Juventude e EJA: Perspectivas e anseios de alunos que buscam uma “segunda chance” .

Juventude e EJA: Perspectivas e anseios de alunos que buscam uma “segunda chance” .

No Brasil, de acordo com dados de pesquisa divulgada pelo IBGE em 2010, somente 37% dos jovens com idade entre 18 a 24 anos já completaram o ensino médio. A mesma pesquisa mostra que de cada 100 estudantes que terminam o ensino fundamental com a idade correta, 83 vão para a próxima etapa, porém somente 47 terminam o ensino médio em três anos.
Todo esse clima de desinteresse dos adolescentes pela vida escolar tem gerado muitas reflexões sobre os possíveis caminhos de fazer com que o ensino médio seja significativo para o jovem, por esse motivo se torna tão importante compreender a juventude e as relações que se estabelecem com ela nos bancos escolares, visto que há flagrantes conflitos entre gerações, o que acaba dificultando o trabalho de ensino-aprendizagem.
Infere-se que atualmente o jovem é bombardeado por um mundo de imagens, tem informações sobre os mais diversos temas, tem inúmeros interesses nas redes sociais, enfim, decididamente não é o mesmo jovem com o qual nos deparávamos na sala de aula há alguns anos atrás.
Todas essas modificações trazem desconforto para o professor e a escola, pois essa, sim, insiste em não se modificar, transmitindo informações da mesma maneira que há décadas atrás. A figura do professor também é muito questionada, pois ele não é mais o detentor do conhecimento, já que as informações que transmite podem ser encontradas com um click através da internet. Esse fato leva os alunos a vê-lo de forma diferente e muitas vezes confrontá-lo, fato que há antigamente era uma atitude inimaginável.
Por tudo isso, acredita-se que há um grande conflito entre professores e alunos, o qual traz prejuízo para o processo de ensino-aprendizagem. Torna-se imprescindível, que o professor busque perceber como os jovens estudantes constroem o seu modo de pensar, as suas necessidades e as suas expectativas.
A juventude hoje, não é mais percebida como uma fase que logo passará, mas sim em um processo que o ser humano passa necessariamente e que norteará sua vida adulta. É na juventude que ele realiza escolhas sobre sua trajetória pessoal e constituem os seus valores e conhecimentos impostos como heranças familiares. Nem sempre essa busca pela sua identidade é pacífica, muitas vezes os pais e professores sentem-se confrontados em sua autoridade pelas escolhas feitas pelos jovens.
Por isso, é possível dimensionar o papel do professor e da escola na formação deles. O ambiente escolar é por natureza o local em que o jovem se identifica com os outros, onde desenvolve suas potencialidades, se socializa (ou não) com os demais, embora o termo juventude seja singular, há uma multiplicidade de identidades juvenis: há o jovem que só estuda, há aquele que estuda e trabalha para si, há outros ainda com os quais as famílias já contam como arrimo e, dessa forma desenvolvem responsabilidades muitos cedo.
Já o jovem que frequenta a EJA, possui um contexto particular, sua representação histórica e cultural envolve filhos, trabalhos, compromissos financeiros, idade, sonhos, exigência da empresa, etc. observar como esses jovens se comportam foi amplamente debatido cujo resultado será útil para criar estratégias de trabalho que serão desenvolvidas no dia a dia da escola.
Acrescenta-se ainda que esses alunos além de já ter inúmeras responsabilidades também sofrem com o pré conceito, embora sejam estudantes lhes é negado o protagonismo estudantil, já que pela sua condição tardia de estudante é considerado pelo meio como atrasado, e por vezes, inferior.
Jovens, Culturas, Identidades e Tecnologias.
Outro ponto nevrálgico que vem gerando desgastes entre alunos e professores é o uso da tecnologia em sala de aula. O jovem necessita estar “plugado” o mais tempo possível nas redes sociais, por isso utilizar o telefone e a internet em sala por parece-lhe muito natural, já o professor não compartilha com essa premissa, sentindo-se muitas vezes ameaçado em sua autoridade, e por isso, se dá o embate.
Na EJA, os alunos muito embora exista diversidade de relacionamentos sociais amplos, estão em busca da construção (ou reconstrução) de uma identidade que satisfaça seus projetos em busca de reconhecimento social e de autoidentificação. Compreender esta dimensão ôntica é compreender que como sujeitos de direitos e de cultura os alunos não são apenas “objetos” de nossas intenções educativas.
A construção da identidade passa também pela relação que os jovens possuem com as tecnologias digitais, para esclarecer este tema proporcionou-se conversas com alunos sobre tecnologia no cotidiano, a importância das redes sociais no seu dia-a-dia. A intenção é compreender as relações entre identidade social, tecnologia, educação, comunicação e relações sociais.
Foi inferido pelas conversas que a melhor saída é assimilar a cibercultura como uma aliada à educação, é remar a favor da correnteza, já que ir contra ela é despender energia desnecessária (e inútil) e negar a identidade construída pelo aluno jovem.

O jovem e a EJA: A juventude traduzida em números

De acordo com pesquisa realizada entre os dias 04 a 06 de agosto com alunos do Ensino Médio deste CEEBJA foi possível verificar que a maioria é do sexo feminino, a faixa etária predominante é a de 18 a 25 anos, portanto, são jovens em sua maioria, dos quais cinquenta e seis por cento possuem pais que apenas completaram o ensino fundamental, contra trinta e cinco por cento que afirmaram ter progenitores que possuem o Ensino Médio.
Já com relação à mãe o quadro é mais desolador, pois quarenta e um por cento afirmaram que elas possuem apenas ensino fundamental fase I (primeira a quarta série) e quinze por cento o ensino fundamental fase II, é também expressivo o número de mães que não possuem sequer alguma escolaridade (13%).
Infere-se que esses alunos provêm de ambientes pouco letrados, e também que hoje estão tendo a oportunidade de estudarem o Ensino Médio, com uma boa chance de adentrar a uma universidade. Acredita-se que esse resultado foi conseguido por meio de políticas públicas eficazes que estão fazendo diferença na escolaridade da população.
Os jovens, neste CEEBJA, vêm para a escola de ônibus em sua maioria, embora treze por cento afirmem que vem de carro próprio. Gastam em média de trinta minutos a uma hora para se deslocarem até a escola, o que pode demonstrar que chegam aos bancos escolares já cansados, visto que já perfizeram um jornada de trabalho.
Quarenta e dois por cento dos respondentes afirmou que não possuem filhos, contra 33% que possuem pelo menos um. Isso indica que a família para mais de um terço é um fator de preocupação. Cinquenta e três por cento percebe até três salários mínimos, contra trinta e quatro por cento que afirmou receber apenas um.
De acordo com a pesquisa noventa e cinco por cento dos alunos afirmou estarem motivados a concluir os estudos. Também foi possível apurar que 24% dos respondentes não pararam de estudar, concluindo o ensino fundamental e já iniciando o Ensino Médio. Setenta e seis por cento parou entre os anos de 2010 a 2013 e agora está retornando aos bancos escolares. Quarenta e cinco por cento apontaram a necessidade de trabalhar como fator que os influenciou a desistir dos estudos, mas que ironicamente, também os motivou a retornarem aos bancos escolares.
Trinta e um por cento dos estudantes desse centro quando entrevistados afirmaram que estão em busca de cultura geral que os impulsione a prosseguir estudando, contra 28% que argumentaram estar estudando apenas para obter um diploma.
O jovem que frequenta esse CEEBJA está em busca de uma vaga em um curso profissionalizante, sendo um número bem expressivo aqueles que desejam adentrar a uma universidade.

Sentidos e significados da escola para os jovens

Em rodas de conversas com os alunos, os professores participantes do projeto puderam perceber que a representação da escola para o jovem está associada a uma obrigação que a sociedade impõe, mas também e principalmente, está ligada à inserção no mercado de trabalho, embora alguns observem que nem sempre a escolarização garanta um futuro promissor, apostam nelas todas as suas “fichas”.
Além disso, a escola foi apontada como um território neutro, ou um abrigo protetor para o jovem, no qual ele pode socializar-se, além de oferecer para eles um aprendizado para a vida.

Professores Pacto Ensino Médio no Ceebja Maria Deon de Lira – Curitiba – Paraná
- Geni Alberini
- Sueli Tinoco Vieira
- José Aparecido de Oliveira Pires
- Alice do Rocio Ladaminsky
- Marina Soares Lima K.
- Elita Bier
- Joel Soares Kaizer
- Maria Cristina Alcici P.
- Nisele Maria