Escola para que?
A ciência torna o homem liberto das amarras da ignorância. Essa foi a promessa que o século XVII e XVIII deixaram para a cultura ocidental. Após a Idade Média, encarada por alguns como período de trevas, devido ao pouco avanço do conhecimento – tese já discutida e questionada por historiadores, a ciência moderna, com o método empírico, foi se constituindo como alternativa cultural, tecnológica e econômica para superar o “atraso” que se passava na sociedade europeia.
Os movimentos culturais do Renascimento e do Iluminismo colaboraram com a promessa de que a ciência tornaria o homem melhor. Kant, autor célebre do Iluminismo, dizia que o conhecimento tiraria o homem da sua minoridade intelectual. É muito provável que ele não estava se referindo apenas ao conhecimento estritamente científico – entendendo-se científico como conhecimento restrito aos resultados do método experimental. Kant, referia-se ao conhecimento também filosófico, à experiência estética, ao conhecimento religioso e ético como formas do homem alcançar sua autonomia.
Nosso histórico escolar, entretanto, ao longo dos anos, contraiu para si uma responsabilidade, talvez pouco refletida: o domínio dos conteúdos científicos e a transmissão dos mesmos, para uma classe de pessoas que, selecionadas até mesmo mediante legislação, teriam acesso à ciência e, tão logo, ao domínio político e econômico da sociedade.
Estamos vivendo ainda, no interior de nossas salas de aula com a ideia, pouco discutida entre os pares de profissionais da educação fundamental, de que a ciência transmitida de cima para baixo, sem perguntar para quem, de onde, por que e como, vai poder contribuir para a autonomia do aluno. Simplesmente repassa-se conteúdos para uma massa de alunos – agora amparados pela universalidade – sem que tanto os alunos, quanto os professores e os próprios conteúdos, estejam ligados por algum compromisso que não seja apenas o da transmissão fria, sem significado. Paulo Freire chamava essa prática de educação bancária. Ao que completamos: sem muito lucro para nenhum dos lados.
Facilmente compreensível se tornam então as afirmações propagada aos quatro ventos – confirmadas por números até - de que o aluno não aprende e não se interessa. Poderíamos dizer também, e porque não, do pouco interesse dos professores de um modo geral, um desânimo ou desalento, com relação ao trabalho nas salas. Fácil concluir que o aluno ao aprende e o professor não ensina.
Sem entrar no mérito das questões estruturais e desmandos políticos que inevitavelmente concorrem consubstancialmente para o descaso, entendemos, através das leituras do material disponibilizado no curso do Pacto, que precisamos urgentemente de uma reestruturação na mentalidade relacionada ao processo de ensino e aprendizagem, nos pressupostos e princípios fundantes da tarefa de educar. Mudar a visão sobre o aluno e o papel dos educadores, sobre os conteúdos e metodologias.
Uma seleção mais democrática de conteúdos, mais arraigada na realidade da comunidade escolar, com reflexos na prática cidadã de alunos e professores, nos parece ser urgente.
Como fazer isso? Apenas um curso não basta. Mudar mentalidades demanda tempo e coragem. Desconstruir visões de mundos é tarefa árdua e nem sempre grata. Ainda que, no tempo, se mostre imprescindível.
Sim. Carecemos de formação, de formação continuada. É preciso rever a formação nas áreas de licenciatura. Repensar horários, quantidade de aulas, horas atividades, alunos por turma, laboratórios, o uso de tecnologias, dentre outras medidas de ordem material e formativa a curto, médio e longo prazo. Carecemos de orientação pedagógica consistente nas escolas. Coragem de mudar padrões. Confundir nossa zona de conforto. Conhecer quem somos e quem são nossos alunos.
Enquanto parte dos professores continuam a persistir na mesma tecla com uma avaliação excludente, o estudante vem buscando outras formas de aprendizagem e consequentemente menosprezando a escola, colocando em cheque as habilidades dos professores, pedagogos e gestores. Entendemos que é demasiadamente desgastante organizar-se para uma aula mais dinâmica, portanto a equipe diretiva vem propondo atividades de complementação curricular muito rebatida por grande parte dos docentes, que geralmente costumam justificar-se que não darão conta dos conteúdos. Esse formalismo escolar tornou-se um campo de disputa entre Equipe Pedagógica/Direção e Docentes, faltando ai a compreensão que quanto mais próximo eticamente o professor estiver ligado ao estudante, ele buscará sozinho as alternativas de aprendizagem. É preciso fornecer “combustível”, ou seja um conjunto de conhecimentos e saberes científicos éticos e estéticos dentro da cultura escolar, das práticas já vivenciadas e consolidadas que deverão estar articuladas ao contexto sócio-histórico-cultural complementando assim o currículo, despertando o gosto pelos estudos, sem criar situações conflitantes ou barreiras onde cada sujeito pensa e age, e é dentro dessa diversidade que ocorre o crescimento e a aprendizagem, caracterizando fortemente o conceito de formação humana integral organizado dentro da perspectiva da integração entre ensino, trabalho, ciência , tecnologia e cultura.
Para alguns, talvez um retrocesso... o abandono da qualidade... um “vale tudo”... a descrença. Para outros, cumprir com uma função social: a escola como instrumento de transformação social. Os conteúdos e metodologias com integração na vida da comunidade. Um desafio sim. Inevitável.
AUTORES - Professores(as) do Colégio Estadual Padre Cláudio MOrelli - Curitiba/PR
ANA DULCE AMARAL ROSA
CÁTIA DE FÁTIMA MATYAK
DENISE MARIA DALARMI
ELIZANGELA CRISTINA BOZZA
ELSON DIAS DE FRANCA
FABIANO FELIPE CORREA SALLES
FRANCIELY DE OLIVEIRA PEREIRA
GILBERTO HARDER
KARYN ROSANE DE OLIVEIRA GABARDO
LEZIR PELLANDA HOLATEN
LUCIANO EZEQUIEL KAMINSKI
MARIA ELIANE ANTONIUK BONATO
PAULA IRENE DOS SANTOS
PAULO ROBERTO FRICK
ROSEMERI ELIDIO PELLOZI GAI
STELLA MARIS GABARDO DOS SANTOS
SIMONE CRISTINA INCOTE
THEO DE SOUZA NASCIMENTO
- Logue-se para poder enviar comentários