A história mostra que no Brasil, o ensino médio, ou seus equivalentes nas diversas etapas pelas quais passou o sistema de ensino brasileiro, serviu acima de tudo como uma ferramenta de segregação social, privilegiando uma classe mais abastada em detrimento das populares.
Mesmo com a predominância das instituições públicas no cenário da educacional, cujo objetivo aparente é a democratização do ensino no país, o ensino médio cultivou seu caráter seletista ao passo que as melhores e mais conceituadas entidades do ramo se dedicavam a servir como uma ponte para o ensino superior, cuja formação preparava uma elite social de caráter quase hereditário.
Esse modelo se reforça com a impossibilidade do estado em oferecer a formação superior a todos os cidadãos e nesse contexto o caráter seletivo divide espaço com os ensinos profissionalizantes. Bons cursos dessa última categoria não são ou foram raros, mas são insuficientes para manter uma sociedade em um mundo tecnológico e ansioso por mão de obra altamente especializada.
Por outro lado é importante não distanciar o ensino médio de um dos objetivos principais da escola que é a formação de cidadãos críticos, atuante e conscientes de sua representação social. A formação humana integral tem sido deixada de lado nas salas de aula e substituída pela plenitude da preparação acadêmica. Sabendo que esta necessita de recursos financeiros, humanos e sociais indisponíveis ou sem gestão competente no Estado, fica difícil definir hoje se o ensino médio cumpre alguma função relevante para a sociedade.
Por fim, ainda é preciso enfrentar uma guinada sócio-cultural do público atendido pelo ensino médio, principalmente no setor público. Em uma sociedade consumista e capitalista (e torna-se importante destacar que esses adjetivos não são de cunho depreciativo), cujo imediatismo, a perda dos bons costumes e do respeito ao próximo e a sí mesmo, além da falsa sensação de liberdade confundem-se com a imagem de uma juventude moderna e “descolada”, o desejo da mudança e formatação do ensino médio brasileiro é cada vez mais um desafio.