LINGUAGENS
CADERNO IV - ETAPA II - LINGUAGENS
CEEBJA Poty Lazzarotto
Orientadora de Estudos:
Adélia Fávaro Lourenço Francisco
Professores Cursistas:
Ana Batista Lopes Machado
Beatriz de Cassia Proença Bittencourt
Denilto Laurindo
Denise do Rocio Dumsch
Fabio Henrique Amaral
Fernanda Aparecida Moreira
Izabelle D'aquino Contador
José Carlos Bisoni
Karla Mansur Karan Zagonel
Luciane Gabardo Mader
Luiz Alberto Jasper
Vera Lucia Caron Ceccon
Linguagens e suas relações com a sociedade
1. No filme “O Enigma de Kaspar Hauser” observamos algumas relações entre a linguagem e a construção da sociedade, o grande problema de Kaspar Hauser está atrelado ao cativeiro, uma vez que seu estado de solidão e total privação de convívio social fizeram com que não tivesse acesso a conhecimentos linguísticos que é essencial para o crescimento intelectual de um ser, bem que estes são conhecimentos impostos pela sociedade, quando encontramos um indivíduo com habilidades manuais, ele “vive” em sociedade, muitas vezes, sem o domínio perfeito linguístico. O jovem alemão, longe de ser um Deus, era, em vista dos padrões sociais da época, um tremendo idiota: não falava, não expressava sentimentos e não interagia socialmente.
Com toda essa problemática ele consegue após a saída do cativeiro, aprender a andar a reproduzir seu nome, pronunciar palavras com o auxílio do espelho, aprender música e encanta-se com a melodia do piano. Ao jovem Kaspar Hauser foi imposto a priori a repetição de sons, de objetos e traquejo social. Momentos mais tarde, em discussão com religiosos foi imposto a acreditar em que Deus criara tudo do nada. Porém, o mesmo munido de inocência retrucou aos religiosos que era necessário melhorar a sua prática de leitura e escrita, para poder compreender melhor o mundo. Quanto à reprodução isso os habilitava nas mudanças sociais, quanto ao comer, andar e ouvir música, mas se sentia cansado de aprender coisas que para ele era difícil. Isto nos faz crer o quanto a linguagem e a cultura é importante para o desenvolvimento psicológico do indivíduo, e quando privado destas, as conseqüências são danosas, pois a linguagem nos oferece um leque de opções e mudanças e reescreve a história de nossas vidas.
No segundo momento do filme, temos a desmistificação dessa tese, onde o jovem é adotado e passa por um processo pedagógico rigoroso. Quase como um objeto de estudo científico, o mesmo passa a ser educado nas mais diversas áreas do saber, desde as práticas, como a jardinagem, até mais abstratas como a filosofia, lógica e teologia. O jovem, que até então não sabia o mínimo dos códigos linguísticos, desenvolve as aptidões necessárias para a vida em sociedade.
Kaspar Hauser, mesmo após o processo de letramento e de formação, ainda não compreendia alguns temas, seja porque fosse incompreensível, como Deus, natureza humana e sentimentos. Assim, aquele jovem que fora formado tardiamente, se via depressivo e nostálgico de um estado natural, no qual não havia preocupações, mas sim, contemplação das coisas em sua simplicidade. Sendo assim, fazendo uma ligação entre o relato do filme e o cotidiano escolar, percebemos que se faz necessário fazermos algumas reflexões a cerca do tema abordado, pois os mesmos apontam para o paradigma de uma educação plural e integral do indivíduo.
2. Este caderno traz reflexões acerca do ensino de Linguagens. Essa área do conhecimento é composta pelas disciplinas de Língua Portuguesa, Língua Materna (populações indígenas), Língua Estrangeira (com Língua Espanhola tendo oferta obrigatória, mas facultativa ao aluno), Arte (visuais, dança, música e teatro) e Educação Física. O objetivo desse caderno é levar o docente a construir atividades educativas a partir das práticas sociais dos alunos, dando maior ênfase nas manifestações de linguagens.
Conforme o Caderno IV, a área de linguagens representa as relações humanas, os diversos modos de expressões e as formas de produção do conhecimento e dos sentidos. Aborda a contribuição dessa área do conhecimento para os estudantes do Ensino Médio, que por meio dessa devem ampliar seus repertórios linguísticos através de práticas de criação e uso crítico de formas de expressão de sentidos.
Em reflexão com os alunos, levantamos cinco conhecimentos que possam ser trabalhados nessa área. O conhecimento sobre a organização e o uso crítico das diferentes linguagens, a cultura patrimonializada local, nacional e internacional, a diversidade das linguagens, a naturalização/desnaturalização das linguagens nas práticas sociais, a autoria e posicionamento na realização da própria prática e o mundo globalizado, transcultural e digital e as práticas de linguagem. Com a temática dos sujeitos estudantes do Ensino Médio e dos direitos à aprendizagem e ao desenvolvimento humano na área de Linguagens. Conforme o caderno, o direito à aprendizagem e ao desenvolvimento humano acontece quando o docente em sua prática possibilita que o estudante amplie seus saberes e que este seja capaz de realizar e analisar criticamente práticas de diferentes esferas sociais.
A dimensão do trabalho consiste na perspectiva ontológica, onde o ser humano transforma a natureza para produzir sua existência. A área de Linguagens contribui para que os jovens estudantes reflitam as várias dimensões do universo do trabalho. Para a dimensão cultural o caderno apresenta três abordagens diferentes para serem trabalhadas, são elas: a apropriação de diferentes práticas sociais, os conhecimentos necessários para melhor compreender as tendências culturais contemporâneas que se manifestam nas diferentes formas de linguagem e a possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes práticas culturais como campo laboral. A dimensão da ciência deve ser trabalhada na área de linguagens, visando o reconhecimento do seu papel na produção de novos conhecimentos. Por fim, há a dimensão tecnológica, que consiste na transformação do conhecimento científico. Assim, a área de linguagens pode contribuir para que o estudante questione e problematize a construção desse conhecimento.
A quarta unidade trabalha com possibilidades de abordagens pedagógico-curriculares na área de Linguagens. O caderno traz reflexões acerca das políticas educacionais e práticas curriculares, quem são os responsáveis por seu desenvolvimento e também quais conhecimentos estão sendo validados. Assim, faz-se necessário que os docentes reflitam sobre o papel do conhecimento na vida dos estudantes e como este contribui para ampliar suas visões e experiências de vida.
3. Uma forma de mobilizar vários dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar, em que linguagens e as diferentes dimensões do currículo: trabalho, cultura, ciência e tecnologia apareçam entrelaçados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Médio.
Entre tantos possíveis, um desses temas poderia ser estudar o Hip Hop. Hip Hop é um movimento cultural iniciado no final da década de 1960 nos Estados Unidos como forma de reação aos conflitos sociais e à violência sofrida pelas classes menos favorecidas da sociedade urbana. É uma espécie de cultura das ruas, um movimento de reivindicação de espaço e voz das periferias, traduzido nas letras questionadoras e agressivas, no ritmo forte e intenso e nas imagens grafitadas pelos muros das cidades. O Hip Hop como movimento cultural é composto por quatro manifestações artísticas principais: MCing que é a manifestação do mestre de cerimônias, que anima a festa com suas rimas improvisadas, a instrumentação dos DJs, a dança do BREAKING (e não breakdance) e a pintura do grafite.
Como movimento cultural, o Hip-Hop tem servido como ferramenta de integração social e mesmo de re-socialização de jovens das periferias no sentido de romper com essa realidade. O Hip-Hop emergiu no final da década de 1960 nos subúrbios negros e latinos de Nova Iorque. Estes subúrbios, verdadeiros guetos, enfrentavam diversos problemas de ordem social como pobreza, violência, racismo, tráfico de drogas, carência de infraestrutura e de educação, entre outros. Os jovens encontravam na rua o único espaço de lazer, e geralmente entravam num sistema de gangues, as quais se confrontavam de maneira violenta na luta pelo domínio territorial. As gangues funcionavam como um sistema opressor dentro das próprias periferias - quem fazia parte de algumas das gangues, ou quem estava de fora, sempre conhecia os territórios e as regras impostas por elas, devendo segui-las rigidamente. Esses bairros eram essencialmente habitados por imigrantes do Caribe, vindos principalmente da Jamaica. Por lá existiam festas de rua com equipamentos sonoros ou carros de som muito possantes chamados de Sound System.
No Brasil:
O berço do Hip Hop brasileiro é São Paulo, onde surgiu com força nos anos 1980, dos tradicionais encontros na rua 24 de Maio e no metrô São Bento, de onde saíram muitos artistas reconhecidos como Thaíde, DJ Hum, Styllo Selvagem, Região Abissal, Nill (Verbo Pesado), Sérgio Riky, Defh Paul, Mc Jack, Racionais MCs, Doctors MCs, Shary Laine, Mt Bronks, Rappin Hood, entre outros. No Brasil, o movimento Hip-Hop foi adotado, sobretudo, pelos jovens negros e pobres de cidades grandes, como forma de discussão e protesto contra o preconceito racial, a miséria e a exclusão.
As manifestações do Hip Hop:
DJ (disc-jockey)
Operador de discos, que faz bases e colagens rítmicas sobre as quais se articulam os outros elementos, hoje o DJ é considerado um músico. O Break-Beat é a criação de uma batida em cima de composições já existentes, uma espécie de Loop. O Beat-Juggling já é a criação de composições pelos DJ nos toca-discos, com discos e canções diferentes. Há diversos tipos de DJs: o DJ de grupo, de baile/festas/aniversários/eventos em geral e o DJ de competição.
MC (master of cerimonies)
Mestre de Cerimônia, é o porta-voz que relata, através de articulações de rimas, os problemas, carências e experiências em geral dos guetos. Não só descreve, também lança mensagens de alerta e orientação, o MC tem como principal função animar uma festa e contribuir com as pessoas para se divertirem. O MC é aquele que através de suas rimas mostra as várias formas de reivindicação, angústias e injustiças com as classes sociais mais desfavoráveis mostrando o poder da transformação.
Break Dance
Break Dance (B-boying, Popping e Locking), por convenção, chama-se todas essas danças de Break Dance. Apesar de terem a mesma origem, são de lugares distintos e por isso apresentam influências das mais variadas. A dança é inspirada nos movimentos da guerra.
Modalidades da dança de rua:
B.Boying
House Dance
Popping
Locking
Hip Hop Freestyle
Observações: o Ragga Jam não é uma das danças de rua, ele está dentro do Hip Hop Freestyle.
Grafite
Expressão plástica, o grafite representa desenhos, apelidos ou mensagens sobre qualquer assunto, feitas com spray, rolinho e pincel em muros ou paredes. Sendo considerado por muitos uma forma de arte, diferente da “pichação”, que tem outra função de apenas deixar sua marca, o grafite é usado por muitos como forma de expressão e denúncia.
Projeto Interdisciplinar Hip Hop
Justificativa
Desenvolvemos o projeto Hip Hop em nossa escola. Sempre fazemos avaliações positivas dele e, decidimos que ele deve continuar nos anos seguintes, passando, é claro, por melhorias. Observamos que alunos tidos como “problema” são os que mais se identificaram com o projeto, melhorando suas atitudes e se interessando mais pelas aulas. O projeto de Hip Hop é um projeto realmente interdisciplinar, integrando todas as áreas do conhecimento, o material de apoio e dedicação dos envolvidos, possibilita que todos professores trabalhem no projeto.
Acreditamos que esse projeto é importante para nossa escola e comunidade, pois ele faz parte da nossa realidade, é uma maneira lúdica de se aprender. Acredito que esse projeto poderia também ser expandido para outras escolas das periferias dos grandes centros urbanos. Esse projeto possibilita que nossos alunos sejam construtores reais do conhecimento e não meros receptores de informações.
Objetivos Concretos:
- Realização de um festival de Hip Hop;
- divulgação do projeto.
Objetivos pedagógicos:
Espera-se que esse projeto possa:
- Aumentar o interesse dos alunos pelas aulas e consequentemente pela busca de conhecimentos, diminuindo assim a indisciplina em sala de aula. Segundo a LDB a escola deverá “adotar metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes”;
- Levar o aluno a compreender a cidadania como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia a dia, atitudes de participação, solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças e discriminações, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito (PCN);
- Criar possibilidades para que os alunos utilizem diferentes linguagens - verbal, matemática, gráfica, plástica, musical e corporal;
- Como meio para expressar e comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções da cultura;
- Levar o aluno a compreender o ambiente natural e social, o sistema político, a tecnologia, as artes e os valores em que se fundamenta a sociedade (LDB;.
- Desenvolver a capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores (LDB);
- Estimular a inclusão de alunos que muitas vezes ficam fora do processo de aprendizagem (alguns alunos não sabem ler, mas sabem ouvir , falar, cantar e desenhar);
- Melhorar a comunicação entre professores e alunos;
- Aprimorar o educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual.
Conteúdos trabalhados
História
- História do Hip Hop - sua origem e transformações através do tempo;
- Movimentos sociais e culturais na década de 60, “contracultura”;
- Apartheid e racismo através da História;
- Movimentos de direitos civis americanos da década de 60, Panteras Negras, Black Powers, Rosa Parks, Luther King, Malcom X, etc;
- Brasil colônia, escravidão, tráfico negreiro, Brasil império, coronelismo;
- Racismo (interdisciplinar);
- Resistência negra, formas de resistência, quilombos, Palmares;
- Dia da Consciência Negra;
- Manifestações culturais africanas no Brasil atual: candomblé, capoeira, congada, gastronomia, língua, etc.
Arte
- Identificação de produtores em artes visuais como agentes sociais de diferentes épocas e culturas;
- Leitura e discussão de textos simples, imagens e informações orais sobre artistas, suas biografias e suas produções;
- Edificar uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal e conhecimento estético, respeitando a própria produção e a dos colegas, no percurso de criação que abriga uma multiplicidade de procedimentos e soluções;
- Grafite.
Português
- Leitura e interpretação de textos (letras de RAP e textos sobre Hip Hop);
- Buscar compreender a origem e propagação das “gírias” chamadas por alguns MCs de “dialeto da periferia”;
- Produção de texto poético (rimas, ortografia e vocabulário).
Geografia
- A organização do espaço urbano (centro/periferia);
- O desenvolvimento do capitalismo e sua hegemonia no mundo atual;
- O espaço urbano industrial: a urbanização, redes urbanas e a estrutura interna das cidades, o processo de metropolização e os problemas urbanos;
- A terceirização da economia urbana e suas implicações;
- Indicadores sociais, Índice de Desenvolvimento Humano, Analfabetismo, Renda, etc;
- Movimentos sociais, Movimento negro no Brasil, Dia da Consciência Negra;
- Industrialização e acumulação de capital;
- Inserção do Brasil na atual divisão mundial do trabalho, divisão regional do trabalho.
Educação Física
- Lazer e as interfaces com a Educação Física;
- Corpo, sociedade e a construção da cultura corporal de movimento;
- Educação Física escolar e cidadania;
- O esporte do Hip Hop, o Streetball;
- Crescimento e desenvolvimento motor através da dança.
Inglês
- Tradução e interpretação de textos na referida língua usando-se
letras de Rap e textos sobre o Hip Hop.
4. As linguagens compreendem processos biocognitivos, sócio-históricos e político-culturais que pertencem ao domínio individual e social. Desenvolvem-se de forma dinâmica e são auto-organizativas que nos constitui como sujeitos sociais, revela nossas identidades e nos permite vivenciar nossa subjetividade, nossas funções sociais e nos oferece subsídios para que reflitamos sobre a sociedade e nossa ação nela.
Ao correlatarmos os componentes curriculares da área das linguagens à metáfora da árvore, instiga-se a reflexão das práticas pedagógicas e construção do currículo visando a formação integral, cidadã.
A raiz é o alicerce do conhecimento. É o embasamento pedagógico pela visão filosófica. O tronco corresponde a uma pedagogia que por sua vez é mantida pela raiz que representa a filosofia da educação que fundamentam nossas escolhas.
As folhas são as práticas pedagógicas, os conteúdos selecionados e o modo de abordá-los no processo de construção do conhecimento.
Sendo assim, muitas atividades por meio de técnicas de ensino poderão ser trabalhadas: debates, seminários, pesquisas, entrevistas, relatórios, uso de blogs, jornal, etc; no intuito de oportunizar ao aluno sua própria independência tornando-o agente de sua aprendizagem e consequentemente cidadão crítico, assegurando sua inserção em uma sociedade igualitária e justa.
Conclui-se portanto, que não há métodos únicos e engessados para a prática em sala de aula. O agir pedagogicamente se faz diante das especificidades do contexto e das particularidades do perfil dos educandos. Deve-se educar para o desenvolvimento humano e para tanto precisamos refletir sobre o impacto que as nossas escolhas e ações podem vir a ter na sociedade e na vida dos mesmos.
REFERÊNCIAS:
14/8/2014. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio: linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEMTEC, 2000. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCN+: linguagens, códigos e suas tecnologias.
Brasília: MEC/SEMTEC, 2002. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares para o Ensino Médio: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEB, 2006. BRASIL. Conselho Nacional De Educação.
SANTOMÉ, J.T. Globalização e Interdisciplinaridade: o currículo integrado. Porto Alegre: Artes Mé- dicas, 1998.
C. Toni. O Hip-Hop Está Morto - A História do Hip-Hop No Brasil - 2ª Ed. 2014
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