Formação de professores do Ensino Médio, Etapa I - Caderno II: O jovem como sujeito do ensino médio.

Formação de professores do Ensino Médio, Etapa I - Caderno II: O jovem como sujeito do ensino médio.
COLÉGIO ESTADUAL NEREU PERONDI – EFM AMPÉRE/PR – NRE: FRANCISCO BELTRÃO
Orientadora de Estudo: Leda Sponchiado Borsatti
Cursistas:Camila Franco; Cleusa dos Santos Franco; Eliane Terezinha Bortolini Tadiotto; Ivanilde Maria Gustmann; Izolina Bernadete Telles Ferreira;Nedi Teresinha Gubert Teo; Sonia Maria Geitenes; Tamara Cristina de Oliveira Marchiori; Zuleica Maria Gnoato
      
É corriqueiro encontrar queixas sobre como o cotidiano escolar é tumultuado por problemas provocados pelos jovens estudantes. A indisciplina costuma ser o principal problema apontado. Ela se manifesta na crítica à “falta de respeito” com os professores, nas relações agressivas entre os próprios jovens, na agressão verbal e física, na “irresponsabilidade” diante dos compromissos escolares e na “dispersão” devido ao uso de celulares ou outros aparelhos eletrônicos, mesmo na sala de aula.
Nas aproximações que fazemos dos jovens estudantes por meio de pesquisas e mesmo em conversas informais, também ouvimos constantes reclamações em relação à escola e aos seus professores.  O cotidiano escolar é relatado como sendo denso. Jovens parecem dizer que os professores pouco acrescentariam à sua formação. A escola é percebida como “obrigação” necessária, tendo em vista a necessidade dos diplomas. Aqui, a noção de “culpa” se inverte. O professor aparece como o culpado pelas mazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolar. Tem se tornado comum também que governos e “especialistas” em educação enxergarem no professor a origem da crise de qualidade e do “desempenho da escola”.
Desta forma, as políticas de responsabilização do professor tem o mesmo sentido daquilo que chamamos de “jogo de culpados” e só revelam uma das faces da crise da escola na sua relação com a juventude. “problema” não se reduz nem apenas aos jovens nem apenas à escola e aos seus professores.
É fundamental superar a nossa tendência em achar “o culpado” de um relacionamento problemático. Não podemos esquecer que a instituição escolar e os atores que lhe dão vida - professores, alunos, gestores, funcionários, familiares, entre outros - são parte integrante da sociedade e expressam de alguma forma os problemas e desafios sociais mais amplos.
Eles se apropriam do social e reelaboram práticas, valores, normas e visões de mundo a partir de uma representação dos seus interesses e necessidades; interpretam e dão sentido ao seu mundo. É nesta direção que não podemos trabalhar com a noção de que existe “uma juventude”, pois são muitas as formas de ser e de se experimentar o tempo de juventude.
É uma tendência na escola de não considerar o jovem como interlocutor válido na hora da tomada de decisões importantes para a instituição. Muitas vezes, ele não é chamado para emitir opiniões e interferir até mesmo nas questões que lhe dizem respeito diretamente.  O jovem é aquele que ainda não se chegou a ser. Nega-se assim o presente vivido. Desta forma, é preciso dizer que o jovem não é um pré-adulto. Pensar assim é destituí-lo de sua identidade no presente em função da imagem que projetamos para ele no futuro.
Uma primeira preocupação é não reduzirmos a nossa compreensão da juventude a uma definição etária ou a uma idade cronológica. Compreender os jovens apenas pelo fator idade, contudo, seria simplificar uma realidade complexa que envolve elementos relacionados ao simbólico, ao cultural e aos condicionantes econômicos e sociais que estruturam as sociedades.
Podemos afirmar que a juventude é uma categoria socialmente produzida. Temos de levar em conta que as representações sobre a juventude, os sentidos que se atribuem a esta fase da vida, a posição social dos jovens e o tratamento que lhes é dado pela sociedade ganham contornos particulares em contextos históricos, sociais e culturais distintos. A juventude constitui um momento determinado, mas não se reduz a uma passagem. Ela assume uma importância em si mesma como um momento de exercício de inserção social. Nela, o indivíduo vai se descobrindo, descortinando as possibilidades em todas as instâncias da vida social, desde a dimensão afetiva até a profissional. Esta categoria ganha contornos próprios em contextos históricos, sociais e culturais distintos.
Partimos da óbvia constatação de que esses jovens com os quais nos relacionamos diariamente em nossas escolas têm coisas a aprender, contudo, apostamos em nossa capacidade de aprender com eles a experiência de viver de forma inovadora, criativa e solidária o tempo de juventude. Os jovens sujeitos do Ensino Médio nos trazem cotidianamente desafios para o aprimoramento de nosso ofício de educar. As identidades juvenis se constituem em espaços-tempos de sociabilidades e práticas coletivas, colocam em jogo interesses em comum que dão sentido ao “estar junto” e ao “ser parte” dos grupos também constitui o “nós” que se diferencia dos “outros”. Nos territórios usados pelas coletividades juvenis se elaboram espaços de autonomia que permitem transformar os espaços previamente concebidos.
A escola e seus educadores têm o desafio de compreender o “ser jovem” no contexto das transformações sociais contemporâneas e da multiplicidade de caminhos existentes para a vivência do tempo de juventude. Há muitos modos de vivê-la e as nossas representações sobre os jovens interferem em nossos relacionamentos com eles e elas. Um dos enganos mais comuns é tomarmos a nossa própria experiência para estabelecer quadros comparativos com os “jovens de hoje”.
São os que vivem a juventude, hoje, que sabem e sentem o que é ser jovem.  Os jovens revelam sinais de identidades que remetem ao sensível, ao corpóreo, à expressividade cultural e estética e às sociabilidades que se originam no exterior da instituição escolar. Até aqui, buscamos problematizar as múltiplas dimensões que integram as identidades juvenis. Mas nesta fase da vida, além da tendência do jovem em se defrontar com a pergunta “quem sou eu?”, é muito comum também indagarem: “para onde vou?”; “qual rumo devo dar à minha vida?” Questões cruciais que remetem à ideia de projeto de vida, um tema muito importante a ser considerado na relação da juventude com a escola.