O ENSINO MÉDIO SOB UM OLHAR ANALÍTICO

Caderno I - Etapa I

Historicamente o ensino médio sempre foi seletivo. Desde o período imperial, era  reservado aos poucos o direito de  ingressar nessa modalidade, e seguir em frente .Segundo SILVA (1961,p.80), “instituições de nível secundário eram nitidamente seletivas”, havendo uma clara separação entre ensino popular e a educação das elites.

A reforma do secundário, na década de 30, construiu uma nova concepção para essa modalidade de ensino, tornando clara a necessidade de uma reforma mais ampla. Tal reforma, no entanto não minimizou  o caráter seletista do ensino. Apesar da luta de alguns educadores profissionais, que compunham o Manifesto Educacional, os quais buscavam entre outras coisas, a reconstrução educacional, que priorizava aspectos biológicos, psicológicos, administrativos e didáticos, além da criação de uma escola única para todos, que atendesse e contemplasse os trabalhadores manuais e intelectuais, não obtiveram êxito. Mas o fato é que a luta por um ensino de dimensão mais ampla vem de longa data.
A Lei 5692/71 implantou algumas mudanças referentes à obrigatoriedade de 8 anos de ensino comum e o 2º grau profissionalizante, com o intuito de cobrir a demanda do mercado de trabalho. Tratava-se, dessa vez, de uma formação basicamente profissional, em detrimento da formação geral, à qual era proporcionada somente aos alunos que buscavam o ensino superior. Mais uma vez tratava-se de um ensino diferenciado, priorizando as elites.
A nova Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), da nova Constituição de 1988, trouxe mudanças e determinou ao ensino médio uma função formativa, que estivesse voltada para os interesses da população, inclusive a educação de jovens e adultos.
No entanto, o ensino técnico deixou de fazer parte do ensino médio, o qual priorizou, nesse momento, o desenvolvimento das competências e tributos individuais. Tal divisão não foi bem recebida e logo, educadores e movimentos sociais de educação, em processo coletivo, buscaram redefinir as atribuições do ensino médio.
O decreto nº 5.154/04  sustenta o projeto de formação humana integral, que propõe sistematizar “cultura e trabalho”, aspectos defendidos pelos manifestantes. Nesse momento, reintegra-se o ensino médio ao ensino técnico.
Apesar das mudanças estabelecidas e a busca constante para atender a necessidade da população em relação ao ensino médio, a educação seletista, mesmo velada, ainda permanece. Muitos jovens, que deveriam estar em sala de aula, estão trabalhando em tempo integral, sem perspectiva de um futuro melhor. Estudar, visando a  um futuro ou a uma carreira promissora, continua sendo  privilégio das elites. As condições socioeconômicas, ainda constituem barreira, como na época imperial.
Em pesquisa realizada com 20 alunos do ensino médio , da Educação de Jovens e Adultos, do programa APEDs (Ações Pedagógicas Descentralizadas), do Colégio Estadual Prof. Vidal Vanhoni, constatou-se que 50% dos alunos trabalham o dia todo, 90% recebem em média um salário mínimo por mês, 50% moram em casas alugadas ou cedidas, 50% desejam concluir o ensino médio para aumentar seu salário e 50% desejam fazer vestibular. No entanto, a maioria ainda não sabe o que quer cursar. 50% desses alunos não conseguem se dedicar ao estudo fora do horário da aula, e tanto a TV quanto a INTERNET são os instrumentos  mais citados como meios para se manterem atualizados. Os números são desanimadores, e as condições oferecidas aos estudantes são precárias. Pouco é o tempo para se dedicarem aos estudos e frágeis são as expectativas desses jovens em relação ao futuro. Faz-se necessário uma mudança efetiva em relação aos aspectos educacionais e sociais. É preciso investir no ser humano, em sua totalidade, tentando desenvolver todo o seu potencial.
A concepção de formação humana integral, diz respeito à formação pertinente aos aspectos científicos, tecnológicos, humanísticos e culturais. Não está vinculada somente  ao dualismo trabalho/ensino. Trata de uma dimensão muito mais ampla, uma vez que não exalta as competências técnicas como um fim , nem o trabalho como objetivo do ensino. Não possui uma visão unilateral. É uma formação que deve ser oferecida a toda a população. No entanto, para que essa proposta apresente-se como uma realidade, precisa ser,  incondicionalmente,  adotada por todos os segmentos da sociedade. Uma formação com dimensões tão amplas, não pode ser comportada somente na instituição escolar. Toda a sociedade precisa criar estratégias e práticas para a construção de  uma política pública democrática, que coloque em prática ações para atender essa grande demanda social, que está aquém dos portões da escola.
“O grande desafio é trazer os jovens para a escola, fazer com que nela permaneçam e que concluam com sucesso o ensino médio”. (BRANDÃO-2011, p. 204). Para universalizar o ensino médio é preciso haver uma reestruturação em determinados aspectos. Inicialmente é preciso  desligar-se da ideia imperialista de ensino, porque, apesar de tantas mudanças, volta- se constantemente ao mesmo princípio: o da seleção. A estrutura curricular, o sistema avaliativo, a estrutura física das escolas, escola em tempo integral com disponibilidade de estágios remunerados para todos, são aspectos que , há muito tempo , vem sendo discutidos entre os educadores. A escola precisa ser acolhedora, oferecer oportunidades e perspectivas aos jovens, para que nela ingressem e permaneçam.
Os projetos pensados para a universalização do ensino médio precisam promover  a circulação pelos espaços culturais da cidade com o objetivo de atrair os estudantes, incentivar a comunidade à conclusão desse curso. Fazê-los perceber que o estudo é um meio de realizar seus sonhos, seus projetos e que esse é um direito seu.
[...] os percursos formativos no âmbito de cada experiência educacional e escolar devem ser construídos a partir das singularidades de cada contexto sócio-político-educacional e de cada indivíduo[...] (BRASIL, 2012 b, p.9).

Orientadora de Estudos :

Carla Renata Telles de Abreu

Cursistas:

Luciana Lopes de Farias Xavier

Adriane de Oliveira

Debora Peniche Taira

Circe Carneiro Leão

Luciane Mafra

Gracilia Maria Ramos Marques

Ariosvaldina Telles

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Formação de Professores do Ensino Médio- Ensino Médio e Formação Humana Integral- Versão Preliminar- Etapa I- Caderno I – Setor de Educação da UFPR (2013) . Curitiba
Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino  Médio- Ministério da Educação- Conselho Nacional da Educação- Aprovado em 04/05/2011