Faetec adota o ensino médio integrado (Rio de Janeiro)

Por Gabriel Coelho - gabriel.coelho@folhadirigida.com.br

 Imprensa Oficial do Estado do Rio de JaneiroEm janeiro, o professor Celso Pansera reassumiu a presidência da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) com o intuito principal de dar continuidade ao processo de expansão da oferta de educação profissional no estado, além de reestruturar e modernizar unidades.

No entanto, a maior novidade para esse ano é a adoção do ensino médio integrado. A intenção é tornar a formação de mão de obra técnica menos desgastante para os alunos. A decisão foi tomada após debates internos da instituição iniciados em janeiro de 2011. Em 2013, o modelo será implantado em todas as unidades. “Trata-se de uma das mais importantes decisões dos últimos tempos para a rede”, salientou.

Sobre a expansão da rede Faetec, o presidente falou das negociações que estão em curso com prefeitos de diversas cidades do Estado do Rio. Volta Redonda e Petrópolis, por exemplo, receberão dois grandes complexos de ensino médio integrado. Outra ação destacada por Celso Pansera foi a transformação dos Institutos Superiores de Tecnologia em Faculdades de Educação Tecnológica do Estado do Rio de Janeiro (Faeterjs), para modernização da proposta de formação de nível superior na área de Tecnologia. “Existia, antigamente, o Instituto Superior de Tecnologia (IST). A Faeterj traz um ensino um pouco mais voltado para o 3º grau que o IST. É a formação de grau tecnológico”, salientou o presidente da Faetec.

FOLHA DIRIGIDA - Quais são os seus planos para 2013 na Faetec, agora que o senhor está reassumindo a rede?
Celso Pansera - Vamos dar sequência ao projeto de expansão e continuaremos reformando e modernizando a rede. As unidades da Faetec foram criadas a partir de escolas que já existiam e algumas têm mais de 100 anos. Por isso, há unidades que precisam de reformas para que possamos manter a qualidade do ensino. Temos escolas que, antes de serem da rede Faetec, eram indústrias, matadouros, entre outras estruturas que não foram criadas para o ensino. A acessibilidade para deficientes é dificultada caso não seja feita alguma intervenção, por exemplo. A Faetec tem feito um investimento muito pesado nessa área de infraestrutura, modernizando os prédios, os equipamentos, os materiais e os laboratórios.

A rede Faetec vai implantar o ensino médio integrado. Como este projeto será colocado em prática?
Essa decisão foi tomada pela direção da Faetec em 2011, no início do ano. Travamos um debate muito grande dentro da rede durante o segundo semestre de 2011 e o primeiro semestre de 2012. Ao longo do segundo semestre do ano passado, fizemos todas as adaptações dos currículos. A maior parte dos concursos que eram de concomitância interna nós passamos para o integrado. Isso significa que a carga-horária contempla o ensino médio e o ensino técnico, mas que, agora, não será no mesmo ritmo que antes. Será menos puxado para o aluno. Essa medida vai evitar, também, a evasão de estudantes dos cursos técnicos. Muitas famílias, sabendo que a Faetec tem um excelente ensino médio, colocavam os seus filhos na rede para que eles se preparassem para o vestibular. Esses estudantes passavam para o ensino superior e abandonavam o ensino técnico. Com isso, formávamos um números de técnicos menor do que o previsto. A decisão de integração do ensino foi estratégica. O Estado precisa de alunos com qualificação técnica e a Faetec tem uma rede que está preparada e está sendo ampliada justamente para isso. Ela tinha que cumprir com o seu papel. Tomamos, então, a decisão de integrar o ensino médio ao ensino técnico. Trata-se de uma das mais importantes decisões dos últimos tempos para a rede. Debatemos muito dentro da rede e ela compreendeu a necessidade. Hoje, no edital do concurso de admissão, está bem claro o aviso para os candidatos e para as famílias: para ter o certificado de conclusão de ensino médio, o aluno deverá concluir o curso técnico. Até porque, se as pessoas analisarem o mercado de trabalho, o ensino técnico garante um bom início de carreira, principalmente para as famílias que não podem custear os estudos de seus filhos até o ensino superior. O aluno termina o ensino técnico, vai para o mercado de trabalho como técnico, passa a receber um rendimento razoável e se prepara financeiramente e materialmente para ingressar no ensino superior. Junto a isso, percebemos que cada vez mais as faculdades e universidades estão com aulas noturnas. Isso é mais um benefício para esses alunos, que podem trabalhar de dia e/ou de tarde e estudar de noite.

Vai existir a priorização do ensino técnico ou do ensino médio, ou vai existir um equilíbrio na hora de ministrar as aulas?
É um ensino integrado. O ensino médio vai continuar com todas as disciplinas obrigatórias, mas algumas adaptações serão feitas. A Matemática, por exemplo, não será aplicada de duas maneiras diferentes para o aluno. Antes, existia a Matemática do ensino médio regular e também a Matemática para a carreira técnica que o aluno estava cursando. Agora será uma Matemática única, de acordo com a carreira para qual o aluno está se formando. São adaptações para que o tempo do aluno seja utilizado de uma maneira eficiente, de forma que ele não fique sobrecarregado. Essa modificação torna mais flexível a questão do estágio também. A carga-horária dos estágios era muito pesada. Muitas vezes, ele era um inibidor da conclusão do ensino técnico. A carga-horária obrigatória era muito pesada e o aluno acabava desistindo. Agora, os estágios obrigatórios reduziram muito e os alunos terão mais práticas nos laboratórios da própria Faetec. Será diferente no início, mas a sociedade vai perceber que é a melhor decisão a ser tomada, inclusive seguindo a recomendação do MEC de se integrar os currículos para que a formatura se torne melhor.

A meta é atingir todas as unidades da rede ou parte dela terá esse novo modelo?
Chegaremos a todas as unidades. Ficaremos com poucas vagas para ensino médio com concomitância interna. Apostamos muito no pós-médio. Em 2007, a Faetec oferecia algo em torno de mil vagas para pós-médio. Hoje, oferecemos seis mil vagas. Apostamos pesado nisso porque é uma forma, também, de nós pegarmos quem já está no mercado. Os jovens podem seguir a sua formação do ensino médio e os profissionais podem se qualificar.

E a expansão da rede Faetec? Como está sendo planejada?
Existem muitos movimentos para isso. Abriremos, neste ano, um complexo muito grande em Volta Redonda. Estamos conversando com a prefeitura de lá sobre o que vamos trabalhar nesse complexo, mas é certo que teremos ensino médio integrado, qualificação e cursos superiores de tecnologia. Em Petrópolis, teremos ensino médio integrado. Estamos negociando com a prefeitura de Pádua a cessão de um terreno a construção de um complexo que vai ter qualificação subsequente e ensino superior. Teremos um CVT em Macaé, temos planos de uma unidade em Seropédica, temos obra em Silva Jardim, inauguraremos uma unidade em São Gonçalo em março ou em abril, vamos reabrir o curso superior de Campos, entre outras ações. Existe um conjunto de ações que inclui Itaperuna, Bom Jesus de Itabapoana, São João da Barra e cidades do Sul Fluminense. São planos de ampliação e de construção de novas unidades. Nosso foco é o CVT porque ele contempla a qualificação profissional, o subsequente e, em algumas unidades, o ensino superior. Em alguns lugares, não existe espaço para um CVT. Neles, colocaremos Ceteps. É o caso de algumas comunidade pacificadas e de cidades do interior, onde existe uma demanda mais intensa.

Em relação à parte pedagógica, quais as principais novidades da rede Faetec?
Nossos alunos farão o Saerj em 2013 a partir deste ano. Queremos ter o mesmo nível de medição que a educação pública tem. É uma forma de compararmos o ensino da rede com o de outras instituições. Hoje, temos uma prova interna, mas queremos mais dados. Observamos o desempenho no Enem também. Temos uma atenção muito grande em relação a isso. Mas a grande modificação pedagógica foi tornar o nosso currículo mais focado para a formação para o mercado de trabalho. Continuaremos com o currículo básico obrigatório do MEC, mas não podemos deixar de nos adaptarmos à realidade. A Faetec não é uma rede para formar vestibulandos, e sim para formar técnicos.

Foram quais as mudanças no currículo de ensino da rede?
Foram mudanças para deixar os alunos menos sobrecarregados. Antes, eles tinham que fazer, por exemplo, Matemática do ensino médio e a Matemática do curso dele. A mesma coisa acontecia com outras matérias. Tornava-se algo muito cansativo e, em alguns casos, sem sentido. Essas mudanças deixarão o aluno em uma situação mais confortável, ainda mais porque estamos avançando muito nas melhorias das estruturas da rede. Os laboratórios receberam e continuarão a receber muitos investimentos. No ano que vem, estamos nos preparando para que o ambiente pedagógico comece a utilizar as novas mídias e as novas tecnologias disponíveis no mercado. Teremos escolas com um nível de aplicação de tecnologia que não será encontrada em outras escolas da rede municipal.

No ano passado, a Faetec inaugurou as Faeterjs. Qual a proposta de ensino dessas instituições?
A Faetec tem a obrigação da formação técnica. Temos três níveis de ensino: a qualificação, que recebe estudantes com o ensino fundamental completo e que compõe 43% do mercado de trabalho; o técnico, que compõe 6%; e as carreiras típicas, que compõe de 5% a 6%. As Faeterjs vão cobrir exatamente esta última demanda. Aquele profissional que se formou técnico poderá dar mais um passo na sua formação. É uma complementação da formação do aluno. O mercado exige e, às vezes, trata-se até mesmo de uma satisfação pessoal, fazer um ensino superior. Por que esse profissional precisa mudar de área após terminar o ensino técnico? Ele pode dar sequência aos seus conhecimentos. Essa é a ideia: ser um processo complementar. Isso tudo é feito estrategicamente. Formamos o mercado de trabalho do Rio de Janeiro de maneira pensada. Por isso somos referência no país. Em São Paulo existe uma grande rede de formação técnica de nível superior, que é a Paula Souza, mas eles quase não possuem ensino de qualificação. Existia, antigamente, o Instituto Superior de Tecnologia (IST). A Faeterj traz um ensino um pouco mais voltado para o 3º grau que o IST. É a formação de grau tecnológico. Percebemos que a Faetec possui mobilidade para oferecer os cursos tecnólogos. Não é algo caro para a instituição porque temos CVTs bem estruturados, escolas técnicas de ótima qualidade. Não existe muito custo para isso, mas é preciso ser algo planejado, com base em estudos do campo de trabalho.

A Faetec possui um ensino médio regular que é considerado um dos melhores do Estado. O que tem sido fundamental para a rede alcançar este resultado?
O corpo docente é muito bom, muito qualificado. O fato do exame de ingresso ser bastante rígido acaba por selecionar alunos que são aplicados e interessados no ensino. A nossa estrutura é muito superior à das escolas públicas e não perde em nada para as particulares. Isso tudo ajuda a explicar a qualidade do nosso ensino. Não é investimento em apenas uma ponta da educação. O total é muito forte. A gestão mais eficiente da Seeduc desde de 2009 também está trazendo resultados, uma vez que o trabalho está mais intensivo. Como consequência, vemos a melhora do Ideb do Rio de Janeiro. Mas, se fosse para apontar a característica mais importante, destacaria o fato do nosso processo seletivo ser bastante rigoroso, com muita cobrança de assuntos da área de exatas. Isso traz para a instituição os melhores alunos.

A mudança para o ensino médio integrado pode trazer alguma alteração nos resultados da instituição nos vestibulares? Vocês acreditam que o desempenho continuará sendo muito bom?
Se nós notarmos qualquer queda na qualidade do ensino, e um dos indícios é justamente o desempenho nos vestibulares, nós iremos agir rápido, com toda certeza. Mas é preciso explicar também que o nosso aluno tem muita aula de reforço. No primeiro semestre de cada estudante, o trabalho de nivelamento é severo. Por isso, a queda de qualidade do ensino da instituição é improvável. Porém, é necessário salientar que o nosso objetivo é formação de mão de obra técnica. É algo que se tornou o nosso foco. Na Alemanha isso é realidade. O aluno interessado em se formar técnico vai à escola duas vezes por semana e passa outros três dias nas fábricas. As provas de seleção são para ingresso nas fábricas, não para ingresso nas escolas. O colégio de lá dá o suporte para aprender a técnica. Para nós, a formação do aluno é importante, mas queremos colocá-lo no mercado de trabalho. Passar no vestibular é uma consequência da seriedade da instituição, mas nosso objetivo é o mercado. Temos parceria com 300 empresas para que os alunos estagiem nesses locais. Na grande maioria das vezes, o aluno começa o estágio, passa por todo o aprendizado prático nessa empresa e, ao encerrar o estágio, é efetivado. A Faetec é muito bem vista pelo mercado de trabalho. O nosso índice de empregabilidade é elevado. Na qualificação profissional, temos um índice de 80%, 90% de empregabilidade. Estamos montando, em conjunto com a Fundação Getúlio Vargas, um sistema para acompanhar o aluno. A partir do ano que vem, o certificado emitido pela Faetec vai ter um código de barra e um número de série. A informação sobre o desempenho desse aluno vai para o nosso site. As empresas poderão acompanhar o histórico dos alunos, o que será uma segurança para a empresa, que saberá mais informações sobre o estudante, e para os alunos, que terão a certeza que, caso estejam desempenhando um bom papel, eles estarão sendo vistos. Para a Faetec, será uma quantidade de informações maior sobre a questão do ingresso de estudantes no mercado de trabalho. Será uma das grandes novidades de 2014 para a Faetec.

Algumas unidades da Faetec são centenárias. Esse ano será o centenário de formação da primeira turma da Escola de Artes Martins Pena. Quais as atividades precistas para comemorar a data?
A Martins Pena é um dos maiores orgulhos da rede Faetec. Possui um história belíssima e é uma das unidades que têm mais de 100 anos. Essa escola de teatro já formou Procópio Ferreira, Joana Fomm, Jayme Periard, entre outros grandes nomes. Nós teremos atividades durante todo ano, homenageando pessoas que tiveram alguma ligação com a Martins Pena, com peças de teatro e apresentações.

Qual a importância dessa unidade para a Faetec?
A importância é de operar em uma área em que poucas pessoas se lembram que a Faetec está presente. Existe demanda também para ela. É uma escola que trabalha com a criatividade, que é algo que sempre destacamos como fundamental para a sociedade. É preciso se expressar. É necessário instigar a mente, e nada melhor do que utilizar a arte para isso. Nós não formamos apenas operários. Formamos pessoas. Do gerente ao artista.