“Educação como instrumento de controle socioeconômico e dominação social e os desafios para um Ensino Médio melhor.”
Reflexão Caderno I Centro Estadual de Educação Profissional Dr. Brasílio Machado –Antonina-Pr Professores Participantes: Cesar Fernandes de Souza; Cibelle Anne Santos Silva; Edilaine do Pilar Basco;Elenita da Costa Silva; Emaldo Gomes Pinto; John Kennedy Gaspar de Abreu;José Gustavo Pontes;Juliana Pontes Alves de Oliveira;Lélia Valéria Dantas da Fonseca; Luísa Belém de Souza;Marcos Antonio de Oliveira Nascimento;Nelci Terezinha Martins; Sabrina Giovanelli Carvalho; Robison Luíz Marciniaki Karas.
Ao percorrermos as breves linhas históricas sobre a evolução da educação e dos modelos institucionais de ensino apresentados no caderno I, podemos perceber de maneira geral, que embora nos diferentes períodos históricos, a educação sempre cumpriu um papel de controladora social a serviço dos interesses do Estado e das políticas econômicas.
Diversas vezes excludente e elitista, a educação manteve-se sempre distante de sua verdadeira vocação de desenvolvimento humano e produção de conhecimento, permanecendo por décadas em modelos que se pautavam no suprimento de mão-de-obra qualificada (mal qualificada) para o mercado industrial e a formação de profissionais liberais advindos das aristocracias remanescentes do período monárquico.
De tal maneira, o Brasil foi gastando décadas para implantar um sistema educacional que atendesse à demanda cada vez mais crescente e crítica, que aos poucos começou a reivindicar instrução educacional para as classes mais pobres e vulneráveis. Esse processo ganhou corpo com a implantação de novas diretrizes na educação nacional que levaram à construção dos currículos nacionais, mais estabelecimentos de ensino e a organização e distribuição de competências entre os entes federados, mas os problemas continuariam.
Ainda falta efetividade e aproximação entre os documentos que fundamentam a educação nacional e a prática diária nas escolas brasileiras. Nesse contexto, o ensino médio atual mostra-se como resultado de um processo de evolução lento e distorcido da educação no país, com heranças políticas infiltradas de maneira ideológica na maneira de se oferecer a instrução de 2º grau.
Desta forma, aquela que deveria ser um instrumento de transformação social e formação humana acaba sendo utilizada como instrumento de controle social a serviço da economia e escrava do sistema capitalista.
Alguns desafios continuam assombrando o ensino médio e o restante da educação nacional, como as questões relacionadas com a valorização dos profissionais da educação, as barreiras burocráticas entre documentos, leis e teorias e a prática docente, e por fim, mas não menos importante, a corrupção e mau emprego das verbas da educação.
O pacto pelo fortalecimento do ensino médio poderá ser um grande passo para efetivação de uma educação de verdade, mas que só será possível se for feita pelos professores em suas atitudes diárias em sala de aula e lutas políticas para transformação do sistema.
Por isso, a partir desse entendimento histórico, faz-se necessário realizar uma análise do seu local de atuação enquanto docente e agente de transformação social. A partir da análise do Item 2.1 do Caderno de estudos, que trata do perfil do estabelecimento e clientela na qual atuamos, observamos os índices de evasão escolar, distorção série/idade e a situação socioeconômica.
Diante dos resultados apurados, levantamos questionamentos acerca das possíveis causas que levam nosso estabelecimento escolar a essa situação e concluímos que o nível de escolaridade dos pais, a renda familiar mensal, o número de habitantes na mesma casa, idade e histórico de reprovação são fatores que influenciam diretamente no quadro atual do ensino médio local, podendo ser estendido também ao quadro nacional.
Uma vez que os pais não possuem um alto nível de estudo (em nosso município é comum os pais possuírem somente o Fundamental I, muitas vezes incompleto), não dão a devida importância ao estudo, e às vezes deixam de incentivar os filhos a estudarem;
Inúmeras vezes, os alunos se vêem obrigados a colaborar no sustento da casa, fator que contribui diretamente para a desistência, uma vez que a atividade laboral desgasta o aluno deixando-o com menos energia para os estudos. Não são raros os casos de famílias com muitos filhos, fato que força, geralmente o mais velho a co-responsabilizar-se pelos demais, passando por amadurecimento atropelado. Isto tudo, aliado a compromissos diversos, faz com que esse aluno torne-se evadido, pois a escola e os estudos passam a ocupar patamares cada vez mais baixos em sua escala de prioridades de vida;
Infere-se, também, dos dados apurados, que idade e histórico de reprovação são desencadeadores de Buling, e uma vez que o aluno possui essas características sente-se deslocado, e é alvo de brincadeiras que o deixam desconfortável, restando-lhe como alternativa mais imediata para cessar o problema um outro ainda maior: a desistência!
Esses fatores ocasionam a busca por outros modos de conclusão do ensino médio. Muitos procuram na modalidade de EJA essa oportunidade, mas outros, sucumbem diante da tentação de adquirir o documento de conclusão de estudo de forma ilegal.
Para entendermos melhor esses fenômenos sócioeducacionais em nosso local de atuação, estudamos alguns apontamentos estatístico acerca de nosso estabelecimento escolar.
O “Centro Estadual de Educação Profissional Dr. Brasílio Machado” (CEEP) oferta aos alunos a modalidade de Ensino Médio Integrado em dois cursos: o Técnico em Portos e o Técnico em Meio Ambiente. Por ano, ingressam em média 130 alunos nos primeiros anos, distribuídos em três turmas: uma do curso Técnico em Portos e duas do curso Técnico em Meio Ambiente.
A partir de dados levantados pelo “SAEP” e pelo “Censo Escolar”, observa-se que 98% desses alunos são gerados pelas escolas públicas em nossa cidade e da cidade vizinha (que dista ~ 14 km) os outros 2% são oriundos de escolas particulares.
Em sua totalidade, os alunos ingressantes no CEEP, são moradores de áreas urbanas, destes , a maioria vem das classes média baixa e média alta, porém, quase 100% deles têm acesso às tecnologias como, celulares, PCs, tablets, notebooks, etc. Suas famílias vivem com rendas advindas de trabalho assalariado em empresas, órgãos públicos municipais/estaduais, e alguns, pelas rendas ofertadas pelos programas federais.
No aspecto escolar, observamos que a grande maioria dos alunos estão matriculados na série adequada para sua idade, apresentando pequena distorção idade/série. O grande desafio, já há alguns anos, vem sendo o combate a evasão escolar, visto que dos 130 alunos matriculados nos primeiros anos, em média somente 35 alunos concluem o Ensino Médio Integrado.
Os motivos que impulsionam esse fenômeno são variados e pudemos observar alguns, como o fato do curso ter quatro anos frente aos três do Ensino Médio regular, o desespero dos alunos ao se depararem com as disciplinas técnicas e o ritmo "novo"de estudo, diferente daquele que estava habituado no ensino fundamental. Diante desse cenário e já desmotivados, acabam desistindo ou em sua maioria pedindo transferência para colégios que ofertam o ensino médio regular, pois vêm nisso uma oportunidade de conclusão, na visão deles, “antecipada” do Ensino Médio.
Outro motivo relevante atestado é que ao chegar no 3º ano muitos vêem necessidade de ingressar no mercado de trabalho, o que por muitas vezes faz com que o aluno nem chegue a procurar o ensino médio regular noturno, sendo esse fator o maior índice negativo dentro do “Censo Escolar”. Entretanto, educação e trabalho não podem ser conflitantes e sim complementares entre si, como defendido pelo Caderno de orientações pedagógicas para formação de educadoras e educadores, do Programa Escola Ativa do PDE “trabalho e educação não são opositores, mas se integram,dando significado ao ato de trabalhar e de estudar. Sem trabalho não há vida e não há cultura, o trabalho é concebido como condição para a autonomia (econômica e intelectual)”p.18
Diante do que foi exposto, podemos dizer que o maior obstáculo encontrado em nossa instituição é o combate à evasão escolar. Há anos procuramos soluções concretas e satisfatórias para esse problema e nos perguntamos: o que nos falta? Uma metodologia mais atraente e condizente à realidade do aluno? Fazer a reflexão da importância da Educação Técnica? Trabalhar valores, conscientizando aspectos sociais e econômicos da educação em nossa sociedade? Como chegar a universalização do ensino médio?
Outros fatores levam ao aproveitamento deficitário do ensino médio são as faltas, tanto dos alunos quanto de uma parcela de professores, fato extremamente prejudicial para ambos. Não podemos, também, nos furtar de uma autocrítica e reconhecermos que entre nós educadores existem aqueles que figuram como agente desmotivador do educando, pois não são raros os casos no ensino técnico de professores despreparados para tal modalidade, que nem dominam os conteúdos para os quais foram escalados.
Essa deficiência é ocasionada pelo docente, mas também pelo Estado, que não supre como deveria as escolas com o EMI com professores devidamente especializados nas áreas técnicas. Entendemos e reconhecemos a parcela de culpa dos docentes nesse processo e suscitamos a necessidade de contratação através de concursos públicos de profissionais especializados a fim de alcançarmos uma universalização de ensino mais eficiente.
A universalização é o comprometimento do conjunto dos profissionais da área, para interagir, não só no bom desenvolvimento do ensino nas classes, mas também nas atividades extraclasse; e que estas estimulem nosso educando a sentir-se importante no meio social e educacional, promovendo ações através dos esportes, atividades de campo, projetos de integração comunidade-escola e outros.
Diante desse quadro, entendemos que deve haver uma reestruturação nas escolas, no modo de ensinar e nas ações educativas. Temos de pensar o PPP da escola em função da realidade social, mas de maneira efetiva e não teórica, para que esse instrumento de organização e planejamento norteie ações que de fato auxiliem na educação do indivíduo de maneira universal.
A escola pode e deve ajudar no resgate da auto-estima dos alunos conduzindo-os a uma recuperação não só acadêmica, mas ajudando-os a ser resgatados da degradação familiar e social em que vivem, com vistas a uma educação integral. Em nosso dia a dia de educadores, tentamos fazer nossa parte, muitas vezes transmitindo não só o conhecimento científico, mas lidando com situações de conflitos familiares e de convivência social.
Não basta somente distribuir bolsas para amenizar as dificuldades financeiras das classes menos favorecidas, o Estado Brasileiro deve cumprir seu papel moral e constitucional para com a educação do país, e isso passa inevitavelmente pela valorização do profissional da educação e uma nova visão sobre o ensino médio.
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