A gestão democrática sob o olhar dos professores do Colégio Estadual José de Anchieta¹

Uma Gestão Democrática real e bem integrada é difícil de se conseguir, mas ao praticar a cidadania, a humanização e igualização no contexto escolar a democracia se efetiva e passa a ser constante na escola. Neste sentido, para que a mesma se concretize é necessária a participação de diretores, pais, professores, alunos, funcionários, e órgãos colegiados que representam a comunidade escolar, para assim rumar para uma construção social que atenda aos anseios da maioria, num aprendizado coletivo e participativo.
Promover a gestão democrática na escola implica tempo para concretização de cada passo do processo de discussão e decisão. A escola tem a obrigação de ter presente em todas as suas ações estes princípios fundamentais (igualdade, “liberdade, pluralismo, gratuidade e valorização dos profissionais da educação”), além de estimular e incentivar alunos e toda comunidade escolar a participar de todas as tomadas de decisão tanto pedagógicas, quanto da gestão. A gestão democrática demanda envolvimento de todos. Portanto, há a necessidade de instigar a comunidade escolar a uma maior participação na destinação dos recursos financeiros da escola, fazendo com que todos sejam mais comprometidos com a instituição, que se envolvam mais nas ações da escola para além da sala de aula. Conforme consta no Caderno V, é preciso "fazer dessa prática uma atividade sistemática, tendo em vista dialogar e deliberar coletivamente sobre questões que são importantes para o funcionamento da escola e para as pessoas que nela trabalham e estudam, o que não significa, de forma nenhuma, estabelecer um clima de animosidades, pois o processo deve ser conduzido com ponderação e respeito pelas opiniões divergentes"(CADERNO V, p. 10).
No cenário escolar temos várias instâncias colegiadas que atuam no conjunto da instituição escolar, a exemplo disso temos a APMF, Conselho Escolar e Grêmio Estudantil. Tratando-se do Conselho Escolar, que é a instância colegiada de maior “peso” no que diz respeito a tomada de decisões da escola, o mesmo é composto por vários segmentos do coletivo: professores, pais de alunos, alunos e funcionários. Em entrevista com este grupo, constatou-se uma pequena participação destes nas decisões da escola, o mesmo parece que é visto como “solucionador de problemas”, pois somente é solicitado para resolver problemas de grande urgência. Alguns integrantes do Conselho (alunos), também desconhecem os demais integrantes do grupo, e dizem que ainda não foram convidados a participar das reuniões, já os professores relatam já ter participado de reuniões do Conselho, e que conhecem os demais participantes do grupo, segundo eles as reuniões são bastante produtivas e o grupo é participativo. Diante do observado, entendemos que se caminha para uma efetiva participação do colegiado, no entanto ainda há muito que melhorar, a começar pela disposição de todos em participar de reuniões ordinárias.
Um dos meios onde na escola se evidencia a democracia é o Grêmio Estudantil. Reconhecemos como uma entidade existente e atuante na nossa escola, que se utiliza da comunicação e da participação dos alunos para tornar conhecidos seus integrantes. O processo eleitoral ocorre de forma transparente e é organizado por uma comissão previamente escolhida em assembleia. A questão democrática para a escolha destes membros é de extrema importância, pois decidir aquele que representará o segmento, traz a necessidade de comprometimento de ambas as partes (o que escolhe e o que foi escolhido). Esse órgão tem desenvolvido atividades diversificadas na escola, como filmes, palestras (higiene, sexualidade), homenagens nas datas comemorativas. Além destas, surgiu nesse ano a proposta de modificar o uniforme da escola, na intenção de incentiva o seu uso. A proposta foi divulgada nas turmas para que todos tivessem a oportunidade de apresentar ideias, modelos. Entendemos que um aluno crítico é estimulado na prática, onde pode perceber que sua participação se efetiva no contexto e na capacidade de mudança na escola de forma consciente e que faz parte da opinião do grupo. Assim, nossa escola conta com um processo mais democratizado, onde os integrantes do contexto escolar evidenciam seus anseios e apresentam suas ideias e perspectivas em relação à instituição. A necessidade da representação de estudantes perante a escola e sociedade é muito válida. Este é um dos objetivos do Grêmio Estudantil. Muito importante também é a consciência dos membros referindo-se a objetivos, missões, projetos, planejamentos, etc.
Durante os encontros do PACTO, foi possível através de muita conversa, compreender a real dinâmica da gestão democrática participativa. Ficou bastante claro que para efetivação da mesma é necessário muito trabalho, determinação e paciência. E é entristecedor quando constatamos que vivemos uma gestão política representativa, isso em todas as esferas políticas de nosso país. No contexto escolar, não é muito diferente, apesar de objetivarmos uma política democrática de participação do coletivo, ainda não alcançamos tal ideal. Isso certamente deve-se ao nosso pouco amadurecimento geopolítico e ao conhecimento das normas que regem o sistema. Cremos que, mesmo que seja a passos lentos, gradativamente caminhamos para a efetivação de uma política democrática que atinja a totalidade do povo brasileiro.