COLÉGIO ESTADUAL INÊZ VICENTE BOROCZ - CURITIBA
Ao analisar os textos sobre “linguagens”, da Etapa II - Caderno IV, juntamente com o filme “O Enigma de Kaspar Hauser”, observa-se algumas relações entre a linguagem e a construção da sociedade. A produção cinematográfica do diretor alemão Werner Herzog, de 1974, retrata o drama de um menino chamado Kaspar Hauser que vive num cativeiro por muito tempo, sem contato com outras pessoas, a não ser com o seu “carcereiro”. Esta privação do convívio social e sua solidão não permitiram que ele tivesse acesso aos conhecimentos linguísticos, os quais são essenciais para o desenvolvimento intelectual de um indivíduo.
Kaspar não passou por um processo de socialização, comum aos seres humanos, no qual poderia exercer a compreensão por meio da prática social. Ele não consegue atribuir significado às coisas, mesmo adquirindo posteriormente a linguagem. Aristóteles já dizia que o homem precisa viver em sociedade, porque fora dela ou ele é um “Deus”, ou simplesmente um “idiota”. No caso de Kaspar, seria um “idiota” por estar bem fora dos padrões sociais da época, pois não falava, não conseguia expressar seus sentimentos, além de não saber interagir em sociedade.
Com tantas dificuldades, ele finalmente consegue aprender a andar e reproduzir seu nome depois da saída do cativeiro. Na interação com outras pessoas, percebe então que precisa aperfeiçoar sua prática de leitura e escrita a fim de compreender melhor o mundo. Observando as cenas do filme, nota-se, dentre outras situações, a importância da linguagem para o desenvolvimento psicológico do indivíduo, cuja privação pode gerar danos numerosos, pois é a linguagem que proporciona mudanças na vida, permitindo a evolução do ser.
Num segundo momento do filme, ao ser adotado por um professor, o jovem Kaspar passa por um rigoroso processo pedagógico, passando a ser educado em diversas áreas do saber, desde práticas simples como jardinagem até as mais complexas como filosofia e lógica. Após o seu letramento, o menino ainda não compreendia alguns temas, ele se via muitas vezes depressivo, não se preocupava muito, mas contemplava as coisas simples. Ele não entendia, por exemplo, certos signos, pois o enclausuramento o impediu de conhecer objetos e o mundo exterior, interferindo no seu processo cognitivo que, no caso do signo, ocorre muito por assimilação e depende de conhecimentos preexistentes do indivíduo.
A leitura dos textos e a contemplação do filme de Werner Herzog leva o espectador a fazer várias reflexões, sobretudo em relação à aquisição da linguagem e à sua importância nas relações sociais. Percebe-se que as estruturas mentais bem como o desenvolvimento da linguagem são resultantes da prática social e da interação, as quais delineiam a construção da realidade e o conhecimento do indivíduo. Os temas abordados são pertinentes ao cotidiano escolar e apontam para uma educação de ensino integral com qualidade, eficaz na formação do sujeito.