mudar a forma de como vemos a educação nas escolas onde a secundarização da oralidade em favor da expressão escrita acontece. Este é um dos desafios, entre tantos outros, que se colocam diante do planejamento da ação educativa, se nos guiarmos pelo compromisso com a superação das limitações interpostas à realização de um projeto educativo de fato emancipatório. Outro desses desafios diz respeito à necessidade de se manter vivo o interesse, o gosto, o prazer pela aprendizagem, tantas vezes substituídos por práticas que, ao adquirirem o caráter de obrigatoriedade, de repetição pura e simples ou pelo fato de não fazerem o menor sentido, fazem brotar em nossos alunos menos o gosto e mais a desmotivação, menos o prazer e mais o desinteresse pelo que lhes é proposto.
As finalidades ora destacadas aliam-se a um dos grandes fins a que tem sido destinada a escolarização básica: o acesso a conhecimentos científicos básicos, bem como a conhecimentos de outra natureza. Muito mais do que ser um fim em si mesmo, o acesso ao conhecimento, convertido em saber escolar por meio das transposições didáticas, é o meio de que dispomos para nos aproximarmos da realização de um projeto educativo no qual esteja no horizonte o exercício da autonomia, da reflexão e da crítica.
Durante muitos anos a Educação Básica tirou do currículo o foco principal que é o conhecimento científico e passou a valorizar de forma demasiada o desenvolvimento de competências e habilidades, ou seja, “o aprender a aprender”, dando ênfase ao conhecimento do cotidiano do aluno. O conhecimento escolar necessita ultrapassar o conhecimento local. O currículo não pode de forma alguma tomar como base o cotidiano do aluno.
O ensino é ofertado de uma forma fragmenta e o grande desafio é fazer com que esses conhecimentos que fazem parte do currículo sejam relevantes no desenvolvimento cognitivo do aluno, bem como na sua formação ética, estética e política.
Os alunos que freqüentam o Ensino Médio na EJA no Colégio Estadual Paulo Freire já trazem uma vivência de conhecimentos do cotidiano, são experiências de vida que o auxiliam na aquisição do conhecimento científico, mas muitas vezes este tem dificuldade de relacionar o conhecimento escolar com sua vivência. Outro aspecto que dificulta a aquisição do conhecimento é a falta de uma metodologia e um material específico para a Educação de Jovens e Adultos, hoje eles usam o mesmo livro didático do Ensino Regular e os professores que lecionam nesta modalidade de ensino recebem a mesma capacitação dos professores do ensino regular. A grande maioria dos educandos da EJA não busca uma formação com a finalidade de prestar o vestibular. Este já é um fator que a diferencia de forma demasiada do ensino regular gerando assim a necessidade de um currículo que contemple essas especificidades.
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