A linguagem como construção histórica e social
Colégio Estadual Vidal Vanhoni – Ensino Médio -Paranaguá – Pr
Orientadora: Carla Renata Telles de Abreu
Cursistas: Circe Carneiro Leão
Everli A. F. Andrioli
Luciana Tavares de Miranda
Marisa Celestino
Marly Serafim
Nadia Regina Teixeira
Tatiani Ermelina
Análise do filme: “ O enigma de Kaspar Hauser, do diretor alemão Werner Herzog”
“Esses gritos assustadores ao redor são os que chamam de silêncio.”
O filme é uma abordagem histórico-cultural sobre o desenvolvimento de Kaspar Hauser,que apresenta entre outras características a formação e a construção da realidade do personagem principal através da linguagem. Essa formação linguística apresentou – se nas diversas cenas analisadas.
Um personagem incompreensível que, quando encontrado em Nuremberg, em 1928, estava com supostamente 15 anos, não sabia falar, nem andar e não se comportava como humano. Perplexos com a figura, os moradores o deixam prisioneiro numa torre. O rapaz não é violento e se mostra inteligente, surgindo rumores de que ele pertença à nobreza. Durante dois anos, ele amplia sua linguagem ensinada por uma família que o ajuda e por um padre. Ele aprende facilmente música, tricô e jardinagem. Este filme traz um à reflexão sobre a comunicação verbal do homem e a inteiração com o meio em que está inserido.
A primeira cena apresenta o jovem Hauser brincando com um cavalo de madeira, fazendo somente grunhidos para representar o som do animal. Como ele não teve contato com outras pessoas desde pequeno, seu vocabulário é inexistente, pois não houve interação social. Segundo a professora Magna Campos, “a linguagem é o meio entre sujeito e o mundo, a perspectiva pela qual o sujeito olha e constrói o mundo e nele intervém”. Dessa forma, não houve uma dialítica, pois a realidade que ele conhecia era um calabouço, uma pequena janela e um animal de madeira.
Não houve o processo de sociabilização, a 1a fase que é o contato familiar, não ocorreu, transformando – o em um ser sem consciência. A linguagem no início do desenvolvimento humano é necessária para ocorrer os estímulos necessários para o desenvolvimento cognitivo. Esse denvolvimento, segundo o psicólogo russo Vygotsky, se forma através da interação social, e o papel importante do adulto na mediação do conhecimento cultural.
Essas estruturas são formuladas na fase infantil, a Teoria de Piaget mostra que o desenvolvimento cognitivo seria formado pelos processos de acomodação e assimilação, sendo o primeiro o processo de adaptar o cognitivo à realidade e o segundo, de interpretar as experiências. Essa teoria torna – se explicável na cena em que o personagem observa uma torre e chega a conclusão de que somente um homem imenso poderia fazer aquela construção, outra é não conseguir classificar objetos de seres vivos, onde o mesmo não compreendia o surgimento do fruto e o motivo da sua queda da árvore.
Para Vygotsky, a cognição desenvolve – se antes da linguagem, contudo, aprimora – se quando a fala e associação de ideias se juntam. Como Kaspar Hauser viveu sozinho durante a infância, a integração social foi anulada. A professora Usha Goswami afirma que o desenvolvimento cognitivo não acontece apenas no cérebro individual, ele depende das interações entre a criança e as ferramentas culturais.
Para Kaspar Hauser conhecer o mundo pela linguagem, por signos linguísticos, parece não ser satisfatória "talvez por que a significação do mundo deve irromper antes mesmo da codificação lingüística com que o recortamos: os significados já vão sendo desenhados na própria percepção/cognição da realidade" (Blikstein, 1983, p. 17). Nesse sentido, também Vygotsky insiste que o pensamento e a linguagem se originam independentemente, fundindo-se mais tarde no tipo de linguagem interna que constitui a maior parte do pensamento maduro. O pensamento abstrato do personagem não se formalizou, fato analisado na cena em que algumas pessoas tentam convencer Hauser da existência de Deus.
A teoria sócio-interacionista de Vygotsky tem como pressuposto que o desenvolvimento cognitivo acontece através da interação social entre duas ou mais pessoas, que trocam experiências, criando novos conhecimentos. Algumas proposições podem resumir a sua teoria de Vygotsky, tais como: “Na ausência do outro, o homem não se constrói homem” (OLIVEIRA, 1992, p. 68); “O saber que não vem da experiência não é realmente saber” (VYGOTSKY, 1989, p.75); “O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa por outra pessoa” (VYGOTSKY, 1984, p. 33). Isso acontece, porque existem situações em que a criança não conseguirá solucionar sozinha, pois algumas de suas funções mentais ainda não estão consolidadas. Assim sendo, a zona de desenvolvimento proximal é a fase em que ocorre a aprendizagem, que consiste;
na distância entre o nível de desenvolvimento atual, determinado pela solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado pela solução de problemas sob orientação de adultos ou em colaboração com pares mais capazes. (FILATRO, 2007, p. 85)
Assim a interação do homem com o mundo não são diretas, mas pela utilização de símbolos e instrumentos e de do exterior para o interior. Para Vygotsky, símbolos significam algo, como, por, exemplo o pensamento verbal, a linguagem escrita, a língua falada. Estes formam um sistema simbólico básico encontrado em todos os grupos sociais. Mesmo tendo aprendido a andar, falar e escrever e apesar de haver internalizado símbolos de comportamentos, Kaspar Hauser nunca seria considerado um "igual" pela comunidade de Nuremberg, pois sua história de vida estava inevitavelmente marcada pelo estigma da rejeição.
A sociedade não o reconhecia como um ser ativo. Neste filme se vê claramente a aversão da sociedade com o diferente. Sendo mais fácil evitar do que tentar compreender o que realmente acontece com Kaspar.
Nos dias atuais não é muito diferente, a sociedade que julga o que se deve ser aceito ou rejeitar. Ainda é visto uma sociedade preconceituosa com o diferente. Apesar de ter evoluído, ainda é visto pessoas encarando um ser diferente com olhos de condenação e aversão.
Referencias Bibiográficas
BENVENISTE, Emile. Problemas de lingüística geral. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976. v. I.
FILATRO, Andrea. Design instrucional contextualizado: educação e tecnologia. 2. ed. São Paulo: Senac, 2007
OLIVEIRA, M. K. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
GOSWAMI, Usha. Teorias do Desenvolvimento Cognitivo. Pátio Revista Pedagógica. Porto Alegre, RS. No 49, p. 60 – 63, fev./abr.2009.
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