'As escolas deveriam ser oficinas de conhecimento'

A escola precisa mudar. E a grande mudança que deve ser feita é a da própria concepção de aprendizagem que ela difunde no dia a dia de suas práticas. A afirmação é do professor de psicologia da educação na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Fernando Becker. O especialista é um crítico mordaz da ideia de compreensão por repetição e da construção de conhecimento por uma via unilateral – que despreza o valor do aluno e considera apenas o repasse de informações pelo professor –, ambas realidades bastante presentes na didática de educadores brasileiros. “Repetir sim, mas o que se compreendeu, não repetir para compreender”, fala.

Confira trechos da entrevista que pode ser acessada na íntegra através do site: http://porvir.org/porpensar/as-escolas-deveriam-ser-oficinas-de-conhecimento/20131022

 

Qual sua avaliação sobre a situação das escolas atualmente?As escolas precisam trabalhar de maneira diferente da que trabalham hoje. Qual é o modelo, em geral, que elas usam? Aquele em que o professor expõe o conteúdo, o aluno então o copia e passa a repeti-lo. As escolas acreditam que quando o aluno copia e repete, ele aprende.  Elas  precisam mudar isso, as escolas devem mirar uma didática em que o aluno saia da condição de copista e repetidor e se transforme em ator e protagonista.

Mas o que faz as escolas ainda focarem nesse modelo?
Elas ainda estão centradas em trabalhar a acumulação de conteúdos. E isso, efetivamente, não faz mais sentido. Porque os conteúdos hoje são tantos e tão variados. Com a internet, as possibilidades de informação são infinitas. Em resumo, a escola deveria mirar a formação de capacidades, competências e estruturas cognitivas e não simplesmente a acumulação de conteúdos.

Que capacidades e competências seriam essas?
No fundo, são capacidades lógicas. Quando lemos um texto é preciso que a gente consiga capturar a estrutura desse texto, saber o que ele propõe, qual sua ideia central, quais são seus pontos secundários e quais são as conclusões principais e acessórias. Esses são alguns exemplos de capacidades que devem ser trabalhadas nas escolas. Mas infelizmente elas não são. Basta ver o número de analfabetos funcionais que possuímos. Até na pós-graduação percebemos algumas deficiências em alunos do mestrado, por exemplo. Precisamos trabalhar sob o ponto de vista lógico e difundirmos mais o conhecimento matemático. Nossos alunos precisam desenvolver suas capacidades de organizar o mundo e de saber relacionar os fatos ao seu cotidiano. Além disso, outra capacidade extremamente importante é a escuta. Ouvir alguém e não simplesmente negá-lo, mas aprender sobre o que o outro disse, sintetizando o seu pensamento e utilizando ao seu favor.

 

 

 

 

 

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