As primeiras civilizações emergiram às margens de grandes rios e desenvolveram-se com base na agricultura. Antigo Egito, com cultivo no Vale do Rio Nilo. Mesopotâmia, com cultivo na região dos rios Tigre e Eufrates. China, com cultivo no Vale do Rio Amarelo. Índia, com o cultivo no vale do Rio Indu, além de outras na América.
No Egito, o rio Nilo exercia grande importância no setor agrícola, pecuária e transporte. A agricultura irrigada favorecia o plantio do trigo, cevada, linho, papiro, legumes e frutas. O comércio feito pelo Nilo era intenso, que permitia a ligação entre as terras do Sul e as regiões pantanosas ao norte.
As cheias do Nilo causavam benefícios e tragédias. Benefícios em razão da camada de húmus muito fértil depositada sobre o solo quando as águas baixavam. Destruição, em razão das enchentes, que derrubavam moradias e causavam mortes de homens e animais.
As enchentes ocorriam devido as precipitações nas cabeceiras da bacia em setembro e outubro. Portanto, quando as cheias eram muito altas, ocorriam inundações. Por outro lado, em períodos de poucas chuvas ocorriam secas. O solo não tinha a mesma fertilidade, gerando escassez de alimentos.
Registros apontam que por volta do ano 4000 A.C. foram construídos diques e canais de irrigação. Eram grandes reservatórios para armazenar a água nos períodos de cheia, que reduziam os danos e direcionavam fluxo das águas para regiões distantes. Com isso, a água era utilizada de forma apropriada, ou seja, na quantidade necessária e no momento certo, solucionando os problemas de cheias e secas no Egito Antigo. Os egípcios reconheceram a importância do Nilo para sua sobrevivência ao ponto de reverenciá-lo como uma divindade protetora.
Na atualidade, em razão das mudanças climáticas globais, verifica-se ocorrência de impactos sérios nos recursos hídricos. A elevação da temperatura do planeta, em parte decorrente da emissão de gases que provocam a intensificação do efeito estufa, tem causado uma maior freqüência de ondas de calor, secas e elevada precipitações em determinadas regiões, afetando a disponibilidade de água destinada para o consumo, sobretudo nos centros urbanos. Questão de maior gravidade ocorre no tocante à poluição dos rios, em razão da falta de saneamento básico, que é um problema global.
Concernente a situação brasileira, dados estatísticos demonstram a gravidade do problema. A porcentagem de cobertura no setor urbano é de apenas 55% e na área rural de é de apenas 3%. Esse dados são significativos por apontar a generalizada desconsideração à preservação e à conservação dos recursos hídricos.
Comparando a civilização egípcia com a civilização brasileira, e de modo geral, com todas sociedades no planeta, tendo em vista que esse é um problema global, verifica-se que as antigas civilizações tinham maior consciência da importância dos recursos hídricos que as sociedades atuais.
As civilizações antigas não economizaram esforços, com recursos econômicos e trabalho humano, para construir grandes obras de diques e canais de irrigação, com o fim de garantir sua sobrevivência.
É preciso que a sociedade brasileira encare essa questão como prioritária. A água é elemento básico para a sobrevivência do homem, no entanto, o modo de vida das pessoas, no trato com a água, e Estado brasileiro, na gestão ambiental, deva ter um olhar como a dos egípcios: reconhecer os rios brasileiros como uma dádiva divina. Talvez, a partir daí, teremos efetivamente uma mudança de postura do cidadão e das instituições do Estado.