Fragmentação

Uma interpretação do caderno IV
Jeremias, Leila e Jauri
No caderno IV aparece uma preocupação considerável com relação à fragmentação do ensino. No vídeo, onde dois professores do Paraná são entrevistados, o problema também se refere à essa mesma fragmentação. Diante dessa inquietação, tanto o texto do caderno III como a entrevista dos dois professores, vão sugerir que se faça uma reflexão entre os docentes na tentativa de compreender a totalidade para fazer a conexão entre as disciplinas e assim construir um novo currículo que articule as partes com a totalidade. Ou seja, a sistematização deve levar em conta a totalidade e não apenas uma sistematização do específico.
No início da humanidade, e até os dias de hoje, o principal pressuposto da nossa sobrevivência consiste no fato de que temos de comer, beber, morar e vestir para sobreviver. Para atender essas necessidades básicas os homens estabeleceram relações de produção entre os mesmos e, à medida que foram se organizando, o desenvolvimento tecnológico também foi melhorando e paralelamente foi surgindo a divisão social do trabalho. Estes dois elementos possibilitou ao homem um excedente de produção e com isso a necessidade de se desfazer do excedente, isto é, o surgimento da troca dos produtos. Mais ainda, o surgimento de uma nova categoria, a mercadoria.
Com o aumento da produção de mercadorias e de suas trocas surge também outra necessidade que consiste em encontrar uma mercadoria que servisse como equivalente geral para facilitar as trocas. Esse equivalente geral é o próprio dinheiro que num primeiro momento era uma mercadoria como o ouro, por exemplo, e depois foi substituído pelo dinheiro papel que representa a forma como ele aparece nos dias atuais. No entanto, a forma dinheiro é a principal responsável pela alienação das pessoas, ou seja, pela separação do homem com ele mesmo, que acabou levando para uma forma invertida de pensar. Antes o homem era o centro de tudo, mas com o aparecimento do dinheiro o homem parece ter ficado hipnotizado ou enfeitiçado pelo próprio dinheiro. A partir dai passou a pensar de forma invertida e deixou de ser o centro de tudo para ceder lugar ao mercado como centro geral. Hoje o mercado determina se haverá emprego ou não, determina o salário, a profissão, miséria, fome, tráfico de drogas e presídios cada vez mais superlotados.
Dentro dessa lógica, a ciência deixou de ser neutra para atender a lógica do lucro, e o estudante deixou de se interessar pela pesquisa de algo que contribua com as questões referentes à liberdade e justiça entre os homens. Ou seja, somente encontrará lugar na pesquisa aquele que desenvolva um trabalho para atender a lógica mercadológica. No entanto, para manter essa sociedade funcionando de forma invertida, a educação, necessariamente, precisará caminhar de forma fragmentada para manter o trabalhador alienado e adormecido, uma vez que ao acordar desse sono profundo passará a questionar as formas de opressão, exploração e exigirá mudanças principalmente no princípio de onde se manifestam esses fenômenos. Ou seja, uma mudança nas próprias relações de produção ou relações de propriedade de tal modo que o mercado deixe de ser o centro e o homem possa finalmente assumir o controle e fazer a história. Somente aí poderemos pensar numa totalidade e numa educação não fragmentada.