JUVENTUDE E ENSINO MÉDIO: COTIDIANO ESCOLAR

A família é a primeira instituição na formação da personalidade do sujeito, onde ocorre a incorporação das primeiras concepções de mundo e de sujeito. O caráter elitista da escola de Ensino Médio sustenta os currículos distantes da realidade podendo ser um dos fatores na justificativa do fracasso escolar. A relação professor e estudante precisa de novos significados. Contudo, não faz sentido esta afirmação de que professores e jovens se culpam mutuamente e os dois lados parecem não saber muito bem para que serve a escola nos dias de hoje, pois se essa afirmação fizesse sentido, acredita-se que não haveria mais professores. No entanto, profissionais da educação ainda continuam nesta profissão porque acreditam no seu trabalho e no potencial do ser humano.
Um dos elementos negativos que apareceram durante o debate dos professores cursistas da Formação de Professores do Ensino Médio está relacionado ao número de aulas em pouca quantidade para o número elevado de conteúdos, havendo necessidade do professor selecionar os mais importantes e esse pouco tempo limita-o a ficar só nos conteúdos, não dá tempo de desenvolver um projeto diferente, pois são necessárias muitas aulas e o professor fica preocupado em vencer o mínimo dos conteúdos.
Outro ponto negativo é que muitas vezes, tanto professores quanto alunos não assumem as suas próprias responsabilidades e culpas. O professor pode reclamar do aluno, porém, de que maneira ele prepara as suas aulas? Cabe-nos, enquanto professores, fazer-nos a seguinte pergunta: “Será que se eu voltasse a ser aluno nos dias de hoje eu gostaria de assistir minha aula?”. Aos estudantes seria feita a seguinte indagação: “Eu reclamo do professor, mas eu respeito essa pessoa, esse profissional que está na minha frente? Tento compreender, prestar a mínima atenção e questioná-lo em sala?”. Essas reflexões devem ser feitas sempre, não só com os professores, mas com os estudantes, cujos relacionamentos cresçam em conversa e em respeito.
Quando se pensa no jovem do Ensino Médio, verifica-se que cada segmento define os culpados dos problemas existentes: os professores culpam os alunos (indisciplina, desmotivação, falta de responsabilidade como aluno...), os alunos culpam os professores (aulas desinteressantes, sem conexão com o mundo real...) Este hábito de se  achar um “bode expiatório” em nada favorece a solução dos problemas, uma vez que os problemas são multifacetados e exigem uma análise mais complexa.
Os jovens têm pertencimentos sociais diferentes e constróem identidades individuais como protagonistas em tempos e espaços diferentes,  portanto a juventude é uma categoria socialmente produzida, onde cada época dá o seu contorno. Nesse prisma, pode-se falar não em juventude, mas em “Juventudes”, enquanto sujeitos que experimentam e sentem contextos sócios-culturais determinado. É preciso começar por conhecer o jovem concreto que está na nossa escola, desmistificando ideias preconcebidas. Faz-se necessário amadurecer o conceito de juventude através de  diversas óticas: faixa etária, maturidade  biológica/sexual,  ritos de passagens. Sendo entendido como uma forma imatura, como um “vir a ser”.
Algumas fontes de pesquisa defininem juventude a partir de critérios de faixa etária que a compreendem como uma fase que vai dos 12 aos 18 anos (Constituição Brasileira, 1988); ou, ainda, “juventude... são as pessoas que estão entre os 15 e 24 anos de idade” (Assembléia Geral das Nações Unidas); é um “período na vida de uma pessoa entre a infância e a maioridade (Banco Mundial); “Jovem no Brasil é todo o cidadão que compreende a idade entre 15 e 29 anos” (PEC da Juventude aprovada pelo Congresso em 2010). Observa-se que a delimitação por faixa etária é bastante limitada, pois  induz que no momento em que o sujeito faz aniversário ocorrem um conjunto de mudanças psicológicas, sociais, de direitos e deveres. No entanto, se reconhece a necessidade de se delimitar a fase juvenil para fins de políticas públicas  e estatísticas, a fim de que sejam contemplados esses sujeitos com a atenção necessária pelos setores sociais e políticas públicas educacionais específicas.
Enfim, seja qual for o critério adotado, a verdade é que nesta fase são ampliados os laços de convívio, e grande parte do aprendizado ocorre fora das áreas protegidas do lar e da religião, sendo que as interações, as amizades e as conversas são parte importante do processo. O fazer parte do grupo é imperativo. E, da mesma forma, enxergar o jovem na escola de maneira diferenciada, compreendendo-o como sujeito de direito, aprimorando então o cotidiano escolar com mais debates e reflexões é, ainda, um grande desafio a ser percorrido. Entretanto, crê-se na educação transformadora e formadora de sujeitos capazes de superar as desigualdes da sociedade brasileira.

Denise Santos; Edileia de Aquino Ramalho; Eliana Gomes Santana; Eliane de Souza, Elismery Ferreira Macarios; Elizabeth Vidolin Alpendre; Fernanda Caldas Fuchs; Noely Maria Lesnau; Simone Vosne Portela