Escola e aluno na construção do novo contexto escolar
CADERNO II – O JOVEM COMO SUJEITO DO ENSINO MÉDIO
Escola e aluno na construção do novo contexto escolar
A construção da noção de juventude passa por um viés tênue, o que requer atenção. Para que essa definição seja pontual é preciso partir de um ponto de vista capaz de reconhecer as representações produzidas sobre os jovens., ou seja, reconhecer seu mundo, suas expectativas, suas necessidades. Existe uma tendência de ver o lado negativo da juventude, não se leva em conta o presente vivido e projeta-se para ele uma imagem no futuro, nem sempre positiva.
É preciso considerar, para que esse contexto não tome uma proporção indesejada, que os índices de violência alarmantes, principalmente os homicídios, o tráfico e o consumo de álcool e drogas, e muitos dos problemas que consideramos ser da juventude não foram produzidos pelos jovens; esses já existiam antes mesmo de o indivíduo chegar a tal faixa etária. É preciso cuidar para que o jovem não se transforme num problema para a sociedade, pois se essa mentalidade persistir, não será possível encontrar solução para os desafios que hoje estão enraigados no contexto social.
Juventude não é apenas uma questão cronológica, pois muda de cultura para cultura. Compreende-se Juventude como "uma categoria socialmente produzida". Dessa maneira pode-se diferenciar a juventude pelo seu caráter universal através de transformações do indivíduo numa determinada faixa etária e pelas construções históricas relacionadas de acordo com ciclo de vida, no qual está inserido, mas vale ressaltar que o sujeito, apesar do amadurecimento, permanecem na juventude por muito tempo, já que se descobre jovem quando consegue sua inserção social, da dimensão afetiva à profissional, seguindo suas características culturais.
No que diz respeito à formação acadêmica, o jovem da camada popular não conclui sua formação devido à necessidade de buscar pela sobrevivência e também pela conquista de sua autonomia familiar, funcionando como uma forma de se afirmar como cidadão. Com isso, esses jovens perdem a oportunidade de reflexão a respeito de seus projetos de vida, de conhecer a si mesmo, de conhecer a realidade, a fim de planejar ações futuras, fugindo do imaginário.
A participação nas atividades sociais é uma questão importante na fase de formação de jovens. É uma experiência educativa e formativa e que traz uma vivência de valores como os da solidariedade, da democracia, do respeito, da percepção e reconhecimento do outro e suas diferenças, podendo propiciar habilidades discursivas, de convivência e respeito à liderança. Todo esse aprendizado pode ser aprendido na participação do jovem em grupos esportivos, culturais, religiosos, sociais em em ONGs, associações comunitárias, movimentos estudantis, e todo grupo que puder aumentar o estímulo para novas aprendizagens, melhorar a escrita e argumentação. Assim, grupos de jovens e escola andam juntos na formação das futuras gerações, e isso só é capaz, quando a relação, escola e aluno, se fizer de maneira positiva, permitindo, principalmente ao aluno o prazer de interação, fica então a necessidade de trabalhos coerentes com a realidade para que nele seja despertado a afinidade.
Portanto, cabe aos professores, estimular os alunos a aprender, e apreender, acabando com o conformismo, com a insatisfação, criando expectativas e o desejo de querer mais. Para isso, faz-se necessário repensar a prática pedagógica, estimulando o jovem a conhecer suas potencialidades. Os jovens da atualidade tem cada vez mais dificuldade em se adaptar a atual configuração escolar, de quadro negro, filas de alunos, carteira do professor na frente. Essa dificuldade deve-se ao desinteresse do jovem para com o mundo escolar.
A escola tal qual concebemos hoje é um produto de uma construção que se cristalizou ao longo da história. Todavia, esse modelo que ainda perdura não comporta o perfil do aluno que temos hoje. Mediante a isso, instaura-se o conflito entre escola concebida hoje e aquela historicamente constituída. Logo, não cabe somente à instituição escolar a responsabilidade sobre esses conflitos, já que decorrem de transformação muito mais profundas. No Brasil, tais transformações apresentam um caráter mais complexo. A Expansão da escolarização básica trouxe para o interior das escolas um público que que é fruto de um contexto de grande desigualdade social que trazem consigo experiência dessa condição. Apesar disso, há possibilidade de mediar tais conflitos a fim de se ter um crescimento relacional, se bem explorados.
Alguns desafios são percebidos dentro da relação trabalho e escola. A maioria dos alunos buscam a sua inserção no mercado de trabalho pela necessidade de auxiliar a família financeiramente, e alguns buscam ingresso por meio de estágios e cursos de formação. Essas situações vão de encontro com o aprendizado escolar, que deixa de ser prioridade e passa para uma situação secundária e obrigatória, fazendo com que o estudante perca o desejo de aprender e passa a objetivar apenas o diploma. Conhecer esta realidade e agir de maneira a motivar este aluno a se preparar para o mercado de trabalho sem perder a proposta curricular, são os desafios que necessitam de maior reflexão. Há portanto uma necessidade incalculável em reconhecer o território e cabe a escola estar às características de sua territoriedade, cujos espaços são estabelecidas relações por indivíduos e grupos humanos.
Segundo Milton Santos, renomado geógrafo, “o território se define pelo uso que as sociedades e comunidades humanas fazem do espaço”. Numa cidade grande, sempre que podemos observar profundas desigualdades; bairros muito bem estruturados, periferias e favelas. Podemos observar também gigantescas diferenças entre o campo e a cidade. A ocupação dos espaços pelos jovens, a maneira como estes jovens ocupam, como constroem e dão significados aos locais aos quais frequentam, demonstram como os espaços influenciam suas escolhas e seus projetos. Essa ocupação refletem as relações de poder quando defrontadas com as igualdades (econômicas, políticas, sociais e culturais) alimentando assim alguns estigmas de inferioridade.
Essas relações de poder entre territórios, estimulam as migrações. Segundo a ONU, os jovens são os protagonistas dos movimentos populacionais, provocando assim o abandono escolar, seja para se deslocar para trabalhar, ou para acompanhar a família.
Por fim, surge uma sugestão para os professores: trabalharem os saberes destes jovens oriundos dos mais diversos territórios, inserindo estes saberes nas disciplinas curriculares. Trazer para dentro da escola a pluraridade linguística e outras mais que podem e devem ser exploradas., pois a escola é uma parte importante do cotidiano dos alunos, por que além de ter grande importância em seu processo formativo, para muitos ela é o caminho para uma boa inserção profissional. O jovem espera da escola uma valorização de suas experiências e expectativas do futuro, o que pode ser feito através do diálogo, e, através deste, fica perceptível a análise dos alunos frente aos maiores problemas que devem ser superados pelas escolas públicas, tais como, a falta de investimento e as precárias condições de trabalho dos professores, a falta de dinamismo e de criatividade em algumas aulas, além das dificuldades de relacionamento dos jovens com alguns professores.
Os jovens têm uma visão específica sobre a escola. A motivação para os estudos depende de vários fatores, experiências e interesse individual, e é claro da motivação advinda dos pais que por muitas vezes funcionam como instigadores, incentivadores do saber, por outro lado, há aqueles que não tiveram sucesso na área acadêmica, logo não veem a escola uma aliada no processo de construção do saber. Essa visão equivocada, resultado de experiência fracassada, de alguns que permeiam algumas atitudes, resultado de desinteresse.
A tarefa que cabe a escola é construir um vínculo entre a identidade juvenil e a experiência de ser aluno. Segundo pesquisas, os jovens querem que a escola faça sentido para a vida, logo cabe aos professores dar esse sentido, transformando o conteúdo em algo prático para que ele perceba a necessidade de apreender, portanto, o relacionamento interpessoal é a ponte entre os saberes teóricos e práticos, já que o instigador, professor, é quem permitirá ao aluno a compreensão e o processo desses saberes.
Outra fator importantíssimo a ser considerado para que seja efetivado esse relacionamento, essa constução, é o fato de haver distinção entre violência (ato contra a lei), indiscilplina (violação do regimento escolar) e incivilidade (falta de boas maneiras), e, assim, discutir sobre a constituição das regras na escola: a partir do exemplo do "esbarrão", que destaca a hierarquização desse processo, sem espaço para o jovem, visto geralmente como aluno (sem ter o que contribuir) e ainda o modo desigual pelo qual essas regras se aplicam aos alunos. Por fim, discute-se a avaliação, sob o prisma de um ritmo, que remete a uma idealização do jovem e do aluno, apontando para a necessidade de conhecer o jovem real é o público-alvo da educação.
O jovem passa a valorizar a escola segundo sua visão e seu pertencimento ao contexto social, e sua motivação depende das experiencias individuais constantes através da realidade vivida na interação com as pessoas e instituições. Difere bastante a inserção de jovens com condições sociais mais elevadas, em comparação aos de classes menos favorecidas no engajamento escolar, fazendo a diferença na relação com a escola.
Para muitos jovens a escola representa uma obrigação que pais e sociedade impoem. Bem como para outros estudos está relacionado a inserção no mercado de trabalho. E consequentemente traçam planos para o futuro acreditando que a escola os ajudem na mobilidade social. Outros fazem da escola um encontro social com amigos. Por vezes a escola é um abrigo protetor mediante a violência meaçadora da própria vida. A sociedade é uma dimensão na vida juvenil, o que a escola não pode esquecer. Na interação com os demais, produzem valores, hierarquizam relações na construção dos tempos escolares. É essa relação que elegem amigos verdadeiros e duradouros e as interações coletivas juvenis na prática da sociabilidade potencializa o diálogo e as interações sociais entre os indivíduos, tornando a escola um ambiente seguro e agradável ao nosso jovem, assim como a produção coletiva no cotidiano escolar. O processo educativo resgata valores concretos, levando o jovem à percepção da realidade na experiencia de ser aluno, fazendo sentido para a vida cotidiana em sua realidade social. A escola deve estabelecer um diálogo entre os conteúdos curriculares e a realidade vivida por ele no dia a dia e sua aprendizagem.
O professor tem um papel importante e relacionamentos interpessoais significativos. A relação do jovem com a escola é construída por essa mediação. O lugar que ocupa a docência no processo educativo é de suma importância. Além de transmitir conteúdos, aponta valores estabelecidos socialmente. Na sociedade moderna, a escola é a instituição que deve encaminhar as novas gerações para a vida social, através do processo educativo, permitindo o encontro das gerações. Na relação entre professor e aluno está o coração da docência. Sendo assim devemos pensar sobre a qualidade das relações que estabelecemos com a juventude que habita a instituição escolar.
Colégio Estadual São Paulo Apóstolo - Curitiba
Orientador de estudo: Katyuscia Cochek Cotta
Cursistas
Daniela Marques Scarpita
Denise Maria Menon Garcia
Jucimara Bednarz Biehl
Laiane Ady Westphalen
Leonardo Costa de Borba
Luiz Carlos Pupia Filho
Sônia Dutra da Silva Ribeiro
Anderson Marcelo da Silva
Andrea Lenise Fontana
Angela Maria Crupzacki
Cleidimara Pereira dos Santos
Iara Dina Firmann de Araujo
Leonisia Isaura Brandalize Piazzetta
Maria Regina Pereira Gandin
Rosely Mehl Amâncio Garbuio
Simone do Rocio Santos
Simone Herrera Natal
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