O JOVEM COMO SUJEITO DO ENSINO MÉDIO

COLÉGIO ESTADUAL ROCHA POMBO – EFM
ANTONINA - PR

O JOVEM COMO SUJEITO DO ENSINO MÉDIO
Etapa I – Caderno II

Arailde Costa Eleutério 
Bernadete Gaspar de Abreu
Célio Antonio Castellani
Mário Pereira Filho
Neide Gomes Cioffi
Sônia Mara Pereira da Cruz

 

RESUMO

De um lado a juventude possui um caráter universal, considerando as transformações biopsicofisiológicas pelas quais passa e de outro, as diferentes construções históricas e sociais que dá um contorno à vida num vir-a-ser constante que precisa ser compreendida e auxiliada pela família e pela escola. Esse jovem que está nos bancos escolares das instituições educacionais vai descortinando as possibilidades em todos os setores da vida social, desde a parte afetiva até a profissional. Portanto, a escola precisa estar atenta ao mundo particular e social do jovem aluno para um repensar curricular e metodológico quanto ao projeto político e pedagógico para o trabalho educativo que seja suficiente para a formação humana integral, levando em conta também a dimensão profissional. Para tanto, terá que se ajustar às suas necessidades reais (culturais, afetivas, profissionais), observando o diálogo entre o jovem, a própria escola e o mundo que o cerca, com seus novos formatos de comunicação que inserem as Tecnologias da Informação e Comunicação e as possibilidades de avanço profissional e cultural-tecnológico que emergem da sociedade vigente. 

Palavras-chave: Jovem, trabalho educativo, diálogo, comunicação.

INTRODUÇÃO

É muito comum encontrar entre os professores inúmeras queixas relacionadas ao comportamento dos alunos na escola. Tais queixas vão desde as vestimentas até a indisciplina que tem se tornado a grande vilã da sala de aula, causando o considerado por alguns estudiosos como obstáculo pedagógico na relação ensino-aprendizagem. Muitos são os problemas apontados: falta de respeito, agressividade entre os alunos, falta de comprometimento com o ofício de estudar, uso de celulares durante as aulas, entre outras coisas. 
Esses e outros problemas levam as pessoas da escola, iludidamente, a buscar sempre um possível “culpado” nas relações educativas como se deste modo, fossem resolver os problemas presentes no cotidiano e nos resultados do processo de ensino. Isso leva a compreensão de que todos os atores envolvidos nos processos da escola imprimem suas responsabilidades, uns mais outros menos, nas ações e atividades desenvolvidas.
As novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 2012), apontam os alunos como sujeitos centrais do processo educativo. O parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE, 2011) esclarece a necessidade “reinvenção” da escola, objetivando a garantia do aprimoramento da pessoa humana e social com vistas à autonomia intelectual e desenvolvimento do pensamento crítico. 
Além disso, importa à escola reconhecer a importância e a aceitação da diversidade e da realidade dos sujeitos,bem como das formas de produção, dos processos de trabalho e das culturas que lhes são inerentes. A idéia é desenvolver um trabalho educativo que contemple a formação totalizadora dos jovens educandos, à qual depende da compreensão e do conhecimento por parte dos agentes educativos frente aos alunos: suas experiências, saberes, identidades culturais, como condição básica para o diálogo.
Os jovens apresentam seus pensamentos, sonhos, suas práticas, normas, valores de acordo com a representação de seus interesses e necessidades, conforme a visão de mundo que elaboram e reelaboram, considerando as muitas as formas de ser e de se experimentar a fase da vida chamada Juventude.
Este Artigo buscar compreender essa fase, com base nas leituras do Caderno II e outros documentos elaborados por estudiosos do assunto, somado às nossas práticas educativas experienciadas na vida profissional de educadores e professores do Ensino Médio.
Este documento busca compreender a noção de juventude. Em seguida, as múltiplas dimensões das identidades juvenis, a relação dos jovens com o mundo do trabalho, o território e os projetos de vida e a participação juvenil e a visão dos jovens acerca de escola.
Não há a intenção de esgotar o tema, mas buscar alguns subsídios para ampliar a compreensão e, quiçá, melhorar a qualidade do trabalho desenvolvido frente a esses jovens e seus universos.

1 Construindo uma noção de juventude
É muito comum, entre os agentes educacionais da escola, professores e educadores, considerar que o jovem não apresenta maturidade suficiente para participar das tomadas de decisão. Uma das situações mais complicadoras para este tipo de participação diz respeito ao Conselho de Classe e, portanto, desmembra-se o conselho em três situações e quase sempre, o jovem fica relegado a participar somente do pré-conselho. Outra situação visível está na atuação do Grêmio Estudantil, onde a maioria dos jovens pensar participar somente em atividades esportivas e culturais. No entanto, como os alunos são o centro do processo educativo, há de se repensar as práticas político-pedagógicas, considerando que é muito importante dar vez e voz aos alunos para melhor compreender  as necessidades e apreensões destes alunos. Isto gera uma forma de agir separatista, onde o jovem aluno fica, muitas vezes excluído daquilo que mais lhe interessa: a forma de aprender, os projetos a serem desenvolvidos na escola, as metodologias de trabalho de ensino por parte do professorado, incluindo os critérios de avaliação, bem como as notas e conceitos.

O jovem é aquele que ainda não se chegou a ser. Nega-se assim o presente vivido. Desta forma, é preciso dizer que o jovem não é um pré-adulto. Pensar assim é destituí-lo de sua identidade no presente em função da imagem que projetamos para ele no futuro. (Formação de professores do ensino médio, etapa I - caderno II : O jovem como sujeito do ensino médio, 2013, p. 11)

Considerando que o homem é, em parte, fruto do meio em que vive, ou seja, formado também pelas influências externas que recebe durante o processo de desenvolvimento humano e social, é importante compreender que  muitos dos problemas não foram produzidos pelos jovens. Há uma série de situações no contexto da realidade em que vive o homem, oriundos de problemas familiares, econômicos, sociais e filosóficos.
Muitas vezes a escola rotula os alunos do Ensino Médio e até do fundamental como problemáticos, fazendo vir a tona os desafios contemporâneos como: uso indevido de drogas, gravidez precoce, indisciplina, desinteresse , descompromisso com as atividades escolares, entre outras coisas.
A fase da adolescência é marcada fortemente pelas transformações biopsicofisiológicas às quais exigem uma melhor compreensão dos adultos que os rodeiam, incluindo as instituições mais importantes que são a escola e a família. Isso implica dizer que deve haver uma parceria perene entre essas duas instituições, pois uma não obterá sucesso sem a participação da outra.
Não se pode apegar-se a “modelos” negativos quanto à pessoa dos alunos, uma vez que os professores correrão o risco de produzir imagens negativas que, por sua vez, formarão barreiras entre o ensinante e o aprendiz.

2. Jovens, culturas, identidades e tecnologias

Dentre as especificidades da função da escola, uma das tarefas mais importantes está no fato de que é preciso auxiliar aos jovens fazer suas escolhas, de forma consciente e responsável, num sentido progressivo, considerando suas trajetórias, suas identidades, seus aspectos culturais e sócio-afetivos.

Os jovens fazem seus trânsitos para aquilo que chamamos de vida adulta no contexto de sociedades produtoras de riscos – muitos deles experimentados de forma inédita, tal como o da ameaça ambiental, do medo da morte precoce e das violências que se multiplicam em áreas urbanas e rurais –, mas também experimentam processos societários com maiores campos de possibilidades para a realização de apostas frente ao futuro (Formação de professores do ensino médio, etapa I - caderno II : O jovem como sujeito do ensino médio, 2013, p. 11).

Embora a sociedade possa apresentar muitas situações de risco para o jovem que, ora se torna adulto, importa à escola promover o protagonismo juvenil no sentido de auxiliá-los a elaborar um projeto de vida, onde ele poderá desenhar uma vida futura plena, enquanto cidadão planetário.
Os jovens sujeitos do Ensino Médio nos trazem cotidianamente desafios para o aprimoramento de nosso ofício de educar. Sobre esses desafios, há uma dificuldade explícita na difícil tarefa de compreender o que leva os jovens a adotar certo tipo de comportamento individual e, em algumas vezes, outro modo. No coletivo assumem identidades culturais e territoriais que, em grande parte, parece algo estranho aos educadores.
É preciso perceber os jovens enquanto sujeitos de direitos e de cultura e não somente como objetos prontos para a intenção educativa dos professores. Paulo Freire fala da educação bancária, onde o aluno é visto como um depósito de conhecimento e não um sujeito que constrói o seu próprio conhecimento.
Na relação entre professores e alunos, ou seja entre o ensinar e o aprender, importa que aquele que ensina esteja apto a olhar para aquele que aprende a partir de suas identidades culturais, seus gostos e valores produzidos para além dos muros da escola.

Suas corporeidades próprias e identidades assumidas e coconstruídas nas relações sociais: são jovens homens e mulheres, negros e negras, hetero ou homossexuais, ateus ou religiosos; eles e elas são muitos e habitam nossas escolas, mesmo com a “capa da invisibilidade” das fardas e uniformes escolares. (Formação de professores do ensino médio, etapa I - caderno II: O jovem como sujeito do ensino médio, 2013, p. 11).

É preciso planejar um ensino para além do currículo formal, desconstruir os preconceitos e estereótipos criados sobre a diversidade de sujeitos, visto que o trabalho educativo deve considerar a riqueza de experiência, de olhares e da  visão de mundo, em geral.
A escola está, pois frente a um novo dilema, ao ser interpretada pela pluralidade das manifestações culturais juvenis. Há, deste modo, escolhas institucionais que, muitas vezes, podem ser interpretadas como ruídos e interferências negativas para o trabalho pedagógico. Se a escola se transformar em um casulo, terá dificuldades para exercer a mediação cultural entre os diferentes mundos vividos pelos jovens estudantes.

3 O Jovem e o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC

A sociedade da comunicação chegou a um ponto em que dificilmente encontra-se alguém destituído de um aparelho de celular, smartphone, tablet, Ipoid e outros. As situações mais corriqueiras exigem o uso de tecnologias, incluindo, obviamente a Internet e suas variadas redes de comunicação que imergem os indivíduos no mundo digital. Aqueles que, de algum modo, não estão conecatados, sentem-se como se estivessem fora do ambiente natural, o que em Sociologia, se diz a respeito do indivíduo “não-pertencente” ao grupo, ou seja, à margem social.
As redes sociais, em especial, parecem ocupar boa parte das práticas sociais contemporâneas, onde muitas pessoas estão vivendo uma vida virtual. Um novo termo emerge deste sociedade computadorizada que é a chamada  “ecologia digital” cheia de novas subjetividades que vão sendo fabricadas nas relações humano-sociais por meio das tecnologias.  Alguns autores afirmam que os seres humanos estão vivendo numa situação em que misturam suas vidas com as máquinas, numa espécie de amálgama. 
O dilema que  a escola está vivendo hoje diz respeito ao uso indiscriminado destas tecnologias por parte dos alunos, corriqueiramente, quando o professor está socializando os conhecimentos/conteúdos e o mesmo apresenta dificuldade de lidar com estas pequenas máquinas, uma vez que a metodologia “arcaica” está ainda presente na escola, quando se tem apenas o livro didático como material pedagógico para esta socialização. Para esse tipo de enfrentamento, seria necessário ao corpo docente e Equipe Pedagógica ou coordenador Pedagógico replanejar o trabalho educativo da sala de aula, em especial, considerando o uso destas ferramentas no sentido de melhorar e ampliar a qualidade do ensino e da aprendizagem, valorizando o mundo virtual, o qual abre as portas para explorar todo o planeta e as possibilidades de conhecimento científico e empírico.
As relações humanas são mediadas pelo uso de computadores, criando possibilidade para a atividade humana adquirir uma estrutura mais complexa, quando certas condições técnicas, psicológicas e social são encontradas, ou seja, o computador deve ser adequado e a condição psicológica diz respeito à adaptação do computador à atividade humana e os objetivos são sociais.

4 O projeto de vida, escola e trabalho

A formação humana e integral a que se refere no Ensino Médio, refere-se não somente no âmbito individual, mas coletiva e social, no sentido sob o princípio educativo e para a atividade criativa. A escola e o mundo do trabalho se combinam, se atravessam, se complementam. A problemática ou enfrentamento é: como a escola poderá estabelecer esse diálogo?
O jovem, muitas vezes, em especial no Ensino Médio, questiona a si mesmo a respeito da sua vida profissional, seu rumo, seus projetos, enfim. Tais questões são cruciais para a ideia de vida, tem muito importante que deve ser considerado na relação da juventude com a escola. Neste caso, parece ser muito importante para os educadores desenvolverem projetos com os alunos que auxilie a valorizar suas competências e habilidades. Estas características dos alunos não podem, de forma alguma, ser menosprezadas ou desvalorizadas pela escola, pois é a partir delas que serão trabalhados os conhecimentos. Por conta disso, os alunos desenvolverão seus projetos de vida, onde a escola será coparticipante.
De outro modo, se a escola não apurar o seu olhar para estas situações, ela correrá o risco de perder o seu aluno, o qual vai evadir-se, sofrendo as consequências da falta de escolarização e desqualificação para o mundo do trabalho.
Os alunos, em geral, reconhecem a importância da escolarização ou seja, da necessidade da escola para o repasse dos conhecimentos, porém, a escola precisa estar aberta ao diálogo considerando suas experiências do presente e expectativas de futuro.
A escola precisa auxiliar o aluno a fazer sentido para a vida do aluno e contribuir para a compreensão da sua realidade, planejando para exercer uma conexão entre os conteúdos e as experiências da vida real, de forma contextualizada. Nesta perspectiva, é importante considerar a forma como eles aprendem e como podem fazer a devolutiva para o mundo que o cerca. Neste caso, o professor é considerado o mediador entre o sujeito e o conteúdo.
Além da necessária reformulação de planejamento por parte da escola, se faz necessário estabelecer importante diálogo em parceria com as famílias, através de dinâmicas em que estas duas instituições possam se aliar na promoção do aluno-sujeito, num processo que busque equacionar as divergências e somar as ações positivas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao buscar conhecer os jovens, suas características biopsicosociais, a escola estará imprimindo no seu projeto político pedagógico uma maior preocupação com o atendimento qualitativo a essa parcela de estudantes reais e não aqueles sonhados dos quais falam os manuais de educação escolar.
Os educadores precisam desconstruir os estigmas criados sobre a pessoa do jovem, que desenham representações negativas e criam verdadeiros obstáculos pedagógicos, uma vez que a partir dessas representações podem ser criados rótulos que impedirão dar crédito, voz e vez aos alunos. Somado a isso, é preciso que a escola aprenda a lidar com as diferentes manifestações oriundas da diversidade em toda a sua amplitude (gênero, cultura, etnia, manifestações sociais e/ou políticas e religiosas) num processo de acolhimento a todos, numa processo de democracia e igualitarismo. O jovem precisa ser reconhecido, valorizado e acolhido pela escola em que estuda, podendo e devendo participar da elaboração dos projetos de ensino e aprendizagem.
Outra questão que merece destaque diz respeito ao uso das Tecnologias da Informação e Comunicação – TICs, visto que não há como menosprezar o fato de que o mundo cibernético da comunicação ganhou um espaço-temporal na vida do homem deste século, fazendo parte das atividades mais corriqueiras da vida, sendo indispensável à escola no tratamento da informação dos conhecimentos. No entanto, é preciso usar destes recursos com intenção pedagógica para não se transformar em abuso das práticas, sem sentido algum para o professor e para o aluno.
Para finalizar, vale dizer ainda que a formação integral do jovem confere a responsabilidade da escola em buscar alternativas pedagógicas que possam avançar no referente à formação para o mundo do trabalho e isso requer conhecer os interesses dos alunos, seus projetos de vida, suas competências e habilidades. Muitos jovens se sentem sem motivação para a carreira profissional, e, neste caso, a escola deve trabalhar par auxiliá-los no sentido de buscar direcionamento às suas escolhas e projetos de vida.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Formação de professores do ensino médio, etapa I - caderno II : O jovem como sujeito do ensino médio / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica; [organizadores : Paulo Carrano, Juarez Dayrell]. – Curitiba : UFPR/Setor de Educação, 201